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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Invasão a quartel na Venezuela expõe fissuras nas Forças Armadas

Rebelião em Valência termina com dois mortos e oito detidos

Tensão nas ruas: Manifestantes montam barricada em Valência, após rebelião em um quartel: governo diz ter sufocado tentativa, mas líder do grupo nega que haja detidos
/ AFP PHOTO / RONALDO SCHEMIDT Foto: RONALDO SCHEMIDT / AFP
Tensão nas ruas: Manifestantes montam barricada em Valência, após rebelião em um quartel: governo diz ter sufocado tentativa, mas líder do grupo nega que haja detidos / AFP PHOTO / RONALDO SCHEMIDT - RONALDO SCHEMIDT / AFP
Uma rebelião fracassada em um quartel na cidade de Valência — que acabou com duas pessoas mortas e oito detidos — colocou em xeque a estabilidade dentro da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) e fez com que o governo do presidente Nicolás Maduro se pronunciasse, acusando a oposição pelo “ataque terrorista”. A invasão aconteceu na madrugada de domingo, quando 20 homens uniformizados e armados, liderados pelo ex-capitão Juan Caguaripano, invadiram o Forte Paramacay, na segunda maior cidade do país, a 160 quilômetros de Caracas.
O assalto à base, a mais importante de blindados do país, foi comandado pelo ex-capitão da Guarda Nacional Juan Caguaripano, foragido desde 2014 e acusado de rebelião e traição. De acordo com fontes militares, Caguaripano conseguiu convencer uma parte da tropa a esvaziar o depósito de armas e tomar algumas zonas da instalação militar. Ele conseguiu fugir do local, com parte das armas e munições.

Rocío San Miguel, especialista em questões militares e diretora da ONG Controle Cidadão, chamou o episódio de um “falso positivo”, que poderá fortalecer o governo. Segundo ela, é provável que o movimento tenha sido detectado dias antes pelo comando das Forças Armadas, que teria deixado prosseguir e se preparado para reagir. Nos últimos meses, vários militares foram detidos pela Contrainteligência Militar venezuelana por estarem envolvidos com supostos planos de insurreição, entre eles alguns generais.

— Chama a atenção que frente a um evento dessa natureza, em um quartel com poder de fogo tão importante, a primeira resposta tenha sido emitida por Cabello e não pelo alto comado militar ou inclusive pelo presidente — destacou Rocío San Miguel ao GLOBO. — Apenas horas depois da invasão, durante a tarde, a FANB e Maduro se pronunciaram. E quem ganha até agora é o próprio governo, que simula ainda mais elementos para reprimir e perseguir tantos militares quanto civis.

Segundo Rocío, as fissuras dentro das Forças Armadas estão cada dia mais expostas:

— A situação dentro das Forças Armadas é muito complexa e o fato cria ainda mais tensões, aliado à incerteza que se tem em relação à Constituinte, assunto delicado na FANB — explicou San Miguel. — Até agora o alto comando continua com Maduro, mas há vários grupos que respondem a interesses econômicos e políticos muito variados.

Dissidentes. Grupo de militares uniformizados e armados que participaram da “Operação David” em Valência - HANDOUT / REUTERS
Para o general aposentado Hebert Garcia Plaza, ex-ministro de Hugo Chávez e de Maduro, os militares se sentem “encurralados”.

— Há muita inquietação, mas eles não podem provocar uma mudança política sem um horizonte claro do que vem depois de Maduro — disse Plaza, exilado em Miami desde que foi acusado de organizar um golpe contra Maduro em 2015, à AP.

OPOSIÇÃO FALA EM CAÇA ÀS BRUXAS

Horas depois do ataque, Diosdado Cabello, número dois do governo, confirmou a rebelião e garantiu que o grupo fora rendido por outros membros das Forças Armadas: “Vários terroristas detidos”, escreveu no Twitter. Mais tarde, Maduro afirmou que as forças de segurança conseguiram render os “agressores terroristas” e culpou a oposição, que reagiu. Júlio Borges, presidente da Assembleia Nacional — considerada em desacato pelo governo — exigiu que Maduro dissesse a verdade sobre o ataque.

— Queremos saber a verdade, não nos venham com histórias da carochinha, não nos venham com uma caça às bruxas, não venham culpar quem quer simplesmente a vigência da democracia na Venezuela — rebateu Borges, durante um encontro com outros opositores e ao lado da ex-procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, destituída no sábado.

  • Henrique Capriles Foto: FEDERICO PARRA / AFP

    Henrique Capriles


    Governador do estado de Miranda e líder do partido Primeiro Justiça. Em abril, a Justiça o proibiu de se candidatar a cargos eletivos por 15 anos. Foi duas vezes candidato presidencial e na última perdeu para Maduro por menos de dois pontos percentuais.
  • Henry Ramos Allup Foto: MARCO BELLO / REUTERS

    Henry Ramos Allup


    Representa o Ação Democrática, um dos partidos mais tradicionais e antigos do país. Foi presidente da Assembleia Nacional até janeiro passado e continua sendo uma das figuras de proa da Mesa de Unidade Democrática.
  • Julio Borges Foto: MARCO BELLO / REUTERS

    Julio Borges


    Presidente da Assembleia Nacional (AN) e figura de peso do Primeiro Justiça. É um político mais moderado, mas nos últimos meses radicalizou discurso e ações. Tem amplos vínculos com a comunidade internacional.
  • Leopoldo Lopez Foto: Fernando Llano / AP

    Leopoldo López


    Fundador e figura principal do Vontade Popular, considerado o partido mais radical da MUD. Foi preso em 2014, obteve o benefício da prisão domiciliar no começo de julho e foi levado novamente para a prisão há dias.
  • Freddy Guevara Foto: MARCO BELLO / REUTERS

    Freddy Guevara.


    É um dos líderes jovens da MUD e vice-presidente da Assembleia Nacional. Pertence ao Vontade Popular e mantém certa rivalidade com López e sua mulher, Lilian Tintori, pelo protagonismo adquirido desde que o líder foi preso.
  • Antonio Ledezma Foto: Fernando Llano / AP

    Antonio Ledezma


    Foi preso em 2015, quando era prefeito de Caracas. Por problemas de saúde, ficou em prisão domiciliar até poucos dias. Foi levado à prisão de militar de Ramo Verde e já voltou para casa.
  • Maria Corina Machado Foto: Ariana Cubillos / AP

    Maria Corina Machado


    Ex-deputada, teve mandato cassado e criou o movimento Venha Venezuela, da ala mais radical. Rechaça negociação com o governo. Está, como os principais líderes opositores, proibida de sair do país.
Os dissidentes que participaram da ação espalharam folhetos durante a madrugada pelas ruas de Valência, reafirmando que estavam em rebelião contra o governo de Maduro. Horas depois do ataque, Caguaripano assegurou que os objetivos da “Operação David” tinham sido “satisfatoriamente atingidos”: “Nosso compromisso é a favor da restituição da ordem constitucional na Venezuela e da saída imediata do regime”.

Caguaripano ainda garantiu que todas as armas do Forte Paramacay haviam sido levadas. “Queremos destacar que temos o respaldo de grande parte de nossa gloriosa Força Armada Nacional. É hora de perder o medo”, escreveu em uma série de tuítes explicando seus objetivos e negando mortes ou detenções. “Não tivemos baixas, ninguém foi capturado, estamos em pé de luta. A operação David ganha vida com força.”

O Ministério de Defesa, por sua vez, informou que invasores foram capturados na “incursão paramilitar”, realizada por “integrantes da extrema-direita venezuelana em conexão com governos estrangeiros”. Uma foto com os detidos, alguns com o rosto machucado, chegou a ser divulgada pelo ministro da Informação, Ernesto Villegas.

Em seu programa dominical, Maduro confirmou as mortes de duas pessoas.

— Dois foram abatidos pelo fogo leal à pátria, um está ferido. Destes dez atacantes que ficaram nas instalações de Paramacay, nove são civis e um é um tenente desertor há meses, que tinha dado baixa — assegurou. — Trata-se de uma operação organizada desde Miami e da Colômbia.





O Globo


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