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quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Muito além do laboratório: famílias ribeirinhas confirmam parâmetros testados em pesquisa sobre produção de pescado


Água aquecida, alimentação fracionada rica em vitaminas naturais, principalmente camu-camu e açaí, aliadas à tecnologia da construção de tanques de madeira adaptados para aproveitar o calor solar. Estes foram alguns dos principais parâmetros testados nos laboratórios da Universidade Federal do Oeste do Pará em Oriximiná, em testes para a criação de pescado em cativeiro, e que alcançaram bons resultados. A pesquisa intitulada “Efeitos da adição do fruto de Myrciaria dubia, o camu-camu, e Euterpe oleracea, o açaí, em dieta hiperproteica no crescimento do Colossoma macropomum submetido a exercício físico em ambiente aquecido” surgiu no âmbito do Programa de Ação Interdisciplinar (PAI), desenvolvido na unidade da Ufopa junto a estudantes de graduação e do ensino médio de Oriximiná, Oeste do Pará, e já foi apresentada na reportagem disponível nesta página: http://www.ufopa.edu.br/divulgacao_cientifica/calor-ajuda-no-desenvolvimento-do-tambaqui-de-cativeiro.

“A espécie Colossoma macropomum, o tambaqui – uma das mais apreciadas pela população amazônica e também de alto valor comercial – desenvolve-se mais e melhor em ambientes com as características descritas acima, que fogem aos padrões de criação do pescado em cativeiro, cujo modelo adotado aqui é trazido de outras regiões do país, em sua maioria de estados do Sul, onde características climáticas são diferentes das locais”, alertou um dos pesquisadores que integram o Grupo de Pesquisa em Fisiologia Ambiental (GPFA), ao qual a pesquisa está ligada, Miguel Canto, que também é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA).

A novidade agora é que os mesmos resultados estão sendo obtidos, não mais em laboratórios, e sim em condições naturais. Seis famílias de ribeirinhos que vivem nas margens dos lagos Acapuzinho, Bacabal e Tarumã, no município de Oriximiná, estão conseguindo economia nos custos com a ração e menos tempo de produção da espécie. Há seis anos, Francisca Gomes da Silva, a simpática Vovó Chiquinha, que vive nas margens do lago Acapuzinho mantém com o marido, Antônio, uma criação de pescado. Depois de contabilizar alguns prejuízos, como a fuga de quase mil unidades com o rompimento do antigo tanque utilizado, agora está confiante com a nova criação. Mas ainda mantém dois tanques: um no qual a criação segue as normas tradicionais e outro com a técnica dos experimentos da universidade. “Essa experiência vem trazendo mais conhecimento e mais experiência para nós. Ver os peixes crescendo a olhos vistos é muito bom. Juntar a nossa experiência com a criação de peixes e os conhecimentos dos pesquisadores está sendo maravilhoso”. Esbanja confiança, mas sem deixar de lado a cautela: “Vamos esperar a despesca para conhecer os resultados, ver se os peixes do tanque da universidade crescem mais, mesmo”.
A primeira despesca está prevista para acontecer em outubro. Até lá os peixes estarão com cerca de 2 a 2,5 kg. Isso significa que cada tanque deve gerar entre R$ 15 mil a R$ 18 mil”. É o que afirma a analista de Relações Comunitárias da MRN, Genilda Cunha. Para ela, existe uma preocupação com a evolução dos projetos desenvolvidos pela MRN em benefício das comunidades. “O objetivo da parceria com a Ufopa é fazer do projeto de Piscicultura um modelo inovador, sustentável, rentável e facilmente assimilado. Essa parceria também permitiu que o projeto servisse à comunidade científica local como oportunidade de produção de conhecimento. E é muito gratificante constatar que o conhecimento produzido já está beneficiando as famílias que participam do projeto. Com as técnicas que estão sendo desenvolvidas pelos pesquisadores – e que envolvem uma nova forma de cuidar e alimentar os peixes – o retorno do investimento é mais rápido, ou seja, o peixe cresce em menos tempo”, conclui.
O professor Domingos Diniz, coordenador geral da pesquisa, confia nos resultados que estão sendo obtidos neste primeiro ciclo de observação dentro de condições naturais. “O peixe cresce dentro das expectativas. Pode-se ganhar na recria cerca de 3 a 4 meses em relação à média nacional, ou seja, o pescado chega na mesa de corte muito antes do que nas criações tradicionais. Além disso, registramos uma economia de 50% dos custos com a ração, que é oferecida de forma fracionada em um período de duas horas. Isso garante maior homogeneidade do grupo, ou seja, mais peixes se alimentam. A superfície de alimentação é muito maior, pelo menos dez metros de tanque para distribuir o alimento”.
Nelson Costa (Ufopa/Oriximiná) também faz parte da equipe de pesquisadores e comemora os resultados. “Com esse fracionamento, nós observamos que os peixes têm consumido o alimento de forma mais eficiente, diminuindo proporcionalmente os gastos com ração. Estamos efetuando os cálculos mais precisos, mas já temos observado uma redução de 15% a 20% nos gastos com ração, ou seja com uma menor quantidade de ração é possível produzir uma maior quantidade de peixe”.
Izabela Rodrigues, 17 anos, concluiu recentemente o ensino médio, porém continua voluntária do projeto e ajuda na realização das análises físico-químicas da água. “Nós analisamos temperatura, PH, oxigênio. Fizemos teste em laboratório, vimos o comportamento dos peixes e agora colocamos para campo”. Depois da participação no projeto, ela reconhece que passou a gostar mais de Biologia. “É uma maneira diferente de ensinar Biologia, diferente daquela que a gente aprende na escola. Foi o projeto que me fez passar a gostar mais dessa disciplina. É empolgante”.
Mayane Carvalho dos Anjos é aluna do 5º semestre do curso de graduação em Ciências Biológicas da Conservação (Ufopa/Oriximiná). Ela contribui com o processo de alimentação nos tanques. “A ração é fracionada e ofertada no período mais quente do dia, entre 16 horas e 18h, é distribuída nas duas extremidades do tanque, que tem 10 metros de comprimento”. Ela também ajuda nos cálculos de consumo de ração. As pesquisas desenvolvidas junto às famílias foram transformadas em seu plano de trabalho de conclusão de curso: “A visão que eu tinha de um trabalho de conclusão de curso era totalmente diferente. Hoje, a experiência no projeto me mostrou outros aspectos de um trabalho desse tipo”.
Os pesquisadores também concordam com outro aspecto: o projeto Peixe Novo objetiva difundir o conceito de sustentabilidade junto a comunidades e junto aos alunos de graduação do Campus de Oriximiná e do ensino médio por meio do Projeto de Ação Interdisciplinar (PAI). “Nesse aspecto os resultados também têm sido positivos”, conclui o professor Domingos Diniz.
O projeto Peixe Novo é voltado para comunidades que já trabalham com a criação de peixe em cativeiro ou que possuem vocação para essa atividade. A análise é feita pela MRN e pela equipe técnica da Ufopa. A equipe do Departamento de Relações Comunitárias  visita comunidades de Oriximiná para identificar mais famílias com perfil adequado ao programa. Para essas famílias a empresa mineradora oferece material para a construção dos tanques, de acordo com a especificação estabelecida pelos pesquisadores da Ufopa. “A MRN também garante a manutenção do acompanhamento técnico, feito pela Ufopa, e que leva suporte e orientação para as famílias. A participação no projeto também demanda compromisso e dedicação por parte das famílias”, conclui Cunha.
“Essa parceria inaugura uma atividade na região que mostra que a instituição pública pode caminhar de mãos dadas com a iniciativa privada de modo a dar respostas para a sociedade”, afirma Diniz.



RG 15/O Impacto e Lenne Santos/Ufopa


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