No Japão, cidades entraram em alerta: pela primeira vez, míssil norte-coreano se mostrou capaz de levar armamento nuclear |
Apesar
de não ser o primeiro lançamento norte-coreano sobre o Japão, acredita-se que
tenha sido o primeiro com capacidade de armamento nuclear. Por isso, é visto
por analistas como a maior provocação de que se tem notícia por parte dos
norte-coreanos, em meio a uma escalada nas tensões regionais.
O
premiê japonês, Shinzo Abe, considerou o episódio uma ameaça "sem
precedentes" ao seu país.
O
míssil, que caiu sobre as águas da costa leste japonesa, é um modelo
Hwasong-12, segundo análises preliminares. Ele já havia sido testado em um
lançamento realizado em maio.
E
por que a Coreia do Norte resolveu dispará-lo neste momento?
Em
primeiro lugar, para demonstrar força e enviar a mensagem de que o regime
norte-coreano não se sente intimidado pelas ameaças americanas, explica o
correspondente da BBC News em Tóquio, Rupert Wingfield-Hayes.
Além
disso, o lançamento desta terça seria uma forma de testar seu míssil em uma
trajetória mais realista, ao mesmo tempo em que coloca as relações EUA-Japão na
berlinda.
"Eles
(Coreia do Norte) querem mostrar que estão seguindo adiante com seu programa de
mísseis e de armas nucleares, sem serem afetados pela pressão
internacional", diz à BBC Doug Paal, do Centro Carnegie Endowment for
International Peace.
Para
Paal, teria sido ainda mais grave se a Coreia tivesse escolhido Guam -
território americano no oceano Pacífico - em vez do Japão como alvo.
"Se
o teste (de mísseis) tivesse sido perto de Guam, colocaria muita pressão para
que (o presidente americano Donald) Trump respondesse", afirmou - Trump
havia dito anteriormente que Pyongyang se veria diante de "fogo e
fúria" se atacasse Guam.
Ainda
assim, muitos já veem o avanço norte-coreano como um sinal de que as opções
diplomáticas estão se esgotando.
Reunião de emergência
Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte: 'País quer mostrar que está seguindo adiante com seu programa de mísseis e de armas nucleares, sem ser afetado pela pressão internacional', diz analista |
Na
ONU, a embaixadora americana Nikki Haley disse que "algo sério tem de
acontecer" em resposta ao lançamento norte-coreano, chamado de
"inaceitável".
O
Conselho de Segurança das Nações Unidas deverá realizar uma reunião de
emergência ainda nesta terça para discutir o caso, e novas sanções contra
Pyongyang podem ser implementadas - lembrando que resolução prévia do órgão
proíbe a Coreia do Norte de desenvolver qualquer tipo de armas nucleares.
Trump
havia dito mais cedo que "todas as opções" estão sendo analisadas,
dando a entender que Washington não descarta uma ação militar na Coreia do
Norte.
O
Pentágono, por sua vez, disse que a diplomacia ainda é a "opção
principal" para os Estados Unidos.
Na
China - a principal aliada de Pyongyang -, o porta-voz da Chancelaria afirmou
que a crise está chegando a um "ponto crítico", que ainda pode abrir
as portas para um diálogo pela paz.
Já
a Coreia do Norte defendeu seu direito de tomar "duras contramedidas"
em resposta ao que chama de "agressão americana", em referência aos
exercícios militares conjuntos realizados por EUA e Coreia do Sul.
'Audacioso'
O
disparo norte-coreano fez com que diversas cidades do norte do Japão entrassem
em alerta, com sirenes e alertas via alto-falante.
Até
agora, os disparos norte-coreanos sobre o país haviam levado apenas supostos
satélites. Nesta terça, porém, o Hwasong-12 foi lançado com capacidade de
carregar armamento nuclear, segundo especialistas.
"É
algo extremamente audacioso, provocativo e proibido sob a lei
internacional", explica à BBC John Park, pesquisador do Grupo de Trabalho
de Coreia na Harvard Kennedy School.
O
ex-embaixador americano na Ásia Christopher R Hill, ex-negociador com a Coreia
do Norte, afirmou pelo Twitter que foi o "mais sério lançamento de
míssil" já realizado por Pyongyang.
É
também a primeira vez que se realiza um disparo do posto de Sunan, perto de
Pyongyang - local usado pela primeira vez, o que significa que a Coreia do
Norte pode estar expandindo seus pontos de lançamento ou que poderia estar
tentando despistar observadores internacionais.
Analistas
acreditam que o programa nuclear e armamentista norte-coreano está avançando a
um ritmo alarmante.
"O
país está conduzindo testes de mísseis de alcance intermediário ou
intercontinental a cada quatro a seis semanas", acrescenta Park.
"Isso é preocupante sob qualquer perspectiva, sobretudo para um país que
geralmente é subestimado quanto a suas capacidades."
BBC Brasil
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