Familiares denunciam negligência da polícia.
Delegado rebate acusações e investiga causas da morte do comerciante de 40
anos, que sofria de hipertensão.
O comerciante Francisco Edinei Lima
Silva, de 40 anos, morreu na segunda-feira (9), após ficar preso por cerca de 18
horas em uma jaula a céu aberto nos fundos de uma delegacia da Polícia Civil,
em Barra do Corda, Maranhão. O local não tem banheiro, teto, nem água encanada.
Silva foi
detido na tarde de domingo (8) depois de dirigir embriagado e se envolver em um
acidente de trânsito. Os familiares da vítima alegam que houve negligência da
polícia, pois o comerciante sofria de hipertensão, mas não teria recebido o
atendimento adequado.
O acidente
ocorreu por volta das 11h de domingo, na BR-226, que passa por Barra do Corda.
O carro que Silva dirigia bateu de frente com uma moto. O motociclista,
identificado como Gustavo, foi socorrido e levado para o hospital de Presidente
Dutra (MA).
O comerciante,
por sua vez, foi encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de
Barra do Corda e liberado em seguida. Ele foi levado pelos policiais e deu
entrada na jaula por volta das 14h de domingo. A família conta que o
comerciante ficou dentro da jaula com mais dois presos, sem assistência médica,
embora tenha se queixado de dores de cabeça e mal-estar.
Os familiares
afirmam, ainda, que a polícia sabia que Silva sofria de hipertensão e fazia uso
de medicamento controlado, mas alegam que a vítima só foi levada de volta para
a UPA às 8h30 de segunda. Ele morreu horas depois, por volta das 14h, e a causa
da morte está sendo investigada.
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Cela para presos provisórios, em Barra do Corda (Foto: Divulgação / Defensoria Pública) |
"Se tivessem estabilizado a
pressão dele, se tivessem esperado ele tomar água e o medicamento e se ele não
tivesse ficado exposto ao sol ele estaria aqui com a gente", disse Hellen
Cristina, afilhada de Silva.
"A mãe
dele pediu 'pelo amor de Deus', e todo mundo pediu para levar água e
medicamento para ele. Tudo foi recusado. Negligência total. A gente não teve
condição nem de fazer uma visita rápida", afirma Adão Alves, cunhado da
vítima.
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Delegacia de Barra do Corda onde o comerciante morreu (Foto: Reprodução / TV Mirante) |
O delegado Renilton Ferreira
contesta as afirmações da família. "A todo tempo, seu Francisco esteve
acompanhado dos advogados. Se ele tivesse qualquer necessidade física, de saúde
ou mesmo de não respeito aos direitos humanos, caberia ao advogado fazer um
requerimento junto à autoridade policial."
De acordo
Ferreira, a jaula é ocupada por presos provisórios. "Trata-se de uma ala
da nossa carceragem destinada a presos provisórios até que sejam atendidos pela
autoridade policial competente. Após o atendimento, o preso é transferido para
outra cela, com outros presos, ou liberado, de acordo com as
circunstâncias", explicou o delegado.
O corpo de
Silva foi encaminhado para o IML de Imperatriz (MA), e o caso está sendo
investigado pela polícia de Barra do Corda.
"A polícia
agora trabalha para investigar. Vamos ouvir todas as pessoas, inclusive presos
que estavam próximos ou junto de Francisco, para saber como todos os fatos
ocorreram. Já solicitamos o prontuário médico de atendimento das duas
ocorrências na UPA de Barra do Corda para chegar à conclusão do que motivou a
sua morte", disse o delegado.
Mônica, irmã de Francisco,
questionou o andamento da investigação. Segundo ela, o laudo da morte será
liberado em 10 dias, mas somente o delegado poderá buscar o documento.
"O nosso
medo é de que o delegado não vá buscar e a gente não saiba exatamente o que
aconteceu. O médico legista adiantou que houve negligência, porque ele demorou
para ser socorrido. Como ele estava com pressão alta, deveria ficar no hospital
[UPA] e só ser liberado após a pressão normalizar. Além disso, ao ser liberado,
ele não deveria ir para o 'gaiolão', porque eles sabiam que ele não estava bem.
Ele deveria ter ido para a cela interna", afirmou Mônica.
A direção da
UPA de Barra do Corda, onde o comerciante foi atendido antes de ser preso, não
se pronunciou sobre o caso. O G1 solicitou nota ao Governo do Maranhão
sobre o caso, mas não obteve resposta.
Protesto
Moradores de Barra do Corda fizeram um protesto em frente à delegacia na manhã desta quarta-feira (11). A manifestação contou com a presença de centenas de moradores, além dos familiares de Silva.
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Protesto em Barra do Corda (Foto: Divulgação / Élbio Carvalho) |
G1/MA
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