Há 40 anos, a Lei Complementar 31
dividia Mato Grosso em 2, e criava o Estado de Mato Grosso do Sul
Analistas políticos Alfredo Menezes e Onofre Ribeiro: MT ganhou com a divisão |
Há 40 anos, no dia 11 de outubro de 1977, era instituída
pelo presidente Ernesto Geisel a Lei Complementar 31. Com a nova legislação,
Mato Grosso perdia 28% de seu território de 1,2 milhão de quilômetros
quadrados. Nascia, então, o Estado de Mato Grosso do Sul.
Os cuiabanos eram resistentes ao movimento de divisão,
que havia começado ainda na Guerra do Paraguai (1864-1870).
Mas, foi com a Revolução Constitucionalista, em 1932,
que o movimento comandado por campo-grandenses ganhou força e mais adeptos.
“O receio da época era de que, caso acontecesse a
divisão, Mato Grosso de cá seria prejudicado, já que a parte rica ficava ao
Sul”, lembra o historiador e analista político Alfredo da Mota Menezes.
Mas havia uma outra corrente de pensamento. Essa
corrente dizia que a parte do Sul, por ter mais influência política à época,
possuía ferrovia, hidrovia e estava mais perto de São Paulo. E apenas com a
divisão do Estado é que Mato Grosso do "Norte" poderia se
desenvolver.
“Se o Estado não tivesse sido divido, o Sul teria mais
força política. Todo esse investimento que aconteceu no Norte pós-divisão teria
ficado no Sul. Campo Grande tinha mais representatividade política”, afirma o
analista político Onofre Ribeiro. Em 1977, ele trabalhava em um cargo de
confiança na Comunicação do Governo Garcia Neto.
O receio da época era que, caso acontecesse a divisão, Mato Grosso fosse prejudicado", revela Alfredo Menezes
Com a divisão, Mato Grosso ficou com 38 municípios e
Mato Grosso do Sul, com 55. Os dois analistas avaliam que, mesmo com a
resistência cuiabana à época da divisão, houve apenas ganhos para o Estado.
“Eles têm território menor e não desenvolveram tanto
quanto aqui. Nós tínhamos o Nortão inteiro para ser ocupado, o Médio Norte todo
e a região Amazônica. Nós ocupamos, tanto que passamos de 38 para 141
municípios, permitindo que o Estado se desenvolvesse, se tornasse um grande
produtor de commodities”, diz Onofre.
Ribeiro lembra que, com o descontentamento dos cuiabanos
e a implicância campo-grandense, a divisão deixou os ânimos mato-grossenses
ainda mais exaltados.
“A divisão do Estado não foi pacÍfica. Por exemplo, eu
me lembro bem, tudo que tinha em Cuiabá, tinha que ter em Campo Grande. Se o
Governo do Estado comprasse um carro para Cuiabá, teria que comprar para Campo
Grande”, diz.
Isso porque, em 1977, Mato Grosso foi desmembrado, mas
apenas ganhou status de Estado dois anos depois, conforme determinava a
Lei Complementar.
Em 1977, a população mato grossense era de 598.879
habitantes. Já a sul-mato-grossense chegava a 998.211.
No entanto, após a divisão, a porção Norte elevou sua
população de forma exponencial, a ponto de ultrapassar o Sul. Hoje, Mato Grosso
tem 3.495.424 de habitantes e Mato Grosso do Sul, 2.619.657, conforme o IBGE.
Integrar
Com a divisão, o então presidente Ernesto Geisel
implementou um programa para incentivar a vinda de imigrantes para a região
central do País. O objetivo era trazer desenvolvimento e minimizar problemas
sociais, como desemprego, no País.
“O problema demográfico no Sul do país tinha que ser
resolvido. A divisão, então, foi com essa intenção. Num primeiro momento, os
cuiabanos achavam que o mundo ia acabar. Com o advento da agricultura, nós
passamos o PIB [Produto Interno Bruto] do Mato Grosso do Sul, e de ‘patinho
feio’ que éramos passamos a cisnes”, diz Alfredo Menezes.
"Integrar, para não entregar"
A Capital mato-grossense dependia financeiramente da
região Sul do Estado para se manter. Politicamente forte, o Sul do Estado tinha
a seu favor três senadores e metade dos deputados federais.
O temor por parte dos cuiabanos era de o Estado quebrar
com a divisão. No Regime Militar, quem nomeava os governadores e um dos três
senadores do Estado era o Governo central.
“Os governos militares estavam ocupando a Amazônia, com
um programa com o mote ‘Integrar, para não entregar’. Eles sabiam que o Sul de
Mato Grosso já tinha uma boa infraestrutura. Já o Norte era muito abandonado,
muito isolado”, afirma Onofre Ribeiro.
“Então, os militares decidiram que, para ocupar a
Amazônia, teriam que separar o Sul do Norte, para que aqui fosse o ponto de
entrada da Amazônia”, completa.
Cuiabá x Campo Grande
A rixa entre cuiabanos e campo-grandenses estava sendo
criada e cultivada desde a Revolução Constitucionalista. O argumento era: “Nós
produzimos, eles consomem”.
“Toda riqueza econômica de Mato Grosso estava em Campo
Grande, que se concentrava na pecuária. Os fazendeiros da região mandavam os
filhos estudar em São Paulo, os filhos voltavam com uma ideia de que a riqueza
era do Sul, e o Norte não produzia nada, só gastava o que eles produziam”,
conta Onofre Ribeiro.
Histórico
Um dos primeiro registros organizados de tentativa de
divisão territorial aconteceu ainda em 1889, quando políticos do Sul elaboraram
um manifesto em que pediam a transferência da Capital de Mato Grosso para
Corumbá. Esse teria sido o marco inicial do movimento separatista.
O presidente Ernesto Geisel assina a Lei Complementar que dividiu Mato Grosso |
A partir de 1920, com a transferência do comando da
Circunscrição Militar para Campo Grande e o aumento do contingente militar no
Sul de Mato Grosso, as oligarquias sulinas aliaram-se aos militares,
fortalecendo o movimento.
A organização ganha força mesmo a partir de 1932, quando
os sul-mato-grossenses se juntaram aos paulistas e lutaram na Revolução Constitucionalista.
O levante serviu para divulgar a ideia divisionista e
Campo Grande tornou-se o centro político de difusão do movimento.
Neste mesmo ano, foi criada a chamada Liga
Sul-Matogrossense, que pedia a autonomia do Sul.
A partir do golpe de 1964, os políticos divisionistas
aproximam-se dos militares. Assim eles passam a tomar parte de algumas
comissões que estudavam as potencialidades políticas que impediam a divisão de
Mato Grosso.
Mídia News
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