Engenheiro sofreu complicações pulmonares, enquanto
se recuperava de AVC. 'Toda vez em que o telefone de alguém tocar, é um pedaço
dele na terra', diz filha.
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Nélio Nicolai em biblioteca (Foto: Arquivo Pessoal) |
Morreu na quarta-feira (11), em
Brasília, o engenheiro eletrotécnico Nélio José Nicolai, cuja invenção mais
famosa é o Bina – sistema identificador de chamadas por telefone. Ele tinha 77
anos e deixa quatro filhos e dois netos.
Nicolai estava
se recuperando de um acidente vascular-cerebral (AVC), que tinha sofrido há
cerca de cinco meses. Nos últimos dias, no entanto, apresentou complicações
pulmonares. Ele morava no Lago Norte. O enterro foi na quinta (12).
Ao G1, a filha dele, a empresária Michelle Nicolai,
definiu o pai como “cativante”. “Ele é o melhor pai do mundo. As pessoas não
tiveram a oportunidade de ver tudo o que a gente viu.”
“Meu pai lutou
muito, não só pelos inventos dele, mas também pelo país. O sonho dele era
construir uma faculdade de tecnologia, onde as pessoas que têm essa veia
criativa poderiam colocar isso para fora.”
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Engenheiro Nélio Nicolai segura documento de patente (Foto: Arquivo Pessoal) |
“Muitas vezes teve oportunidade de
sair do país, mas ele dizia que queria lutar pelo Brasil, de trazer as
invenções e os benefícios para o Brasil. Ele dizia que o brasileiro é muito
criativo. O que chamam de ‘jeitinho brasileiro’ ele chama de dom que Deus deu:
a criatividade”, continuou Michelle.
Segundo ela,
viver com o pai era estar cercada sempre de novos apetrechos no dia a dia. “Ele
tinha várias outras invenções. Quando você passa o cartão e alerta o celular,
aquilo é invenção dele. O telefone fixo no celular também é invenção dele.
“Ainda
existe um pedaço dele em vários outros lugares. Toda vez em que o telefone de
alguém tocar, é um pedaço do papai aqui nesta terra.”
Ela contou
ainda que o pai era muito apegado à religião, inclusive alegando que diversas
ideias vinham de visitas de Deus em sonhos. “Às vezes eu o via sentado no sofá,
perguntava o que estava fazendo e ele dizia que Deus estava contando mais um
segredo”, lembra.
Genro de
Nicolai, o empresário Paulo Lins diz que ele era à frente do tempo. “É alguém
com pensamento de fato no futuro, com objetivo de trazer o futuro para o
presente. Era um desbravador de fronteiras. Se pedir, ele ia apresentar ideia
para tudo que o mundo precisa hoje.”
Bina
Mesmo sendo
inventor de uma ferramenta usada por milhões de aparelhos todos os dias,
Nicolai não chegou a aproveitar dos frutos da engenhoca. O ex-jogador de
futebol transformado em técnico em comunicações travava uma batalha judicial pelo reconhecimento dos direitos de
uso do Bina havia mais de 15 anos.
Em 1997,
Nicolai recebeu do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a
patente do Bina, após cinco anos de espera. Este instrumento não impede a
utilização de uma ideia, mas prevê em troca o pagamento dos direitos.
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Engenheiro Nélio Nicolai (Foto: Arquivo Pessoal) |
Documento em mãos, pediu às empresas
telefônicas o pagamento dos direitos. "Uma das empresas me disse: 'Vá à
justiça, talvez seus bisnetos recebam algo'. Então decidi defender os direitos
de meus bisnetos", afirmou
em entrevista à época.
Se recebesse o
que pede, Nicolai seria milionário. A família diz que também o Brasil se
beneficiaria com o reconhecimento, uma vez que haveria perspectiva de arrecadar
mais impostos.
Para Michelle
Nicolai, o Bina era assunto quase todos os dias em casa. “Ele dizia que se uma
porta fechava, ele já ia procurava outra. É claro que aquilo doía, mas ele
nunca se sentiu injustiçado. As pessoas não têm noção do tanto que a gente é
feliz e tem uma família unida.”
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