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segunda-feira, 31 de março de 2014

Pará pode ganhar três áreas de livre comércio


Foto: O Liberal

Foi iniciada na última semana uma articulação política no Congresso Nacional que pode corrigir uma injustiça histórica e garantir ao Pará três cidades como Área de Livre Comércio (ALC): Santarém, Marabá e Barcarena. Atualmente, o Estado tem o seu desenvolvimento prejudicado em favorecimento dos seus vizinhos, por ser o único da Região Norte a não possuir uma única cidade sequer
gozando desse privilégio fiscal. A possibilidade de reverter esse quadro foi aberta durante as negociações para a extensão por mais 50 anos dos benefícios da Zona Franca de Manaus, aprovada em primeiro turno na última semana, na Câmara dos Deputados.
O coordenador da bancada do Norte, deputado Sebastião Bala Rocha (SDD-AP), abriu diálogo com os parlamentares da região para unificar o prazo de prorrogação a todas as áreas de livre comércio nortistas, que na maioria são de dez anos. No entanto, o apoio paraense a proposta foi questionado na primeira conversa que o coordenador teve com um membro da bancada paraense. O deputado Wandenkolk Gonçalves (PSDB) condicionou essa adesão a inserção nesse debate das propostas que tornam os três municípios do Pará em ALC.
Favorável ao posicionamento, Bala Rocha levou a sugestão ao plenário no dia da votação e firmou um acordo com as lideranças e o presidente da Câmara, deputado Henrique Alves (PMDB-RN). "Os líderes concordaram em fazer um projeto consensual, para buscarmos alternativas. Votamos o projeto (extensão do prazo da Zona Franca de Manaus) no primeiro turno, por unanimidade, com a condição, dita pelo presidente da Casa, oficializado e registrado de que nós só votaremos o segundo turno, depois que houver um consenso entre todas as lideranças e todos os Estados que têm esse tipo de projeto. Era isso que queríamos, tempo para buscar esse entendimento no projeto substitutivo", explicou Wandenkolk.
O vice-governador paraense, Helenilson Pontes, defensor da criação dessas ALC, estava na capital federal no dia da votação e ajudou o parlamentar a formatar a proposta que deverá ser apensada ao projeto que será votada no segundo turno. Na justificativa, o texto traz que "essa circunstância atual coloca o Pará em uma situação de evidente desvantagem fiscal em relação aos seus vizinhos no que tange à atração de investimentos produtivos. O Estado tem dimensões territoriais amazônicas e enfrenta grandes desafios na tarefa de promoção do desenvolvimento sustentável, o que somente será possível com o nivelamento fiscal com os demais Estados da região Norte".
Santarém é destacada na proposta por estar no centro da Amazônia brasileira, sob ameaça constante da degradação ambiental, e que apesar de ser o principal pólo de trocas do oeste paraense, tem a sua expansão da área produtiva cerceada por reservas ambientais e florestas nacionais, que caso não existissem haveria um verdadeiro saque ambiental. "O reconhecimento de Santarém como Área de Livre Comércio permitirá que a cidade encarne a sua vocação de cidade pólo da região, responsável pelo abastecimento de milhares de paraenses que vivem nos municípios do entorno, que sofrem com a falta de acesso a produtos de qualidade e preços acessíveis. A geração de empregos e renda motivada pelo comércio será imediata e construirá uma importante alternativa para diminuir a pressão as áreas de preservação ambiental", justifica.
Marabá, por sua vez, é defendida por estar situada no centro de uma das maiores regiões mineradoras do mundo e que tem tudo para sediar um grande polo metal mecânico e siderúrgico. "No entanto, por estar situada longe da costa litorânea precisa de compensações fiscais que tornem atrativos os investimentos produtivos, o que ocorreria com o reconhecimento da cidade como ALC", explica. Já Barcarena é citada por abrigar o principal porto da região Norte e que precisa das vantagens fiscais para se tornar um grande pólo industrial exportador, possibilitando a geração de mais empregos e, sobretudo, mais divisas à balança comercial do País.
Wandenkolk Gonçalves explica que a intenção é apensar esse item a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 103/2011, da Zona Franca de Manaus, que deve ir a votação, em segundo turno, nas próximas semanas. Se não for possível, será apresentada em forma de emenda, quando a PEC for analisada no Senado. "Eu tenho como apresentar destaque ou apensar à PEC que já vai para o Senado. Se tecnicamente ela não for possível, caso alguém venha a arguir a inconstitucionalidade, nós a transformaríamos em uma emenda no Senado. Aí ela voltaria para a Câmara de novo para ser aprovada, mas já acordada a sua aprovação, porque isso já ficou acertado".
Área de Livre Comércio
A área de livre comércio constitui um regime fiscal diferenciado que desonera grande parte dos tributos incidentes sobre a produção e o consumo de bens, a saber, o imposto sobre produtos industrializados (IPI), o imposto sobre circulação de mercadorias (ICMS), o imposto de importação (II), o imposto de exportação (IE), e as contribuições do Pis/Cofins. Só no ICMS, o maior tributo brasileiro, a redução de carga tributária proporcionada pela área de livre comércio pode chegar a sessenta por cento.
A redução de ICMS trazida pela área de livre comércio, na realidade, não atinge as finanças do Estado onde ela está localizada, mas os cofres dos Estados produtores, de onde as mercadorias são enviadas. O que ocorre é uma transferência de arrecadação dos Estados produtores (mais ricos) para os Estados consumidores (mais pobres), que, na prática, acabam melhorando a sua arrecadação com a área de livre comércio.
Setor produtivo do Estado comemora articulação
Desde 2008, a Federação das Indústrias do Pará (FIEPA) tem como uma de suas bandeiras a implantação de uma Área de Livre Comércio ALC no território paraense. De acordo com José Conrado Santos, presidente da FIEPA, o estado vive em situação de desvantagem competitiva e vem "amargando com o isolamento tributário". Ao saber que a criação da ALC no Pará voltou à discussão na Câmara Federal, o líder da classe industrial paraense se mostra bastante esperançoso em relação a consolidação de uma política industrial paraense.
"O estado se ressentia da falta de uma política firme e segura de incentivos que pudessem atrair novos investimentos. Até 2016, a iniciativa privada deverá investir R$ 160 bilhões em novos empreendimentos. Tenho certeza que, com a implantação da ALC, o volume de investimentos será muito maior, dinamizando toda a cadeia produtiva e impulsionando a tão sonhada verticalização da produção paraense".
Segundo Conrado, a verticalização da produção paraense seria possível por conta dos benefícios tributários advindos com a ALC. As ALC representam uma política de ampliação para outras cidades da Amazônia dos benefícios fiscais que antes só contemplavam a Zona Franca de Manaus e que se mostrou bem-sucedida na atração de investimentos e desenvolvimento sustentável para o povo do Estado do Amazonas. Os benefícios tributários da ALC alcançam os tributos que incidem sobre a produção (Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI), a comercialização (ICMS, Contribuições Sociais do PIS e COFINS) e o comércio exterior (Imposto de Importação e Imposto de Exportação).
Os empresários de Santarém também têm boas expectativas em relação a retomada da discussão sobre a ALC. Assim como a FIEPA, as entidades empresariais santarenas lutam há bastante tempo por uma zona tributária que incentivasse a produção naquele município. "Nosso esforço pela criação de uma ALC em Santarém é antigo. Somos o único estado da região sem, pelo menos, uma ALC, o que acaba nos deixando duplamente prejudicados, porque estamos próximos de Manaus e Macapá, estados que têm benefícios tributários, e nós acabamos por perder em competitividade", alerta o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES), Alberto Batista de Oliveira.
A estratégia, segundo Alberto, é juntar forças com a FIEPA e as demais entidades para a criação da ALC no Pará. "Temos realizado diversos seminários com os empresários locais para esclarecer sobre a ALC e os benefícios que ela pode trazer para o município e para o estado. Estamos esperançosos que essa injustiça seja sanada", concluiu.



ORM News


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