O impasse
sobre o limite de desafetação da Floresta Nacional do Jamanxim, que já dura
sete anos, teve mais um capítulo ontem em Brasília. Representantes dos colonos,
que há anos se instalaram na região, estiveram reunidos na Casa Civil da
Presidência da República, com o subchefe-adjunto de Análise e Acompanhamento de
políticas governamentais, Johannes Eck para pedir a aceleração do processo que
vai definir a desafetação da Flona. Além do pedido, a audiência serviu para que
os colonos apresentassem ao governo um documento assinado por todos os membros
da bancada federal do Pará endossando as suas reivindicações.
De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) a definição do limite de terras aos produtores que
lá estão instalados é de 250 mil hectares. E o impasse está justamente nessa
delimitação. As associações de agricultores do eixo da BR-163, Castelo dos
Sonhos e Novo Progresso querem 415 mil hectares de exploração, podendo utilizar
20% e garantindo a conservação de todo os 80% da área, que chega a 1,3 milhão
de hectares.
As
Associações de Agricultores da área da Flona Jamanxim entendem que o limite
proposto pelo ICMBio está equivocado por causa da ausência de critérios
técnicos imprescindíveis, como o levantamento de dados planialtimétricos,
hidrográficos detalhados, estudo dos impactos socioeconômicos, o diagnóstico
das ações antrópicas e de uso do solo e, principalmente a falta de participação
local no processo de criação. Esses argumentos constam do requerimento
protocolado na Casa Civil da Presidência da República em novembro do ano
passado.
A questão do desmatamento é muito citada pelo
Instituto Chico Mendes, mas a população que vive na região e tem na atividade
rural sua sobrevivência, se diz muito disposta a auxiliar no controle do
desmatamento. Os agricultores também apostam na desoneração dos sofres públicos
para apelar pela desafetação. O documento entregue à Casa Civil sugere que,
caso a Unidade de Conservação se mantenha no estado em que está, serão
necessários milhões de reais para indenizar todas as benfeitorias existentes na
área hoje ocupada.
A Floresta Nacional do Jamanxim foi criada em
fevereiro de 2006 no município de Novo Progresso. Mas a área é habitada há
décadas por brasileiros que atenderam ao chamado do Governo para colonizar o
Norte do País e que teriam poucas chances de mobilidade social em regiões mais
desenvolvidas. Eles encararam a proposta acreditando que o Incra daria a
titularidade das terras que cultivassem pelo Plano de Integração Nacional que
anunciava o assentamento de aproximadamente 100.000 famílias. Tudo isso em meados
da década de 1970, época em que, coincidentemente, inúmeros trabalhadores
rurais migraram para o Norte fugindo do rigoroso inverno que devastou lavouras
no Sul do País. A inauguração da BR-163, que ligava Cuiabá a Santarém, era a
concretização da promessa.
O lado Oeste e a parte Sul da Flona são formados por
áreas intensamente povoadas e produtivas. Fazendas formadas com extrema
dificuldade, das mais variadas. São regiões já impactadas, onde são criados
porcos, galinhas, gado, há plantação de abacaxi, feijão, milho banana, abóbora
e diversas outras culturas, além de Planos de Manejo Florestal Sustentados,
muitos já executados e outros em execução. Mas que a Unidade de Conservação
funcione e atinja seus objetivos é preciso fazer a regularização fundiária o que
a manutenção dos limites atuais dificulta senão inviabiliza.
"Retirando do interior dos limites da Flona a
maioria das áreas em uso, a regularização ficará mais fácil, rápida e
barata", disse à bancada paraense Edivana Morana, presidente da Associação
de Produtores Rurais Vale do Garça, em audiência ontem no Congresso Nacional.
O encontro com deputados federais e o senador Flexa
Ribeiro (PSDB), vários representantes das Associações de Agricultores da região
da Floresta Nacional de Jamanxim expuseram a fadiga pela luta de anos. Na pauta
de reivindicação do encontro com os parlamentares em Brasília havia um pedido
para que o Governador Simão Jatene entre na batalha junto ao governo federal
para que essa definição dos limites saia o quanto antes.
O senador Flexa Ribeiro deve entregar o pedido oficial
das associações pessoalmente ao governador. "O governador Simão Jatene já
tem conhecimento dessa luta dos colonos e tenho certeza absoluta que ele vai se
aprofundar ainda mais para atender ao pleito dessas pessoas. O Governo Federal
precisa tomar uma decisão o mais rápido possível para dar dignidade a esses
produtores", disse Flexa Ribeiro.
A ida dos colonos a Brasília foi importante porque
eles conseguiram apoio dos parlamentares para a realização de uma audiência com
os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do Meio Ambiente, Izabela
Teixeira, onde mais uma vez vão cobrar a desafetação das terras da Flona
jamanxim. A data da audiência ainda não foi marcada.
ORM News
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