Uma adolescente de 17 anos, mãe do menino
de 1 ano e 2 meses que teria sido estuprado pelo padrasto na noite de 7 de
março,
mostrou-se indignada com o laudo oficial da Polícia Técnico-Científica
(Politec) do Amapá divulgado na quinta-feira (20), que descartou
a possibilidade de penetração na criança. Em entrevista ao G1, a mãe declarou que o ex-companheiro José Nilson
dos Santos Sena, de 18 anos, suspeito do crime, chegou a confessar a ela a
consumação do ato. "Ele disse que fez. Queria ele morto", desabafou.
"Cheguei em casa [no dia 7 de março] e vi meu
filho com um monte de manchas roxas [nas costas e na perna]. Ele nem conseguia
abrir os olhinhos direito. (...) No outro dia, quando me disseram o que poderia
ter acontecido, eu olhei por baixo da fralda e vi as marquinhas do que ele [o
suspeito] fez. Fui até ele com muita raiva, nem sabia o que fazer, e ele falou
que tinha feito a maldade com meu neném. Ele merece tudo o que acontecer de
ruim agora, eu sei como o meu filho estava", declarou a adolescente, com
voz baixa e as mãos trêmulas ao lembrar do episódio. "É uma mentira esse
laudo", disse.
No dia 8 de março, a adolescente levou o filho ao
hospital. Os médicos suspeitaram de estupro, alertaram a mãe e ela garantiu que
iria delatar o companheiro. A denúncia contra o suspeito foi registrada no
Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp), no bairro Pacoval,
Zona Leste de Macapá, em 10 de março, quando a mãe teve a oportunidade
de fugir da casa onde morava com o companheiro e o filho, no bairro Perpétuo
Socorro, também na Zona Leste.
A Polícia Civil afirmou ter iniciado as buscas pelo
suspeito no próprio dia 10. O homem foi preso no dia 12 de março, cinco dias
após o suposto crime. Na delegacia, o padrasto disse que estava "possuído
pela bebida" naquela noite. "Eu fui possuído pela bebida, não sei o
que aconteceu", declarou.
A criança continua internada no Pronto Atendimento
Infantil (PAI) de Macapá.
"Quando ele [o suspeito] ficou sabendo que eu
queria ir à polícia, ele e a mãe dele não me deixaram sair de casa. Fiquei
presa, mas dei um jeito de sair por causa da vida do meu filho. Mas a polícia
só apareceu quando os vizinhos tentaram agredi-lo [o homem]", contou a
adolescente, que morava com José Nilson há três meses, após deixar o município
de Itaubal, a 246 quilômetros de Macapá, onde vivia com a família.
Segundo a delegada Elza Nogueira, titular do
Departamento de Polícia Especializada (DPE), que deu apoio na investigação do
caso, José Nilson se escondeu antes de ser preso. "Quando ficamos sabendo
que populares tentavam linchá-lo, também soubemos da localização dele. Então
foi efetuada a prisão", disse.
Laudo
Mesmo antes da divulgação do laudo oficial da Politec, o diretor do órgão,
Odair Monteiro, havia dito que as marcas encontradas no menino – como inchaço
no corpo e lesões no ânus e no abdômen – poderiam caracterizar estupro, mas
também poderiam ter ocorrido em função de uma diarreia crônica que o garoto
apresentava ao dar entrada no hospital.
"As lesões encontradas no corpo da criança são
compatíveis com o avanço de uma diarreia crônica. Mas se ocorreu qualquer ato
libidinoso contra o menor será considerado estupro. Se ele [o suspeito]
confessou o crime, cabe à Polícia Civil continuar a investigação", afirmou
Monteiro.
O delegado Daniel Mascarenhas, da Delegacia de
Repressão aos Crimes Praticados contra a Criança e o Adolescente (Dercca),
lembrou que a nova redação da lei de crime de estupro, alterada em 2009, prevê
que a "prática de atos libidinosos e abuso de vulnerável" seja
classificada como estupro, resultando em pena de 12 a 15 anos de prisão.
De acordo com a delegada Elza Nogueira, a mãe do
menino também poderá ser ouvida sobre os maus-tratos causados à criança.
"Jamais faria isso, ele é meu neném", declarou a mãe.
G1
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