Em uma
decisão surpreendente na história do Carnaval de Manaus, Amazonas, todas as oito Escolas
de Samba do grupo especial se tornaram campeãs de 2014 como forma de protesto
pelas circunstâncias e condições anteriores aos desfiles, que aconteceram na
noite de sábado (1), no Centro de Convenções (Sambódromo), na Zona Centro-Oeste
da capital.
Os representantes das agremiações Andanças de Cigano,
Unidos do Alvorada, Grande Família, Blaku Blaku, Aparecida, Reino Unido, Sem
Compromisso e Vitória Régia se reuniram antes do início da apuração das notas
dos jurados, nesta segunda-feira (3), e decidiram juntos conceder o título de
campeã de 2014 para todas. Na ocasião, os envelopes com as notas dos jurados
não foram abertos.
A única escola de samba que se posicionou contra essa
decisão e não assinou acordo foi a Reino Unido. O diretor da agremiação,
Redinei Rodrigues, afirmou que aceitou o resultado, mas se negou a assinar o
documento por não considerar tal veredito justo com a comunidade do Morro da
Liberdade, bairro sede da Reino Unido.
“A comunidade do Morro esperava um título de campeã.
Trabalhamos muito para isso, mas infelizmente, pela maioria, isso não ocorreu.
No documento, haverá uma cláusula citando o posicionamento da escola Reino
Unido da Liberdade. Todos foram maduros e agora teremos que se nos estruturar
para o próximo ano”, afirmou Rodrigues.
Dificuldades
A decisão em conceder o título de campeã a todas as
escolas se caracteriza como um protesto pelos obstáculos enfrentados pelas
agremiações no período anterior ao Carnaval, como atraso no repasse de verbas
públicas, irregularidades nos barracões, as fiscalizações do Ministério Público
do Trabalho (MPT) e também pela forte chuva que atingiu o Sambódromo no dia dos
desfiles.
Na tarde desta segunda (3), o clima entre os diretores das
escolas dentro do Sambódromo era de união e dever cumprido. “Nada está acima da
cultura do Carnaval e, assim, que nós pensamos e tratamos o Carnaval. Porque
todas (escolas) passaram por adversidades, umas com mais e outras com menos”,
afirmou Luiz Pacheco, presidente da Aparecida.
“O pensamento agora mudou. Não existe Aparecida sem a
Reuni Unido, sem a Vitória Régia, sem a Sem Compromisso. Estamos lutando pela
cultura do Carnaval. Mostramos que estamos todas juntas em condições de
igualdade”, afirmou Pacheco.
Grupo de acesso
Antes do resultado do grupo especial, aconteceu a apuração
dos desfiles das agremiações do grupo de acesso B do Carnaval de Manaus, que
teve como campeã a escola Império da Kamélia, do bairro São Geraldo. Em 2015,
serão nove escolas de samba no grupo especial. A escola Império da Kamélia foi
campeã do grupo de acesso e subiu para o grupo especial.
Carnaval
com muita chuva
Em uma noite de
apresentações na qual a chuva foi uma teimosa coadjuvante, as escolas de samba
do grupo Especial de Manaus mostraram brilho, animação e cadência, contagiando
o público de aproximadamente 60 mil pessoas que prestigiou as agremiações no
Sambódromo no último sábado e madrugada de ontem. No entanto, salvo algum
julgamento esdrúxulo de algum jurado, apenas duas delas devem brigar pelo
título de campeã: Mocidade Independente de Aparecida e Reino Unido da
Liberdade.
A apuração das melhores
escolas do Carnaval deste ano deveria acontecer a partir das 10h de hoje no
próprio Centro de Convenções de Manaus, porém, após decisão dos representantes,
os envelopes permaneceram fechados.
O desfile iniciou com a
apresentação da Andanças de Ciganos, que trouxe o tema “Vou às compras, que
legal, meu destino é a Marechal”, sobre a rua Marechal Deodoro, conhecida
popularmente como “Bate-Palmas” e que é um dos maiores pontos comerciais do
Centro de Manaus. A agremiação, apesar de ter sido a única a desfilar sem
chuva, trouxe falhas como espaços grandes entre alas. Uma curiosidade: havia
dois homens na ala de baianas!
O público foi ao delírio
quando a Unidos do Alvorada entrou em cena trazendo ninguém menos do que o
lutador manauense de MMA José Aldo, o homenageado da escola da Zona
Centro-Oeste. Foi nesse momento que começou uma forte chuva, que oscilou com
uma teimosa garoa até o raiar do dia. “Quero agradecer a todos que me
proporcionaram essa homenagem aqui na Unidos do Alvorada. Muito obrigado
mesmo”, disse um emocionado José Aldo,campeão dos pesos pena do UFC, que
desfilou trazendo o cinturão da categoria ao lado do prefeito de Manaus, Artur
Neto, ambos em uma gigantesca alegoria que representava o lutador. A Unidos do
Alvorada também trouxe para o sambódromo o intérprete carioca Nego, irmão de
Neguinho da Beija-Flor: ele cantou o samba-enredo da agremiação e disse que nem
a chuva atrapalhou a escola de samba. “Estou muito satisfeito por cantar aqui
em Manaus. Nem a chuva nos atrapalhou”, disse Nego, pela 1ª vez por uma
agremiação de Manaus, e que ontem já estava de volta na avenida para defender o
samba da Grande Rio no desfile do grupo Especial do Rio de Janeiro.
Defendendo a Zona Leste, a
A Grande Família contou a história de um dos símbolos do Carnaval amazonense: a
artista Ednelza Sahdo, 69 anos de idade e mais de 40 deles de avenida.
Torcedora da Mocidade Independente de Aparecida, onde por 26 anos foi
porta-bandeira, ela desfilou em um carro-alegórico que trazia a cabeça de um
enorme papagaio – símbolo da “Pareca”, como é conhecida a escola do coração -
– e a imagem de Nossa Senhora Aparecida. “Esse desfile foi a coisa mais
gloriosa que já me aconteceu na vida. Não pensei que seria assim. Hoje
interpretei meu melhor personagem: eu mesma”, declarou Ednelza, entre aplausos
e acenos reverenciando uma das damas do Carnaval.
A potente e competente
bateria da Balaku Blaku anunciou a chegada da vermelho e branco do Centro da
cidade, que teve como enredo “Marapatá, a Ilha Encantada dos mitos, portal de
Manaus, passarela dos ritos”, evidenciando o caráter ecológico. Sem comprometer,
a Balaku mostrou que pode ficar entre as grandes de Manaus para 2015.
Quinta escola a desfilar,
já na madrugada de ontem, a campeoníssima Aparecida contou a história do Centro
da capital amazonense, evidenciando aspectos como a Manaus antiga e suas lembranças.
Carros bem projetados e com acabamento luxuoso, além de alas compactas e um
samba cantado por boa parte da escola de samba deram o tom que coloca a
“Pareca” na briga pelo título.
Quem é vencedor deve sempre
exaltar a sua história. Foi o que fez a Reino Unido da Liberdade, ao contar as
suas conquistas em 32 anos de fundação, desde os tempos em que era apenas um
bloco pelas ruas do Morro da Liberdade. Gigantesca, a agremiação, uma das mais
populares da cidade, emocionou a todos com um samba-enredo envolvente e ao
relembrar símbolos da verde e branco como Mãe Zulmira – a mãe de santo, já
falecida, foi retratada em um boneco gigante e que mexia os braços, assim como
no inesquecível desfile de 1989, que deu o título à escola. Vai brigar pelo
título este ano.
A Sem Compromisso, a 7ª a
desfilar no Sambódromo, evidenciou a história da mototocicleta e sua
importância para a humanidade, evidenciando personagens importantes como o
pintor e inventor Leonardo Da Vinci. A amarelo e preto surpreendeu com
carros-alegóricos bem iluminados – boa parte deles com bom acabamento.
A Vitória Régia encerrou a
série de desfiles chuvosos no sambódromo trazendo para a pista o tema “Da
África ao Amazonas, da Escravidão à Liberdade – 130 anos da Abolição da
Escravatura”. Contagiante, a agremiação também fez uma grande apresentação para
o público que insistiu em ficar no Centro de Convenções até as primeiras horas
da manhã de domingo. No entanto, a verde e rosa da Praça 14 de Janeiro pecou ao
exceder o tempo em 2 minutos – encerrou seu desfile com 1 hora e 12 minutos (72
minutos), quando o permitido pelo regulamento é 1 hora e 10 minutos de
apresentação (70 minutos), o que deve acarretar punição.
A Crítica
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