Após semanas envolvida em nova
investigação, a Divisão de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) da Polícia
Civil do Amazonas, junto com a Delegacia Especializada em Homicídios e
Sequestros (DEHS), prendeu neste domingo (25) Messias Maia Sodré, suspeito de
ser um dos executores do delegado Oscar Cardoso, assassinado no dia 9 de março
deste ano com mais de 20 tiros, em Manaus. A ação contou, ainda, com apoio do Grupo Armado
de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), da Polícia Civil de São Paulo.
Policiais civis e militares
viajaram neste sábado (24) para São Paulo, após receberem informações de que
Messias estava em Itaquera, bairro da Zona Leste de São Paulo. Eles efetuaram
sua prisão e o suspeito foi levado para prestar depoimento na capital
paulista.
Até a publicação desta
matéria, ainda não havia informações da chegada da equipe com o preso a Manaus.
Segundo informações da polícia, Messias foi indiciado pela morte do delegado
com base no reconhecimento de testemunhas e provas técnicas conseguidas durante
as investigações. Para a polícia, não há dúvidas do envolvimento do preso no
crime.
Durante as investigações, a
polícia descobriu que Messias estava cumprindo pela no regime semiaberto do
Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), localizada no Km 8 da BR-174, e
que ele trabalhava para o traficante de droga João Pinto Carioca, o “João
Branco, que para as autoridades é o mentor do homicídio contra o delegado.
Messias está foragido desde o dia do crime, quando deixou a cadeia junto com
"João Branco".
Messias foi preso pela
Polícia Civil em março de 2010 com o caçambeiro Osenir Nascimento dos Santos,
de 26 anos; o chapeiro Raimundo Batista da Costa, 24; e a chapeira Cristiane
Gonçalves da Cunha, 25, com 20 quilos de cocaína dentro de um laboratório clandestino
na rua 13 do Hiléia 2, Zona Centro-Sul de Manaus. Ele foi condenado a cumprir
nove anos de prisão. No dia 28 de agosto do ano passado, Messias progrediu de
regime e foi para o semiaberto, de onde acabou fugindo.
O inquérito policial que
investigou o homicídio do delegado da Polícia Civil, Oscar Cardoso chegou
à Justiça no dia 9 desse mês, depois de 60 dias de investigação, e aponta
quatro pessoas indiciadas como sendo os autores dos tiros que o mataram. Os
nomes dos suspeitos não foram revelados porque o inquérito corre em segredo de
Justiça, para não atrapalhar as investigações, e também por se tratar de um
caso complexo, segundo informou o titular da DEHS, delegado Paulo Martins - não
quis falar sobre a prisão de Messias neste domingo
No último dia 18 de março, a Polícia Civil
prendeu o empresário do ramo de venda de veículos Arlindo Teles Macedo, 51;
Rodrigo Barbosa Maia, 22; Luciano da Silva Barbosa, 24; e Alessandro Ramos
Cardeal, 23. Em Seguida foram presos o empresário Mário Jorge, o "Mário Tabatinga”
e o ex-presidiário Ronairon Moreira Negreiros, além do estelionatário Wiliam
Rocha Bezerra, 25. Destes, apenas Wiliam e Mário Tabatinga continuam presos. A
polícia não informou qual foi a participação deles no crime e nem se eles forem
indiciados no processo que seguiu para a Justiça.
Histórico
Delegado da Polícia Civil do Amazonas e
ex-titular da Força Tarefa da Secretaria de Segurança Pública (SSP), Oscar
Cardoso foi morto no dia 9 de março de 2014 com mais de 20 tiros na rua
Negreiros Ferreira, bairro São Francisco, na Zona Sul de Manaus. O delegado de
61 anos estava afastado das funções desde outubro de 2013, quando foi preso com mais seis policiais militares na Operação
Tribunal de Rua, suspeito de comandar um grupo que praticava crimes
como extorsão, sequestro, tráfico de drogas, associação para o tráfico e
corrupção ativa praticados em Manaus.
Na tarde da sua morte,
ele estava em uma banca de peixe assado, localizada na mesma rua onde
mora, com o neto de um ano e seis meses no colo quando foi surpreendido pela
ação dos assassinos. Os atiradores chegaram em um Gran Siena branco, de placas
OAB-7782, e pediram que populares se afastarem, além de tiraram a criança do
colo da vítima antes de atirarem.
O carro usado pelos
atiradores foi encontrado incendiado e abandonado em chamas horas depois do
homicídio, em um ramal que liga a alameda Cosme Ferreira com o Parque Mauá, no
bairro Colônia Antônio Aleixo, na Zona Leste de Manaus.
No dia 18 de março, as Polícias Civil e
Militar deflagraram a Operação Hórus, para tentar desvendar o caso. Na ação, o
dono da locadora de veículos Macedo Rent a Car, Arlindo Jorge Teles Macedo, 53,
foi preso após cumprimento de mandado de prisão em sua residência localizada na
avenida Coronel Teixeira, no condomínio residencial Ponta Negra 1, Zona
Oeste, acusado de ter alugado o veículo usado na execução do delegado Oscar Cardoso.
O namorado da filha dele, que não teve o nome revelado, também foi detido.
Em coletiva para a imprensa realizada no mesmo
dia, para tratar da Operação Hórus, o delegado titular do 8º Distrito Integrado
de Polícia, George Gomes, afirmou que a morte do ex-delegado Oscar Cardoso Filho foi motivada por um estupro cometido
por uma equipe do delegado, formado por outros ex-PMs, contra a mulher do chefe
da facção criminosa Família do Norte (FDN), João Pinto Carioca, o “João
Branco”.
Após ser deflagrada
a Operação Hórus, onde a Polícia apresentaria um novo mandado de prisão
contra João Branco, foi constatado que o mesmo não se encontrava na cela. A
Secretaria de Estado de Justiça (Sejus) realizou uma recontagem dos internos
durante a tarde e informou que o mesmo não foi encontrado no espaço
do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj).
Durante a vistoria, foram encontrados vários
celulares, um rádio comunicador que opera nas frequências das Polícias Civil e
Militar, além de um túnel subterrâneo. A cela de “João Branco” era diferenciada das demais, com
cerâmica no piso, paredes pintadas, prateleiras e ventilador.
De acordo com o delegado
George Gomes, as investigações da Hórus apontaram que a empresa Macedo Rent a
Car vendia carros para uma pessoa identificada como “Dou”, membro da facção
criminosa Família do Norte. Só para “Dou” foram repassados 49 carros, que
depois foram transferidos para os demais membros do grupo.
Os veículos alvos dos
traficantes eram os que estavam com pendências financeiras junto à locadora e
ao banco. “Eles pegavam esses veículos de pessoas que deviam o financiamento e
compravam. O veículo depois era repassado para o grupo de traficantes da FDN,
tudo realizado com dinheiro provenientes do tráfico de droga”, explicou o
delegado. Segundo ele, os carros eram supostamente alugados, mas a investigação
descobriu que foram vendidos aos traficantes a valores que variam entre R$ 7
mil e R$ 10 mil.
O Siena de cor branca e placas OAB-7782,
utilizado noassassinato do delegado Oscar Cardoso e
incendiado horas depois, pertence a empresa H. Brandão, da mãe do coronel
Marcos Brandão, comandante de Policiamento do Interior (CPI) da Polícia
Militar.
No dia 21 de março, a estudante Karina
Cristine Pereira do Nascimento, 20 – sobrinha de Oscar Cardoso - foi presa em
Santarém (Pará). Além de ser sobrinha do delegado, ela é cunhada de um dos
supostos atiradores, Fábio Diego Matos de Oliveira, 27, o “Piu Piu”, que
continua foragido, assim como “João Branco”, suspeito de ordenar a execução.
Segundo a investigação realizada pela polícia, foi descoberto que Karina
informou para os suspeitos a localização do delegado no dia do crime.
Envolvimento
direto
Já no dia 24 de março, o
primeiro suspeito de ter participação direta na morte do delegado Oscar foi
preso pela polícia, no aeroporto de Boa Vista (Roraima). O traficante de
drogas Ronarion Moreira Negreiros tentava embarcar em um vôo com destino a
Fortaleza (CE) usando documentos de falsos com o nome de André Moreira da
Silva.
A informação foi confirmada pelo titular da
Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (Dehs), Paulo Martins. “Ele
(Ronairon) foi reconhecido como sendo um dos homens que desceu do Gran Siena de
cor branca e fez vários disparos contra o delegado”, disse Martins. O delegado
informou, ainda, que a polícia já sabia que Ronarion havia fugido para
Boa Vista logo depois do crime. Em depoimento, Ronairon disse que tinha como
provar que não assassinou Oscar Cardoso e que não tinha envolvimento com os
integrantes da facção criminosa Família do Norte.
Dois dias depois, uma equipe de policiais da
Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (Dehs) prendeu mais um
suspeito de integrar a trama criminosa que resultou no assassinato do delegado.
O empresário identificado como Mário Jorge, o "Mário Tabatinga”, foi preso
na cidade de Puerto Ordaz na Venezuela. Ele teria confessado ter dado o Gran
Siena, de cor branca e placas OAB-7782, para o traficante “João Branco” assassinar o delegado.
Segundo a polícia, Mário Tabatinga é sócio de Arlindo Jorge Teles Macedo, que foi preso
durante a operação Hórus, na locadora Macêdo Veículos Ltda. Tabatinga pegou o
carro na locadora e o guardou em casa, no conjunto Parque das Laranjeiras, Zona
Centro-Sul da capital amazonense, de onde só tirou no dia do crime.
A polícia divulgu, na época, que Mário
Tabatinga e Macêdo fariam parte de um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico
com compra e venda de veículos. Eles também forneceriam carros aos integrantes
da facção criminosa Família do Norte para
transportar drogas, fazer assaltos e crimes de pistolagem.
Balas da
SSP
No dia 11 de abril, porém,
mais uma pista do caso veio à tona: as balas que mataram o delegado saíram de
pistolas calibre PT .40, arma de uso restrito das policiais Civil, Militar e
Rodoviária Federal. Elas eram de um lote que saiu da Secretaria de Segurança
Pública (SSP), segundo investigações feitas pela força tarefa para investigar o
crime.
Semanas depois, o
secretário de Segurança Pública do Amazonas, Paulo Roberto Vital, confirmou que
os projéteis de pistola que foram usadas pelos assassinos do delegado Oscar Cardoso
foram sim comprados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP).
Segundo Vital, a
confirmação veio por meio de consulta feita ao fabricante das munições, a
Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), que informou que as munições calibre
ponto 40 S&W, marca CBC, pertencentes aos lotes AHY60 e ABO62, foram
adquiridos pela SSP.
A Crítica
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