Delatores depõem ao juiz federal Sérgio Moro e apresentam detalhes sobre
o pagamento
Foto: Tarso Sarraf/O Liberal |
Os delatores da Lava Jato Fernando Soares e
Nestor Cerveró depuseram na manhã de ontem ao juiz Sérgio Moro, em ação que
investiga o pagamento de propinas na contratação e operação de dois
navios-sondas da Petrobras. Eles reafirmaram formalmente o pagamento de propina
de US$ 4 milhões ao senador Jader Barbalho e a outros políticos do PMDB. O
senador paraense recebeu a propina por intermédio dos operadores financeiros
Jorge e Bruno Luz, pai e filho.
São
réus nesta ação os operadores financeiros Jorge e Bruno Luz, pai e filho
acusados de intermediarem o pagamento de propina a políticos do PMDB. A
denúncia tem como base as investigações que geraram a 38ª fase da Operação Lava
Jato, batizada de Blackout.
Fernando
Baiano Soares, conhecido como Fernando Baiano, disse que negociou com Nestor
Cerveró e Luis Carlos Moreira da Silva, ex-gerente executivo da Petrobras, a
construção dos navios-sondas Petrobras 10.000 e Vitória 10.000.
Ele
afirmou que, num primeiro momento, acertou o pagamento de propinas para agentes
da Petrobras com Júlio Camargo, que intermediou a contratação da empresa
responsável pelos navios.
“O
acerto que eu tinha feito com o Júlio era de uma comissão de US$ 15 milhões –
desses, eu ficaria aproximadamente com US$ 6 milhões e o resto seria dividido
entre as pessoas da Petrobras”.
Depois,
foi procurado por Cerveró, que lhe disse que teria que destinar dinheiro da
comissão pelos navios a políticos.
“Em
determinado momento, o Nestor me chamou, dizendo que havia sido procurado por
alguns políticos, e que ele estava precisando fazer uma contribuição a
campanhas desses políticos, que ele havia sido chamado a Brasília. Se não me
engano, essa primeira conversa dele foi com o Delcídio”.
Segundo
o delator, Jorge Luz surgiu num segundo momento na contratação das duas sondas,
em conversas com Nestor Cerveró.
“Eu
conversei com o Nestor sobre qual valor a gente ia retirar para passar para
eles (os políticos). Num primeiro momento, ficou acertado que a gente proporia
US$ 4 milhões para ser repassado para eles. Só que eu falei ao Nestor que eu
não gostaria de ser a pessoa encarregada de fazer esses repasses aos políticos.
Aí eu sugeri a ele, que eu já conhecia o Jorge, que era uma pessoa que se dizia
próxima do Renan (Calheiros), do Jader Barbalho, que tinha uma relação com o
pessoal do PMDB”. Luz, diz Baiano, aceitou intermediar os pagamentos.
O
lobista também disse que a contratação da Schahin como operadora das sondas foi
indicação de José Carlos Bumlai, para quitar uma dívida do PT com o banco
Schahin.
“A
Schahin surgiu nessa história de uma conversa minha com o José Carlos Bumlai
sobre uma dívida que o PT tinha com o banco Schahin. Ele me procurou, dizendo
que tinha essa dívida, e ele estava tentando viabilizar um negócio na Petrobras
para poder, desse negócio, sair o pagamento dessa dívida”.
PRESSÃO
Nestor
Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, também confirmou que a
contratação da Schahin "serviu também para resolver o problema de dívida
que havia de campanha do PT com a Schahin". Ele disse que soube da
pendência com o partido por meio de Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras.
"Surgiu
essa oportunidade dado o interesse da Schahin em se tornar operadora de sondas
desse padrão. Eu chamei então o doutor Fernando Schahin, um dos filhos do dono
da Schahin, e falei pra ele numa reunião na minha sala, na época eu era diretor
Internacional, do interesse deles e afirmei para ele que se a condição que eles
teriam pra poder encaminhar a proposta e ser examinada e ser aceita seria que
eles liquidassem essa dívida de campanha que o PT tinha com o Banco Schahin.
Embora fossem empresas diferentes, mas eram do mesmo grupo. E que tinha que dar
uma resposta rápida porque a pressão era grande e nós tínhamos que resolver
essa questão do operador da sonda", disse o ex-diretor.
Segundo
Cerveró, houve pressão política para atender demandas do PMDB, por parte de
Silas Rondeau, ex-ministro de Minas e Energia, para pagamento de dívidas de
campanha. O delator também mencionou demandas para a campanha eleitoral de 2006
do senador Renan Calheiros, e do então deputado Jader Barbalho, para que ele e
Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, destinassem
valores para as campanhas. De acordo com Cerveró, foram destinados R$ 6
milhões, que saíram da contratação do navio-sonda Petrobras 10.000.
JANTARES
O
ex-diretor da área Internacional da Petrobras falou sobre um jantar, antes das
eleições, na casa de Jader Barbalho, em Brasília, da qual participaram, além do
deputado e de Cerveró, Renan Calheiros e Paulo Roberto Costa.
Cerveró
explicou que houve uma negociação para definir quem ficaria responsável pelas
transferências dos valores, serviço que coube a Jorge Luz, que fazia a
interface com os políticos. "Ele (Jorge Luz) ficou encarregado de fazer as
transferências, o aporte desses recursos que ele receberia do Fernando
(Baiano)", disse.
Ainda
de acordo com a testemunha de acusação, após as eleições, houve um segundo
jantar, desta vez de comemoração, no qual ele teve a confirmação de que os
valores foram transferidos e recebeu a garantia de Jader Barbalho de que
cumpriria o compromisso de mantê-lo na diretoria Internacional.
Por
fim, Cerveró informou que não tinha conhecimento de que o ex-assessor da
Diretoria Internacional a Petrobras Agosthilde Mônaco de Carvalho recebeu
vantagens indevidas das negociações detalhadas em sua delação premiada.
ORM
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