Bruno Borges sumiu em 27 de março e deixou vários
livros escritos e símbolos desenhados no quarto. Delegado vê indícios de que
desaparecimento foi planejado pelo jovem para divulgar as obras.
Marcelo Ferreira foi preso na manhã desta quarta-feira (31) em Rio Branco (Foto: Aline Nascimento/G1) |
A Polícia Civil
do Acre encontrou móveis do estudante de psicologia Bruno Borges, desaparecido desde 27 de março, e prendeu um amigo dele, Marcelo
Ferreira, de 25 anos, por falso testemunho.
Antes de sumir,
Bruno deixou no quarto apenas uma estátua de 2 metros, mensagens nas paredes e 14 livros
criptografados. A polícia descobriu agora que os móveis – um
rack e uma cama – estavam na
casa de Mário Gaiote, outro amigo de Bruno.
O delegado
Alcino Júnior afirmou ao G1 que cumpriu
um mandado de busca e apreensão na casa de Marcelo Ferreira. Lá, encontrou
contratos deixados por Bruno destinando parte da venda dos livros para
Ferreira, Gaiote e um primo de Bruno, Eduardo Borges. Por ter omitido essa
informação em depoimento anterior, o delegado decidiu prender Ferreira e
interrogá-lo. Ele pode ser solto após prestar esclarecimentos.
"Ele
[Marcelo Ferreira mentiu e omitiu informações na primeira vez que foi ouvido a
respeito do caso do desaparecimento do Bruno. Inclusive, ele foi responsável
por retirar a cama e o rack do quarto do Bruno. Ele foi conduzido até a
delegacia para ser ouvido novamente, mas, no momento, ele está preso”, disse
Alcino Júnior.
Com Ferreira, a
polícia também encontrou uma porção de maconha. Ele terá que assinar um termo
circunstanciado de ocorrência.
'Plano de afastamento'
O delegado
afirmou que o objetivo dos mandados judiciais era identificar indícios da
localização de Bruno e também documentos que pudessem provar que o
desaparecimento foi um plano bolado pelo estudante.
"No dia
que o Bruno some, ele foi no cartório e registra o contrato. Então, para nós
fica muito contundente que não foi um desaparecimento qualquer, na verdade, foi
um plano consciente de afastamento, e o contrato mostra que há prazo para
divulgação desses livros, prazo para publicação, destinação de porcentagem para
quem o ajudou, no caso, essas três pessoas que o ajudaram de imediato. Para
nós, está muito claro isso", disse Alcino Júnior.
Segundo o
delegado, os contratos garantiam cerca de 15% do dinheiro da venda e publicação
dos livros para Marcelo Ferreira, outros 15% para Eduardo Borges e 5% para
Márcio Gaiote.
Paredes do quarto de Bruno Borges (Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre) |
Resposta da irmã
Gabriela
Borges, irmã de Bruno, escreveu no Facebook nesta quarta que a família já sabia
do contrato sobre direitos dos livros.
"Desde o
dia do desaparecimento soubemos do contrato, e isso nunca nos disse muita coisa
a respeito. Até porque, para que os planos do Bruno deem certo, ele precisa de
dinheiro. Afinal, não dá pra construir hospitais e ajudar quem precisa só com
amor no coração. Então nem comecem com nhenhenhe!!!", disse ela.
Segundo ela,
estão querendo denegrir a imagem do irmão. "Qual o problema ele fazer um
contrato para ajudar amigos que o ajudaram? [...] Quem conhece o Bruno sabe
exatamente do que passa em seu coração e qual sua verdadeira intenção com a
publicação da sua obra, que por sinal, é muito interessante."
Gabriela afirmou
ainda que em breve a família fará o lançamento do primeiro livro.
Resposta de Gabriela Borges, irmã do jovem desaparecido no Acre, sobre a descoberta de um contrato sobre a venda dos livros deixados pelo rapaz (Foto: Reprodução/Facebook) |
Relembre a história
A última vez
que os parentes viram Bruno foi durante um almoço em casa. Após a refeição,
todos saíram, menos Bruno. Horas depois, o pai dele retornou e não o encontrou
mais na residência.
No quarto do
rapaz, a família achou uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600),
vários escritos pelas paredes e 14 livros criptografados, dos quais – segundo a
família – cinco já foram decodificados. Não havia nenhum
móvel ou objeto pessoal de Bruno.
A retirada dos
móveis, as inscrições na parede, assim como a chegada da estátua, ocorreram em
um período de pouco mais de 20 dias, período em que o quarto ficou trancado e
os pais viajavam de férias.
O artista
plástico Jorge Rivasplata, autor da estátua, afirmou que entregou o objeto ao
jovem no dia 16 de março. Pelo artefato, o artista disse que recebeu
inicialmente R$ 7 mil e, em seguida, mais R$ 3 mil. Quem custeou a obra foi o
primo de Bruno, o médico oftalmologista Eduardo Borges de Velloso Viana. Ele
relatou que transferiu R$ 20 mil para conta de Bruno, mesmo sem saber detalhes
do projeto ao qual o jovem se dedicava.
Livros criptografados
Segundo a
família, os livros tratam de ciência, filosofia, ocultismo e física quântica. O
estudante teria recebido uma “missão” para começar a escrever os 14 livros,
segundo o amigo de infância Thales Vasconcelos, de 24 anos, que o ajudou em um
dos exemplares. Apesar de não ter se envolvido na obra inteira, o amigo contou
que trabalhou no livro 13 – intitulado “Ensaio sobre as perguntas sem
resposta”.
Nessa obra,
conforme Vasconcelos, Bruno aborda questões normalmente feitas durante a
infância: “Quem sou eu? Qual o sentido da vida? Há um Deus?”. O amigo afirmou
que Bruno falava em projeção astral, ou seja, que conseguia se concentrar e
fazer com que o espírito se separasse do corpo, podendo “viajar” em outras
dimensões. Um áudio obtido pelo Fantástico confirmou as
declarações de Bruno.
Outro amigo que
disse ter ajudado Bruno com o projeto foi Márcio Gaiote. Segundo ele, o estudante de psicologia tinha o desejo de ficar isolado e viver em
uma caverna. Bruno fazia jejum e meditação para conseguir
acessar o mundo das ideias, relatou Gaiote em entrevista ao G1, em 11 de abril. “O Bruno emagreceu muito nos
últimos dias para concluir o projeto. Mas, ele não me deu nenhuma outra
informação para que eu possa dizer o que era o projeto."
A família ainda
não divulgou nenhum trecho escrito pelo acreano. O delegado Fabrizzio Sobreira
afirmou em 10 de abril que os amigos que ajudaram Bruno teriam feito um pacto de sigilo para que
objetivo real do projeto não fosse revelado.
"Pelo que
nós entendemos na investigação, existia entre eles um pacto de não revelar o
projeto de Bruno. Então, nós também não podemos forçar as pessoas que passam
pela delegacia a falarem aquilo que não querem, mesmo sob pena de cometer crime
de falso testemunho. Mas, eles não são obrigados a expor o pacto que
possivelmente existiu", afirmou à época.
G1/AC
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