Ivan
da Silva Martins, acusado de matar PM, realizou assalto à mão armada assim que
produção terminou de ser rodada; ficha policial tem mais quatro crimes
Ivan da Silva Martins, em dois momentos de sua vida: na célebre cena de 'Cidade de Deus', em 2002; e na ficha policial, hoje (Foto/Divulgação) |
Um dos jovens que
interpretaram integrantes do bando de Zé Pequeno no filme Cidade de Deus (2002),
de Fernando Meirelles, o ex-ator Ivan da Silva Martins,
de 34 anos, incorporou o papel de criminoso à vida real. Quinze anos após
participar do sucesso da história da ascensão do tráfico na comunidade pobre da
zona oeste, ele é um foragido da polícia. Tem cinco passagens criminais e
deixou de ser conhecido como Ivanzinho, apelido
que tinha na época das filmagens. Tornou-se Ivan, o Terrível,
alcunha que consta de sua ficha policial.
A primeira anotação no prontuário de Martins foi um
roubo de automóvel na Barra da Tijuca, na zona oeste, com arma de fogo. O crime
foi cometido no mesmo mês em que o filme terminou de ser rodado, em agosto de
2001. Ele cumpriu pena pelo delito, mas foi preso novamente por roubar uma
joalheria. Depois, foi fichado por “ameaça” e, pelo crime mais recente,
formação de quadrilha ou bando, em 2014. Ainda está foragido por causa dessa
acusação. Há ainda uma quinta acusação de roubo.
Agora, ele é
procurado pela polícia do Rio de Janeiro como um dos suspeitos de assassinar
o sargento Hudson Silva de Araújo, 46 anos, no último domingo, no
Morro do Vidigal, em uma emboscada feita por traficantes. Ele é apontado por
policiais como o chefe do tráfico de drogas na comunidade.
No
documentário Cidade de Deus – 10 Anos Depois (2013),
do diretor Cavi Borges, Martins revelou que estava preso quando o filme foi lançado,
em 2002. “Eu saí da cadeia um dia antes do meu aniversário, e a primeira
coisa que eu fiz foi reunir a minha família e assistir ao filme porque eu não
tinha assistido”, disse.
Martins
também se queixa, no documentário, do legado de Cidade de
Deus na sua vida. “Me perguntaram por que estou nessa vida.
Estou porque estou na luta, porque preciso de dinheiro, porque o filme não me
deu esse dinheiro todo. Tudo isso aí não me valeu de nada, porque não adianta
fazer um filme que é conhecido mundialmente e estar duro”, afirmou, em seu
depoimento no filme.
Borges disse
que, em 2000, durante as filmagens de Cidade de Deus, já
se sabia que Martins era “problemático”, mas lamentou o seu
destino. “Todos os atores do filme tiveram uma oportunidade de melhorar de
vida, mas poucos conseguiram se apoiar nela”, lamentou. “Às vezes, a estrutura
familiar e a falta de dinheiro também contribuem para isso. Mas vários seguiram
caminho do bem. Ivan acabou indo para o caminho do mal.”
Em
entrevista ao jornal O Globo, o diretor
de Cidade de Deus, Fernando Meirelles, disse que ficou
“chateado” ao ler as notícias sobre Martins e que o ator foi selecionado e participou
das filmagens porque sabia interpretar. Além disso, afirmou que ficou sabendo,
na época do fim das filmagens, que Ivan havia participado do roubo a um
veículo.
“Durante o processo deu tudo certo, ele ia aos
ensaios, nunca criou problemas e sabia interpretar”, afirmou o diretor ao
jornal. “Torcia para que todos achassem um caminho na vida. Depois perdi o
contato”, contou.
Veja (Com Estadão
Conteúdo)
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