A Europa, Estados Unidos e o resto do mundo verão o que ocorre em Barcarena |
Duas realidades que se chocam e
contradizem. Na primeira, em forma de exposição de 21 fotografias de artistas
paraenses, aparece gente alegre, sorridente, feliz da vida, como se vivesse no
melhor dos mundos possíveis. Na segunda, em forma de contra-exposição, os
desastres ambientais, a poluição e a miséria. revelados pelo trabalho de uma
empresa multinacional que atua em Barcarena.
Nos dois casos, a protagonista é a multinacional Grupo Imerys, que desde
1996 atua no Pará, mais especificamente na cidade de Barcarena, sob o nome
Imerys Rio Capim Caulim. A exposição de fotos da Imerys, no Museu de Arte Sacra
da Cidade Velha, na galeria Fidanza, começou no dia 10 de junho passado e tinha
data prevista de encerramento nos próximo dia 31 deste mês. Mas foi encerrada
às pressas, ontem, graças a um detalhe perturbador. Pelo menos para os
acionistas da empresa e para o público que visitou o local.Na porta do Museu, integrantes do Movimento Barcarena Livre, formado por moradores daquela cidade atormentada pelos crimes ambientais praticados pela Imerys - e isto não se vê na imprensa de Belém, porque seu silêncio é comprado por caríssimas verbas publicitárias da empresa - exibiam a, perdoem a redundância do Ver-o-Fato, verdade verdadeira, ou realidade real, em imagens nuas e cruas do que está ocorrendo naquelas comunidades.
Os visitantes indesejados da contra-exposição queriam visitar a exposição da Imerys, mas foram informados de que ela já tinha sido encerrada, embora na programação constasse que isso só iria ocorrer no dia 31 de julho.
O Movimento Barcarena Livre ocupou o Largo da Sé com seis banners com fotos e textos sobre os vazamentos e derramamentos de caulim nos rios e igarapés, com as casas abandonadas nas comunidades no distrito industrial e a miséria na qual as pessoas vivem depois de ser desapropriadas ou isoladas nas suas casas pela empresa Imerys.
Dura realidade
Alem dos banners montou um varal com recortes de jornais que tratavam dos desastres provocados pela empresa, distribuía fólders e um informativo sobre os desastres. No meio da manifestação uma mulher jovem carregou um balde e levou até o rio, onde tirava com uma cuia primeiramente água limpa do balde e se molhava, mas aos poucos esta água se tornava branca, como o caulim que polui as comunidades.
Os manifestantes fizeram uma passeata na praça e foram até o porto donde saem os barcos de Belém para Barcarena para chamar atenção para estes graves problemas.
Segundo líderes do protesto, o movimento pretende levar a manifestação para onde vai a exposição da Imerys e deixar chegar aos acionistas da empresa na Europa as informações sobre os impactos da empresa nas comunidades e na natureza, além de cobrar das autoridades uma atitude mais drástica com a empresa poluidora.
A beleza de uma foto às vezes fala mais do que mil palavras. Mas também pode esconder milhares de palavras. Depende do enfoque artístico. Ou jornalístico.
Também pode ser cruelmente bela. Ou belamente cruel.
O protesto das comunidades contra os danos sociais e ambientais da Imerys |
Os manifestantes mostraram a realidade que a Imerys esconde |
Mulher exibe a poluição provocada pela empresa nas comunidades |
No Largo da Sé, o dia de ontem foi marcado por protestos |
O mundo maravilhoso da Imerys
Notícia do jornal
"Diário do Pará" do dia 10 de junho passado dizia o seguinte, sob o
título "Imerys abre exposição com fotos de trabalho social":
"Está aberta em Belém, até o dia
31 de julho deste ano, no Museu de Arte Sacra, na Cidade Velha, a 2ª edição da
Expedição Imerys, que reúne 21 fotografias do trabalho social que a mineradora
desenvolve em comunidades próximas à empresa, no município de Barcarena. Depois
de passar por Belém, a exposição, que tem entrada franca, vai percorrer outros
Estados do Brasil e outros países, como Estados Unidos e França.
Foram 580 registros feitos por 178
fotógrafos. Vinte e uma fotos foram escolhidas para a exposição e 3
profissionais foram premiados: Turiano Pereira Neto, Lucas dos Santos Cardoso
e Geysele Santa Brígida.
“Buscamos valorizar os profissionais de
fotografia do Estado e, ao mesmo tempo, divulgar o trabalho da Imeys”, diz
Maurício Filho, gerente de relações institucionais, comunicação e segurança
patrimonial da Imerys.
Ele afirma que a empresa desenvolve
trabalho social que contribui para o desenvolvimento do Estado e geração de
emprego e renda. As imagens foram escolhidas pelos artistas visuais Emanuel
Franco e Alexandre Sequeira, e pelo fotógrafo e produtor cultural Rafael
Araújo. Entre os critérios para a escolha das fotos estavam a poética e a
qualidade da imagem relacionada ao projeto".
No site da multinacional consta a
seguinte informação: "Operando no Pará desde 1996, a Imerys Rio Capim
Caulim trouxe para o estado do Pará toda a experiência do Grupo Imerys, líder
mundial em soluções especializadas a base de minerais para a indústria.
Em 2010, a empresa adquiriu a Pará Pigmentos SA (ZMES), que pertencia ao Grupo Vale. Com a estrutura duplicada, a empresa tem agora a maior planta de processamento de caulim do mundo e conta com 71% da produção de caulim no Brasil".
Em 2010, a empresa adquiriu a Pará Pigmentos SA (ZMES), que pertencia ao Grupo Vale. Com a estrutura duplicada, a empresa tem agora a maior planta de processamento de caulim do mundo e conta com 71% da produção de caulim no Brasil".
A exposição da Imerys tinha fotos belas, mas de um mundo da empresa |
Ver-o-Fato
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