Medida pretende reforçar cofres públicos e evitar contingenciamento do Orçamento
Lubrificantes da Petrobras - mar.2015 / Divulgação |
Com sérias dificuldades para fechar as contas de
2017, a equipe econômica vai anunciar um aumento das alíquotas de PIS/Cofins
sobre combustíveis, como havia antecipado a coluna de Míriam Leitão. A medida é uma maneira
de reforçar os cofres públicos e evitar que a equipe econômica tenha que fazer
um contingenciamento adicional no Orçamento do ano ou mesmo alterar a meta
fiscal, aumentando o tamanho do rombo previsto para o ano. Segundo integrantes
do governo, o quadro fiscal está tão sério que também pode ser preciso subir a
Cide (que também incide sobre o setor de combustíveis) e outros tributos
regulatórios como Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), provavelmente
sobre crédito.
A gravidade da situação das
contas públicas ficará mais clara hoje, quando o governo publica o relatório
bimestral de avaliação de receitas e despesas relativo ao 3º bimestre. Nele, a
equipe econômica mostra o que está sendo feito para assegurar o cumprimento da
meta fiscal do ano, de déficit primário de R$ 139 bilhões, ou 2,1% do Produto
Interno Bruto (PIB).
Com receitas em queda devido ao fraco
desempenho da economia e da dificuldade de andar com a pauta econômica no
Congresso, o governo teve que começar o ano com uma tesourada de R$ 42,1
bilhões no Orçamento. Posteriormente, esse número foi reduzido para quase R$ 39
bilhões, mas já foi suficiente para atrapalhar a prestação de serviços à
população. A Polícia Federal, por exemplo, ficou sem orçamento para a emissão
de novos passaportes. Assim, o cenário mais provável é que o contingenciamento
seja mantido no novo relatório.
— O relatório bimestral vai mostrar um
quadro de queda na arrecadação que gera a necessidade de aumento de impostos —
disse um integrante da equipe econômica.
Por
isso, o governo passou a estudar elevações de impostos. O PIS/Cofins sobre
combustíveis foi considerada a alternativa mais rápida, pois não precisa de
noventena (período de noventa dias para que um aumento de tributos possa
começar a vigorar). Pelas contas da equipe, cada R$ 0,01 de aumento na alíquota
do PIS/Cofins sobre a gasolina resulta uma arrecadação anual de R$ 440 milhões.
No caso do diesel, o valor anual é de R$ 530 milhões.
O
problema é que a medida só valeria por cinco meses em 2017. Além disso, existe
um limite legal para o aumento do PIS/Cofins sobre combustíveis. Assim, o que
os técnicos estudavam até a noite de ontem era "complementar" esse
aumento com uma alta na Cide e de outros impostos, possivelmente regulatórios.
Além
da queda na arrecadação, o governo teve que elaborar o relatório bimestral
levando em conta outras frustrações de receitas. O programa de repatriação (que
permite a regularização de ativos mantidos no exterior) está dando uma receita
abaixo do esperado. Até o início da semana, o valor declarado pelos
contribuintes que aderiram ao regime era de R$ 808 milhões, sendo que o total
estimado pelo governo para o ano chegava a R$ 6,5 bilhões.
Outro
problema está no novo Refis. Ele foi enviado ao Congresso por uma medida
provisória (MP). Com ela, o governo estimava obter R$ 8 bilhões em arrecadação.
No entanto, os parlamentares fizeram uma série de alterações na proposta,
tornando o texto muito mais favorável aos contribuintes. Uma nova proposta foi
enviada ao Congresso pelo Ministério da Fazenda e novamente desvirtuada,
deixando uma incerteza em relação à arrecadação esperada. Uma dificuldade
adicional está no projeto que reonera a folha de pagamento das empresas e que
daria ao governo uma receita extra de R$ 2,2 bilhões em 2017. A tramitação está
atrasada, o que deve reduzir o volume de recursos esperado.
Ao
lado de novos impostos, o que deve ajudar os cofres públicos, por outro lado,
foi a recente aprovação pelo Congresso do projeto de lei que permite à equipe
econômica usar recursos de precatórios para fechar as contas. Originalmente,
essa arrecadação estava estimada em R$ 8,6 bilhões, mas passou para algo
próximo de R$ 12 bilhões.
De
acordo com auxiliares do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, caso a
arrecadação, que mostrou uma leve reação de junho, mantenha um comportamento
positivo, haveria espaço para um afrouxamento do contingenciamento. Um dos
fatores que serão acompanhados é se já se encerrou um movimento no qual as
empresas estavam reduzido o pagamento de impostos devido à compensação de
prejuízos.
—
As empresas estavam compensando crédito de prejuízos do passado. A Receita
esperava que isso se encerrasse agora. Então, é preciso ver se a arrecadação
mantém o ritmo de crescimento que permita uma liberação de recursos nos
próximos meses — disse um interlocutor da Fazenda.
A
equipe econômica também teve que elaborar o relatório levando em consideração
um alerta do Tribunal de Contas da União (TCU) de risco de não cumprimento da
meta fiscal. De acordo com os técnicos, dos R$ 27,9 bilhões em receitas
previstas com concessões e permissões, 70% se concentram nos últimos meses do
ano e podem ser frustradas. Isso também reforçou a necessidade de aumento de
impostos.
O Globo
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