Comunidades indígenas,
quilombolas e caiçaras que vivem no litoral entre o Rio de Janeiro e São Paulo
correm o risco de desaparecer. Elas sofrem com a grilagem de terras na Serra do
Mar, com o turismo de escala e com a falta de políticas públicas, como educação
e infraestrutura. Para chamar a atenção sobre esses grupos, o Fórum das
Comunidades Tradicionais de Angra, Paraty e Ubatuba lança sábado (28) a
campanha "Preservar é resistir- Em defesa dos territórios
tradicionais". O lançamento será em Ubatuba.
De
acordo com o integrante do fórum Vagner do Nascimento, um dos principais
problemas na região é a sobreposição de unidades de conservação nas
comunidades. Ele diz que a situação “engessa” a população e desassocia o homem
da natureza, fator que garantiu a sobrevivência desses grupos até hoje. Na
região, moradores e especialistas querem a recategorização das unidades para parque estadual ou reserva
extrativista - modalidade criada pelo ambientalista Chico Mendes.
O
vice-presidente da Associação de Moradores do Pouso da Cajaíba, na Reserva da
Juatinga, Francisco Xavier Sobrinho, explica que, na prática, morar em uma
reserva significa ficar impedido de usar a natureza para sobreviver. Não se
pode construir casas de barro, prática agroecológica, as tradicionais canoas
caiçaras - esculpidas em um único tronco -, plantar e pescar. “ Precisamos
resistir para continuar aqui e assegurar o que temos para as novas gerações”,
disse.
Na
divisa dos estados, o fórum destaca que a legislação atual prejudica as
comunidades quilombolas Cambury e Fazenda Caixa, dentro do Parque Nacional da
Serra da Bocaina e do Parque Estadual da Serra do Mar. Em ambas, as práticas
culturais são reprimidas. “Ou seja, a pessoa vive na pobreza em um território
rico porque está impossibilitada de viver com dignidade, conforme suas gerações
passaram”, lembrou.
Mais
próximo da cidade histórica de Paraty, o fórum denuncia que a sobreposição de
unidades de conservação não permite a chegada de energia elétrica e a
pavimentação de estradas originais, para não causar impacto ambiental. A
situação afeta comunidades caiçaras na costa e indígenas da Aldeia Araponga.
Vivendo em uma área apertada, o grupo tem dificuldade de acesso à água, a
serviços de saúde, está superlotada e tem problemas com o descarte adequado de
lixo.
“Os
indígenas têm o território, que originalmente é deles, ameaçado pela
especulação imobiliária para a abertura de novas áreas para condomínios e
pousadas”, disse Vagner.
Outro
problema causado pela especulação imobiliária é a restrição imposta por
condomínios de luxo a caiçaras de praias como a do Sono, que perderam o acesso ao mar. Agora,
precisam passar por dentro do condomínio, em uma carro cedido pelos
administradores para chegar aos barcos. O turismo na costa e em áreas de
berçários de peixes, como o Saco do Mamanguá, também avança e está entre as
preocupações do fórum, em defesa da pesca artesanal.
Para
mostrar como vivem, as comunidades fizaram um vídeo de cerca de dez minutos que
lançam junto com a campanha “Preservar é resistir”, na festa de São Pedro
Pescador, sábado (28).
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário