Garantido e Caprichoso são os
grandes protagonistas do Festival de Parintins, mas pouco se fala de uma
terceira associação folclórica que chegou até a disputar o título de campeã com
o bumbá vermelho em 1983 e teve sua participação diminuída conforme os
adversários foram se consolidando. Criado na Comunidade do Aninga, sob as
bênçãos da padroeira Santa Teresinha, o também centenário Boi Campineiro já
nasceu com a cara do Brasil: suas cores verde e amarelo são uma verdadeira
exaltação ao País.
“Aqui na ‘fazenda’, quando
chega o outono e aparecem as flores do ipê-amarelo , nós sempre levantamos a
bandeira do Campineiro”, conta Eduardo Paixão, 63, presidente do centro
cultural que serve de casa para o Bumbá Canarinho. Filho do mestre Emílio
Souza, criador do terceiro boi da Ilha, Paixão rememora uma toada de 2009 que
fala exatamente desse colorido que foge aos onipresentes azul e vermelho: “As
cores verde e amarelo/as cores do meu País/de coração agradeço/ser filho de Parintins”,
entoa ele, numa cadência à moda antiga.
Por tudo isso, o Campineiro
é uma espécie de talismã para quem mora no Aninga, que em época de Copa do
Mundo se vê enfeitado por bandeirinhas e adereços nas cores do boi que veste a
camisa do Brasil. Segundo Paixão, em dias de jogo as famílias da comunidade têm
o costume de se reuni no centro cultural para torcer pelos craques brasileiros,
que voltam a entrar em campo nesta segunda-feira. “Estou achando a Copa muito
boa e tenho confiança na Seleção. Se Deus quiser vamos ser campeões. Aqui não
tem outro caminho: a torcida é pelo nosso boi e pelo Brasil. Se o time ganhar,
a comemoração vai ser com a presença do Campineiro, com certeza”, adianta,
esperançoso.
RESGATE
A trajetória do Boi
Campineiro voltou a ganhar visibilidade no ano passado, como lançamento do
livro“ Boi Campineiro, a história do Festival de Parintins que não foi
contada”, de autoria do jornalista parintinense Jonas Santos. Por conta da
obra, editada pelo Governo do Amazonas, a Secretaria de Estado de Cultura (SEC)
chegou a cogitar a possibilidade de que o boi verde e amarelo se apresentasse
no Bumbódromo na noite anterior à abertura do Festival Folclórico de 2014.
O retorno aos holofotes de
uma arena, no entanto, acabou não saindo do papel. “A ideia era que o Governo
realizasse a Festa dos Visitantes no Bumbódromo, como se fosse uma noite a mais
de festival, com 25 minutos para cada boi (Garantido, Caprichoso e Campineiro),
além de show musical”, explica o titular da SEC, Robério Braga. “Acabou não dando
certo porque a Prefeitura de Parintins decidiu continuar coma responsabilidade
sobre a festa, que já tem um formato tradicional”, justifica Braga. O
secretário acompanha o festival ritica desde a Copa de 1970 – o ano do
tricampeonato – e chegou a ver o Campineiro brincar. “Era um boi muito
elegante, charmoso”, recorda.
Apesar de a proposta não
ter se concretizado, o presidente Eduardo Paixão garante que o boi voltará a
brincar no terreiro do Aninga no dia 22 de agosto, quando se comemora o Dia do
Folclore. “Temos grandes esperanças nesse retorno. Já estamos reformando o boi
e nos planejando para esse grande momento”, diz o herdeiro da criação do mestre
Emílio. Para isso, Robério Braga já garantiu que o projeto contará com o apoio
da SEC.
“Faremos o tradicional boi de rua
que o povo parintinense gosta e os turistas vêm para cá conhecer, com destaque
para aqueles que são a essência de brincadeira: Pai Francisco, Mãe Catirina e
as nossas tribos”, completa Paixão. Quem quiser acompanhar essa preparação de perto
já pode se agendar: os ensaios começam a partir de julho, na própria
comunidade.
HISTÓRICO
O livro “Boi Campineiro, a
história do Festival de Parintins que não foi contada” é resultado do TCC de
Jonas Santos no curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amazonas
(Ufam)/Parintins. O trabalho teve orientação do professor mestre Renan
Albuquerque.
A Crítica
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