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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Eles queimaram as alegorias usadas no festival deste ano, que encerrou no último domingo (29)
Mais de 180 empurradores do boi Garantido que trabalharam deslocando e montando alegorias antes e durante o 49º Festival Folclórico, por 12 dias, protestaram contra a direção da agremiação do “Boi do Povão”, na tarde desta terça (1º), em Parintins (370 quilômetros de Manaus). Alguns deles queimaram pedaços de isopor e peças alegóricas usados no festival deste ano por conta do atraso no pagamento pelo serviço prestados à agremiação. O festival encerrou no domingo (29), de onde Garantido recebeu o título de Campeão de 2014.

Quatro pessoas foram detidas suspeitas de incitarem a manifestação: um como suspeito de tacar fogo em uma alegoria, outro por ser suspeito de atingir uma policial militar com um pedaço de madeira e outros dois por incitarem o movimento. Todos eles reclamam por não terem recebido dentro do prazo, até hoje, o salário de R$ 630 pelos serviços prestados no 49º Festival, e mais R$ 200 atrasados do 48º Festival, em 2013.
Os kaçauerés, como são conhecidos esses trabalhadores, primeiro queimaram primeiro pedaços de isopor dentro do Curral do Garantido, na Cidade Garantido, na Baixa do São José, e depois seguiram caminhando até a frente da casa do presidente do “Boi do Povão”, Telo Pinto, que fica ao lado da Praça dos Bois, na concentração do Bumbódromo, onde estavam alocadas as alegorias usadas nas três noites do festival.
Um dos homens detidos pelo 11º Batalhão da Polícia Militar de Parintins teria sido confundido como um dos manifestantes, já que o mesmo não estaria protestando, e sim estava próximo a uma alegoria queimada porque tentava retirar uma bicicleta presa à peça alegórica. Todos os detidos foram levados à delegacia para prestar depoimento.
“A população tem todo o direito de se manifestar. O que a polícia não permite é que façam desordem”, disse o tenente Aguinelson Tavares. Equipes de Bombeiros trabalharam para apagar as faíscas de fogo nas alegorias e conseguiram encerrar o princípio de incêndio. Até o fim do protesto, nenhum representante da agremiação Garantido se manifestou perante os trabalhadores.
Os kaçauerés têm função primordial para a realização do festival, já que sem eles as alegorias não seriam transportadas para dentro da arena do Bumbódromo e nem desmontadas ao fim do espetáculo. Alguns deles relataram ao jornal A CRÍTICA que estão com dívidas por conta do atraso nos salários, sem alimentação em casa, e que ninguém do Garantido deu um prazo para que o pagamento seja feito.
Desde às 10h desta terça (1º), eles tentaram conversar com o presidente do Garantido, Telo Pinto, mas não obtiveram sucesso. O diretor de segurança do Garantido, Júlio Nevaldo, o “Nicão”, informou ao A CRÍTICA que Telo Pinto garantiu o pagamento dos salários até a próxima terça-feira (8), às 16h, na Cidade Garantido.
Patrocínio bloqueado

Para assegurar o pagamento dos salários dos trabalhadores, o Ministério Público do Trabalho no Amazonas (MPT 1ª Região) reteve 20% do valor total da cota de patrocínio repassada ao bumbá Garantido, conforme assessoria de imprensa. O atraso nos salários é um descumprimento das determinações impostas pelo MPT em relação à legislação trabalhista. Caso seja necessário, o valor retido poderá ser usado para o pagamento de dano moral coletivo.
O MPT assegurou que este valor também poderá servir para o pagamento das diárias dos trabalhadores cuja mão de obra é utilizada para o transporte de alegorias. O valor da diária para o festival de 2014 é de R$ 70, na forma do acordado, após o Festival Folclórico do ano passado, por meio de aditivo de Termo de Ajuste de Conduta (TAC).
“É prática nessa associação o não pagamento das verbas trabalhistas após o festival, pelo que, de forma preventiva, o MPT entendeu pela necessidade do bloqueio dos valores, para resguardar os direitos dos trabalhadores. O Garantido acumula inúmeras reclamações trabalhistas na Justiça do Trabalho, reclamações essas feitas tanto por soldadores e pintores, quanto pelos artistas de ponta, responsáveis pela confecção das alegorias”, ponderou a procuradora do Trabalho Fabíola Bessa.
Em 2011, com intermediação do MPT, foi incluído no contrato de patrocínio dos bois Garantido e Caprichoso com a Coca-cola e o Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, uma cláusula social contendo obrigações referentes a direitos ambientais e trabalhistas como condicionante para a liberação dos recursos para o Festival.


A Critica


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