Mais de 180 empurradores do boi
Garantido que trabalharam deslocando e montando alegorias antes e durante o 49º
Festival Folclórico, por 12 dias, protestaram contra a direção da agremiação do
“Boi do Povão”, na tarde desta terça (1º), em Parintins (370 quilômetros de
Manaus). Alguns deles queimaram pedaços de isopor e peças alegóricas usados no
festival deste ano por conta do atraso no pagamento pelo serviço prestados à
agremiação. O festival encerrou no domingo (29), de onde Garantido recebeu o
título de Campeão de 2014.
Quatro pessoas foram
detidas suspeitas de incitarem a manifestação: um como suspeito de tacar fogo
em uma alegoria, outro por ser suspeito de atingir uma policial militar com um
pedaço de madeira e outros dois por incitarem o movimento. Todos eles reclamam
por não terem recebido dentro do prazo, até hoje, o salário de R$ 630 pelos
serviços prestados no 49º Festival, e mais R$ 200 atrasados do 48º Festival, em
2013.
Os kaçauerés, como são
conhecidos esses trabalhadores, primeiro queimaram primeiro pedaços de isopor
dentro do Curral do Garantido, na Cidade Garantido, na Baixa do São José, e
depois seguiram caminhando até a frente da casa do presidente do “Boi do
Povão”, Telo Pinto, que fica ao lado da Praça dos Bois, na concentração do
Bumbódromo, onde estavam alocadas as alegorias usadas nas três noites do
festival.
Um dos homens detidos pelo 11º
Batalhão da Polícia Militar de Parintins teria sido confundido como um dos
manifestantes, já que o mesmo não estaria protestando, e sim estava próximo a
uma alegoria queimada porque tentava retirar uma bicicleta presa à peça
alegórica. Todos os detidos foram levados à delegacia para prestar depoimento.
“A população tem todo o
direito de se manifestar. O que a polícia não permite é que façam desordem”,
disse o tenente Aguinelson Tavares. Equipes de Bombeiros trabalharam para
apagar as faíscas de fogo nas alegorias e conseguiram encerrar o princípio de incêndio.
Até o fim do protesto, nenhum representante da agremiação Garantido se
manifestou perante os trabalhadores.
Os kaçauerés têm função
primordial para a realização do festival, já que sem eles as alegorias não
seriam transportadas para dentro da arena do Bumbódromo e nem desmontadas ao
fim do espetáculo. Alguns deles relataram ao jornal A CRÍTICA que estão com
dívidas por conta do atraso nos salários, sem alimentação em casa, e que
ninguém do Garantido deu um prazo para que o pagamento seja feito.
Desde às 10h desta terça (1º),
eles tentaram conversar com o presidente do Garantido, Telo Pinto, mas não
obtiveram sucesso. O diretor de segurança do Garantido, Júlio Nevaldo, o
“Nicão”, informou ao A CRÍTICA que Telo Pinto garantiu o pagamento dos salários
até a próxima terça-feira (8), às 16h, na Cidade Garantido.
Patrocínio
bloqueado
Para assegurar o pagamento
dos salários dos trabalhadores, o Ministério Público do Trabalho no Amazonas
(MPT 1ª Região) reteve 20% do valor total da cota de patrocínio repassada ao
bumbá Garantido, conforme assessoria de imprensa. O atraso nos salários é um
descumprimento das determinações impostas pelo MPT em relação à legislação
trabalhista. Caso seja necessário, o valor retido poderá ser usado para o
pagamento de dano moral coletivo.
O MPT assegurou que este
valor também poderá servir para o pagamento das diárias dos trabalhadores cuja
mão de obra é utilizada para o transporte de alegorias. O valor da diária para
o festival de 2014 é de R$ 70, na forma do acordado, após o Festival Folclórico
do ano passado, por meio de aditivo de Termo de Ajuste de Conduta (TAC).
“É prática nessa associação
o não pagamento das verbas trabalhistas após o festival, pelo que, de forma
preventiva, o MPT entendeu pela necessidade do bloqueio dos valores, para
resguardar os direitos dos trabalhadores. O Garantido acumula inúmeras
reclamações trabalhistas na Justiça do Trabalho, reclamações essas feitas tanto
por soldadores e pintores, quanto pelos artistas de ponta, responsáveis pela
confecção das alegorias”, ponderou a procuradora do Trabalho Fabíola Bessa.
Em 2011, com intermediação
do MPT, foi incluído no contrato de patrocínio dos bois Garantido e Caprichoso
com a Coca-cola e o Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de
Estado de Cultura, uma cláusula social contendo obrigações referentes a
direitos ambientais e trabalhistas como condicionante para a liberação dos
recursos para o Festival.
A Critica
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