Com produções recordes de soja e
milho na safra de 2016/2017, estimadas em 31,229 milhões de toneladas e 28,099
milhões (t), respectivamente, os produtores mato-grossenses se veem diante de
um impasse: a capacidade de armazenagem de Mato Grosso está muito aquém do
ideal para atender a crescente produção de grãos. Somando os 2 produtos, o volume
produzido chega a 59,328 milhões (t) para uma capacidade de armazenagem de
33,753 milhões (t), segundo estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab).
O último boletim da soja divulgado
pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) aponta que a
comercialização alcançou 69% da safra em abril. Apesar de fechar a semana com
alta de 1,11%, o preço da saca, de R$ 54,13, está R$ 17,68 mais baixo que no
mesmo período de 2016. Analistas do Imea apontam que o ritmo de vendas em abril
foi mais encorpado do que nos 2 meses anteriores, mesmo com o recuo no preço de
venda da commodity.
Um dos fatores apontados para o
escoamento da soja é justamente a necessidade de liberação de espaço nos
armazéns para a entrada do milho, que começa a ser armazenado a partir de maio
em algumas regiões do Estado. A colheita da soja atingiu 100%. Com a
comercialização de 69% da produção, significa que ainda há, pelo menos, 31% do
produto em armazéns, o equivalente a 9,680 milhões (t).
A produção de milho na safra atual
está estimada em 28,099 milhões (t) e a comercialização também avança,
atingindo 46,69% do total. Transformando a taxa percentual em volume, a
quantidade do grão comercializada até abril foi de 13,119 milhões (t), devido à
cautela dos produtores. As cotações do produto estão em retração, segundo o
Imea, devido à proximidade da colheita da 2ª safra, que começa em maio. Na semana
passada, a desvalorização no preço foi de 6,74%. Com a queda no preço de venda,
os produtores estão mais cautelosos no fechamento de contratos. E a 2ª safra do
produto teve a colheita iniciada, o que aumenta a necessidade de armazenamento.
A capacidade total de armazenagem de
grãos no Estado é de 33,753 milhões de toneladas, distribuída em 2,201 mil
armazéns, segundo a Conab. Considerando a produção de soja e milho (59,328
milhões/t), o deficit de armazenagem é de 25,575 milhões (t). Sozinha, a safra da
soja deste ano representa quase a totalidade da capacidade de estocagem
estadual.
Endrigo Dalcin, presidente da
Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), informa
que houve crescimento na capacidade de armazenamento no Estado, mas em volume
menor do que o avanço na produção de grãos. “Nos últimos 12 anos tivemos uma
evolução, em números levantados pela Aprosoja e pelo Imea, de 108% em
armazenagem. Só que a produção de Mato Grosso cresceu muito mais, tanto de soja
quanto de milho. Isso exigia uma maior taxa de crescimento em armazenagem”.
O ideal é que os países tenham
capacidade para armazenar 120% do que é produzido, segundo recomendação da
Fundação das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. Em Mato Grosso, a
produção de grãos deve chegar a 57,976 milhões (t), segundo estimativa da
Conab, o que indica a necessidade de capacidade de armazenamento de 69,571
milhões (t). Mas, o Imea prevê que a safra de soja e milho pode ser ainda
maior, perto de 60 milhões (t).
De acordo com Carlos Alberto Nunes
Batista, coordenador-geral de Infraestrutura, Logística e Geoconhecimento para
o setor agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), o governo federal disponibiliza recursos para a construção de armazéns
desde 2014. “O PCA (Programa de Construção de Armazéns), financia as
estruturas, com 15 anos para pagamento incluindo 3 anos de carência e juros
atuais de 8,5% ao ano”, explica. Segundo ele, o crédito é acessível aos
interessados em todo o território nacional e tem o objetivo de incentivar a
ampliação da capacidade estática do parque de armazenagem do país.
Dalcin informa que os programas de
incentivo à construção de armazéns favoreceram o investimento dos produtores,
com juros e prazos mais favoráveis, mas a alta dos juros prejudica o
investimento atualmente. “Os juros de 4,5% pularam para 8,5%. Neste próximo
Plano Safra (PAP) estamos solicitando para o Ministério da Agricultura e da
Fazenda que se dê prioridade número 1 para a questão da armazenagem,
principalmente para o estado de Mato Grosso”.
“A questão da armazenagem tem nos
tirado o sono. Nós vamos ver a velha cena do milho a céu aberto, porque a
evolução das vendas de soja não ocorreu igual aos outros anos. Ainda temos
bastante soja nos armazéns para ser escoada. Tem uma parte já vendida, mas que
não foi escoada. E tem uma parte que precisa ser vendida e escoada. Já estamos
iniciando a colheita da 2ª safra de milho em algumas regiões do Estado. Então
este é o problema. Não temos local para guardar os 2 produtos ao mesmo tempo”.
A dificuldade de armazenagem dos
grãos força os produtores a venderem a produção em condições desfavoráveis de
concorrência, considerando o custo de produção e de venda. O presidente da
Aprosoja explica que com o armazém dentro da propriedade, os produtores têm
mais vantagens, como redução do gasto com o frete, já que os armazéns
contratados ficam dentro da área urbana da cidade. Além de facilitar a
velocidade da colheita do grão.
“Armazém hoje é de suma importância para
os produtores, além de segurar o produto em um momento que está todo mundo
querendo transportar. Os armazéns seguram a produção para que se escoe em um
outro momento, mais tranquilo, em que as BRs não estejam lotadas de caminhões e
em que o frete não esteja tão alto como fica geralmente no momento da colheita.
Então, a questão dos armazéns afeta muito, inclusive em viabilizar ou
inviabilizar uma propriedade rural”.
Como alternativa para enfrentar a
dificuldade de armazenamento, os produtores utilizam o silo bag, também
conhecido como silo bolsa para armazenar os grãos. Dalcin explica que o
equipamento custa em torno de R$ 80 mil. Já as que guardam o grão, que
armazenam 3 mil sacas por bolsa, tem o custo médio de R$ 1,8 mil cada. As
condições do produto permitem o armazenamento durante o prazo de 6 meses, com a
manutenção da qualidade.
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