O presidente pediu a suspensão de seu inquérito no STF e chamou Joesley
de falastrão. Fachin ordena uma perícia para comprovar a gravação que acusa o
peemedebista
Temer durante pronunciamento neste sábado. IGO ESTRELA (GETTY IMAGES) |
O presidente
Michel Temer (PMDB) oficializou neste sábado a sua principal
estratégia de defesa a partir de agora, atacar seus delatores e tentar anular
as provas que o envolvem em graves suspeitas de corrupção. Em pronunciamento
feito no Palácio do Planalto, o peemedebista anunciou que pedirá a suspensão do
inquérito contra ele que tramita no Supremo Tribunal Federal e chamou Joesley Batista, o magnata da JBS, de
“falastrão” e “criminoso”, que teria ganhado milhões de dólares ao especular na
bolsa de valores por conta da crise política criada pela denúncia feita ao
Ministério Público. Temer é investigado por três crimes: corrupção passiva,
obstrução à investigação e constituição e participação em organização
criminosa.
O peemedebista
decidiu fazer o seu pronunciamento depois que o jornal Folha
de S. Paulo publicou uma reportagem dizendo que um perito judicial considerou
que o áudio apresentado por Joesley ao Ministério Público teria sofrido edição.
Essa gravação foi apresentada como prova pelo empresário de que o presidente
tentava comprar o silêncio de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ex-presidente da
Câmara que está preso na operação Lava Jato e sempre foi aliado de Temer. A
ideia de suspender a investigação contra o presidente partiu de seu advogado, o
criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira. Protocolado no STF, ainda não
há uma decisão sobre o pedido.
Agora, inicia-se
uma espécie de guerra de perícias. No mesmo dia que a Folhapublicou essa
reportagem dizendo da possibilidade de adulteração, O
Globodivulgou outra mostrando que não houve alterações. Em nota, a J&F,
holding que controla a JBS, disse que todo o material gravado foi entregue na
íntegra, sem qualquer tipo de edição. Disse ainda que é natural que, “em função
da densidade das delações, surjam tentativas de desqualifica-las”.
O procurador geral,
Rodrigo Janot, também não demorou em responder ao presidente que a gravação
passou por avaliação técnica, que constatou que o material
é confiável, informa Talita Bedinelli. "Ademais,
a referida gravação é harmônica e consentânea com o relato da colaboração de
pelo menos quatro colaboradores", disse Janot em nota à imprensa. Porém, o
procurador não se opôs a fazer uma perícia. Um pouco mais tarde o relator da
Lava Jato no STF, ministro Edson Fachin, anunciou que mandará a gravação para
ser checada pelo Instituto Nacional de Criminalística da Policia Federal. O STF
não suspendeu por enquanto o inquérito ao presidente, ainda que Fachin tenha
oficiado o pedido de Temer à presidência do tribunal para o colegiado do órgão
decidir sobre essa questão na próxima quarta-feira.
Temer chamou a
gravação de clandestina, disse que ela foi “manipulada e adulterada com
objetivos nitidamente subterrâneos”. O que o presidente não diz é que a maneira
como ele recebeu Joesley também foi clandestina. O empresário entrou no Palácio do Jaburu sem se
identificar na portaria e conversou com o presidente, por volta
das 22h40 do dia 7 de março deste ano, na garagem do imóvel. Ou seja, se não
fosse a delação da JBS, jamais esse encontro entre o chefe do poder Executivo e
um cidadão que responde a cinco inquéritos policiais se tornaria público. Sobre
a hora em que recebeu o empresário, Temer disse que habitualmente trabalha até
meia noite e que não havia nada de mais no horário do encontro.
No seu pronunciamento, em que não respondeu a perguntas,
Temer não entrou em confronto direto com o Ministério Público mas criticou a
situação em que o acordo de delação permitiu deixar aos donos da JBS. O
presidente disse que Joesley cometeu o “crime perfeito” e está livre, passeando
pelas ruas de Nova York. “A notícia foi vazada, seguramente por gente ligada ao
grupo empresarial, e antes de entregar a gravação, comprou 1 bilhão de dólares.
Porque sabia que isso provocaria o caos no câmbio. De outro lado, sabendo que a
divulgação da gravação também reduziria o valor das ações de sua empresa, as
vendeu antes da queda da Bolsa”.
Ainda na tentativa
de invalidar o que dizem seus acusadores, Temer citou que nos últimos dois
governos – dos quais ele fez parte ou como aliado da gestão Lula ou como
vice-presidente, de Dilma Rousseff – a JBS obteve empréstimos bilionários do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas, que agora, o
banco está sendo moralizado, assim como a Petrobras. Essa fala foi um afago
também aos presidentes das duas instituições, Maria Silvia Bastos Marques e Pedro
Parente, respectivamente. Ambos ameaçaram deixar o Governo depois da divulgação
das investigações. “Há quem queira me tirar do Governo para voltar aos tempos
em que faziam tudo o que queriam com o dinheiro público e não prestavam contas
a ninguém. Quebraram o Brasil e ficaram ricos”, disse.
Sobre a inação dele
diante do relato de uma série de crimes feito por Joesley (como compra de
juízes e de um procurador) Temer disse que não acreditou na narrativa dele e,
por isso, não tomou nenhuma atitude. “Ele é um conhecido falastrão exagerado.
Aliás, depois, em depoimento, disse que tinha inventado essa história. Nem era
verdadeira. Era fanfarronice que ele utilizava naquele momento”. Mas a apuração
judicial demonstrou que o procurador estava na verdade comprado, pelo menos por
um dos advogados da JBS. Era o membro do Ministério Público Federal Ângelo
Goulart Villela, preso na quinta-feira a pedido do próprio procurador geral
Rodrigo Janot.
A oposição reagiu
imediatamente ao pronunciamento do presidente. Disse Carlos Zarattini, líder do
PT na Câmara: “O pronunciamento é de uma desfaçatez total. Ele tenta mudar os
fatos e criar uma interpretação própria. Ele faz uma lógica de sair desse buraco
que ele se meteu jogando a culpa no Joesley e no PT.”
Um sinal de que
faltou apoio a quem tem a caneta presidencial em mãos ficou explícito durante o
próprio pronunciamento. Apenas um ministro estava presente, Antonio Imbassahy (PSDB),
da secretaria de Governo. Dos três parlamentares que assistiram à fala, dois
são antigos aliados de Eduardo Cunha, Carlos Marun e Darcísio Perondi, e o
outro era Lúcio Vieira Lima, irmão de Geddel Vieira Lima, ministro que pediu
demissão depois de um escândalo já na gestão Temer.
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