A menina Kemilly Vitória Pereira de Souza, de 2 anos e 9
meses, que tem o corpo coberto de pelos, passou pela quarta sessão de
laserterapia na quinta-feira (30) no Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia. A criança já está com o
rosto, os braços e a parte frontal do tórax sem as pelugens. Os pais comemoram
os resultados, no entanto, enfrentam dificuldades para continuar o tratamento.
“Os dias que preciso acompanhá-la estão sendo descontados do meu salário. Está
difícil”, contou o pai, o eletricista Antônio de Souza, 34 anos.
A família mora em Augustinópolis,
no Tocantins, e a renda familiar mensal é de R$ 1 mil. O eletricista diz que a
empresa concordou em não demití-lo por causa dos dias em que fica ausente, mas
que eles não serão pagos. “Só neste mês já perdi mais de R$ 300 no pagamento. E
a situação vai se complicar mais, pois o tratamento dela é quinzenal. Não sei
como vamos conseguir manter essa situação. O problema é que não temos condições
de largar tudo lá e mudar de vez para Goiânia”, afirmou o eletricista.
Kemilly foi
diagnosticada com uma doença genética e hereditária chamada hipertricose
lanuginosa, também conhecida como "síndrome do lobisomem", que a faz
ter uma quantidade de pelos no corpo acima do considerado normal.
Após dois anos
buscando tratamento, os pais conseguiram a laserterapia no Hospital Materno
Infantil, em Goiânia. “Agradecemos muito por tudo o que está sendo feito por
ela, a ajuda que recebemos de muita gente, mas ainda precisamos de um suporte
maior da Secretaria Municipal de Saúde do Tocantins, que não está nos ajudando
como deveria”, lamentou a mãe da criança, a dona de casa Patrícia Batista
Pereira, 22 anos.
Outra
dificuldade enfrentada pela família é o deslocamento até a capital. Eles
precisam ir de Augustinópolis até a cidade de Imperatriz (TO), de onde embarcam
rumo a Goiânia. O problema é que o trajeto é feito de ônibus e a viagem leva
mais de 25 horas. “Desta vez, viemos de avião, mas as passagens foram pagas por
um voluntário. Mesmo assim, chegamos a Brasília às 20h de terça-feira e só
embarcamos no voo para Goiânia às 13h de quarta. Por sorte, outra pessoa pagou
a dormida em um hotel, ou então, teríamos que ficar no aeroporto”, conta
Antônio.
Os pais dizem
que já solicitaram três vezes ao governo do Tocantins o pagamento do transporte
aéreo, mas que todos foram negados. “Eles alegam que o médico não preencheu o
laudo direito e nos mandam pedir de novo. Essa será a terceira vez que
apresentaremos a justificativa. Pode parecer capricho, mas se conseguirmos
viajar em menos tempo, de avião, isso vai refletir no salário do meu marido, já
que ele ficará menos dias afastado do trabalho. Sem contar no alívio que será
para a Kemilly”, ressaltou Patrícia.
No último dia
16, a Secretaria de Saúde do Tocantins (Sesau) informou ao G1 que
entraria em contato com o médico responsável pelo tratamento, Zacharias Calil,
para orientá-lo sobre o procedimento de solicitação do transporte aéreo. Porém,
segundo ele, isso não aconteceu. "Eu já cansei de enviar laudos e eles não
aceitam. A viagem de avião é necessária para o bem-estar da criança, pois as
aplicações de laser deixam a pele sensível e a menina não pode ficar exposta ao
sol. Sendo assim, quanto mais rápido ela estiver em casa, melhor”, destacou o
médico.
Procurada novamente pelo G1, a Sesau informou que vai aguardar a nova justificativa clínica para a troca do meio de transporte para deslocamento da paciente. "Sendo aceita, será feita a troca de terrestre para transporte aéreo, mas inicialmente a equipe considera que a viagem não acarreta qualquer complicação para a saúde da menina e, por isso, é necessário que o médico seja mais específico no pedido."
A pasta ressaltou que "todo esse rigor tem fundamento na previsão da Portaria/SAS/Nº 055/99, a qual impõe que a autorização de transporte aéreo para pacientes e acompanhantes será precedida de rigorosa análise dos gestores do Sistema Único de Saúde”.
Procurada novamente pelo G1, a Sesau informou que vai aguardar a nova justificativa clínica para a troca do meio de transporte para deslocamento da paciente. "Sendo aceita, será feita a troca de terrestre para transporte aéreo, mas inicialmente a equipe considera que a viagem não acarreta qualquer complicação para a saúde da menina e, por isso, é necessário que o médico seja mais específico no pedido."
A pasta ressaltou que "todo esse rigor tem fundamento na previsão da Portaria/SAS/Nº 055/99, a qual impõe que a autorização de transporte aéreo para pacientes e acompanhantes será precedida de rigorosa análise dos gestores do Sistema Único de Saúde”.
A mãe de
Kemilly também afirma que a ajuda de custo prometida para Tratamento Fora de
Domicílio (TFD) nunca foi paga. “Até hoje não recebemos nenhum centavo desse
benefício. Todos nos dizem que temos direito a essa ajuda, mas até agora nada.
Sinceramente, não sei mais a quem recorrer.”
Sobre o pagamento dos valores para o Tratamento Fora de Domicílio, a Secretaria de Saúde do Tocantins informou que o processo para a liberação do recurso para a família está em andamento.
Sobre o pagamento dos valores para o Tratamento Fora de Domicílio, a Secretaria de Saúde do Tocantins informou que o processo para a liberação do recurso para a família está em andamento.
Tratamento
A quarta sessão de laserterapia removeu os pelos de parte do tórax e do braço esquerdo. O procedimento durou cerca de 45 minutos. No entanto, a menina levou mais uma hora para sair do centro cirúrgico. “Como a área foi grande e fizemos alguns retoques nas demais que já haviam sido depiladas, a anestesia inalatória foi um pouco mais forte. Aí ela demorou mais para acordar, mas tudo ocorreu como planejado”, explicou Calil.
O médico diz
que a criança está reagindo bem ao tratamento e, até que o laser seja aplicado
em todo o corpo, as sessões devem continuar a ser feitas de 15 em 15 dias. “Esse
é nosso objetivo. Aí, quando todo esse pelo inicial tiver sido removido,
ampliaremos as sessões para períodos mensais, quando será feita a manutenção”,
estimou.
Após a última
sessão, quando foram retirados os pelos do tórax e do braço direito, a pele da menina
descascou um pouco. Para Calil, essa reação já era esperada. “O laser faz uma
espécie de queimadura leve na pele e é normal que aconteçam algumas pequenas
lesões. Mas é tudo superficial e estamos tomando todos os cuidados para evitar
que ela fique com manchas.”
Antônio afirma
que a filha estranhou quando viu que estava com um dos braços sem pelos. “Ela
apontava e dizia que foram os médicos que fizeram isso com ela. Mas em todos os
sentidos demonstrava estar feliz, pois percebe que está ficando igual as outras
crianças”, destacou o pai.
A próxima
sessão de laserterapia está marcada para o próximo dia 20 de fevereiro.
G1/GO
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