Alex Rodrigues - Agência Brasil
O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, reúne-se hoje (21) com representantes de organizações
de defesa e promoção dos direitos humanos para discutir a possibilidade de
pedir intervenção federal no Maranhão por causa da crise no sistema carcerário estadual
e seus efeitos na segurança pública local. Além disso, os representantes das
organizações não-governamentais ((ONGs) Justiça Global, Conectas, Sociedade
Maranhense de Direitos Humanos e da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil
no estado (OAB-MA) pretendem avaliar com Janot a possibilidade de transferir da
justiça estadual para a federal a investigação dos assassinatos ocorridos no
interior do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís.
Segundo
o coordenador do programa de Justiça da Conectas, Rafael Custódio, as
organizações também vão pedir que o Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, vinculado ao Ministério da Justiça, envie uma equipe para
inspecionar Pedrinhas. As três entidades afirmam que representantes da sociedade
civil estão sendo proibidos de entrar no complexo penitenciário para checar a
real situação dos presos após os últimos acontecimentos. "A inspeção de
Pedrinhas por uma missão enviada pelo conselho contornaria as dificuldades
encontradas pelas organizações de defesa e promoção dos direitos humanos e
resultaria em um relatório de grande importância", disse Custódio à
Agência Brasil.
Segundo
o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 60 detentos foram mortos ao longo do ano
passado dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, o maior do estado e de
onde, segundo as próprias autoridades maranhenses, partiram as ordens para que
ônibus e delegacias fossem atacados entre os últimos dias de 2013 e os
primeiros dias deste ano. Só na noite do último dia 3, cinco ônibus foram
incendiados na capital. Em um deles, cinco passageiros ficaram gravemente
feridos, entre eles a menina Ana Clara, de 6 anos, que teve 95% do corpo
queimado e morreu em consequências das complicações no último dia 6.
Na
última sexta-feira (17), mais um princípio de motim teve que ser contido em
Pedrinhas por homens da Polícia Militar (PM) e da Força Nacional de Segurança
Pública. Apesar da presença de homens da Força Nacional e da PM no interior do
presídio, em apenas três dias, quatro mulheres foram presas tentando entrar com
drogas durante a visita aos presos.
Todos
esses problemas levaram a Justiça Global, a Conectas e a Sociedade Maranhense
de Direitos Humanos a pedir a Janot, no último dia 7, intervenção federal em
Pedrinhas e a federalização dos crimes contra os direitos humanos ocorridos no
sistema carcerário maranhense.
"Informações
do CNJ e do Conselho Nacional do Ministério Público trouxeram a público o
quadro caótico instaurado pelas autoridades competentes e por facções
criminosas com relação à integridade dos presos e de suas famílias, como as
denúncias de estupro contra mulheres e irmãs dos presos que visitam as
unidades", afirmam as organizações no documento enviado a Janot.
"Frente às gravíssimas violações e ao quadro vigente [...], acreditamos
ser de extrema importância o deslocamento da investigação dos crimes já
cometidos para o Poder Judiciário federal e para o Ministério Público Federal.
Acreditamos que a federalização possibilitará uma investigação mais célere e
independente, em respeito às leis brasileiras e aos tratados internacionais do
quais o país é signatário", concluem as organizações.
Embora
acredite que o procurador-geral vá fazer o pedido, Custódio disse que ainda não
está claro se Janot avalia pedir intervenção federal no estado, no sistema
carcerário maranhense ou apenas no Complexo Penitenciário de Pedrinhas,
conforme pediram as três ONGs. "Não sei se, para o procurador-geral, o que
está em jogo é o sistema como um todo, Pedrinhas ou o estado. Nós [Conectas,
Justiça Global e SMDH], quando preparamos o pedido, achamos que a intervenção
teria mais chances de prosperar, caso estivesse fechada no caso de Pedrinhas,
que responde por quase a totalidade dos problemas do sistema carcerário
maranhense", ressaltou Custódio. Ele explicou que, caso Janot decida pelo
pedido, caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar.
"E,
historicamente, o STF tem agido de forma conservadora na análise dos pedidos de
intervenção. É válido que os ministros da Corte sejam precavidos e acredito que
eles tenham receio de mexer com as instituições e de uma possível ruptura no
pacto federativo – até mesmo por causa de nosso passado recente –, mas, se os
legisladores criaram a possibilidade legal, é porque nossa sociedade
estabeleceu que esse pacto pode ser quebrado quando se tratar de um caso que
exija urgência. E, neste caso concreto, o Maranhão não tem conseguido garantir
a integridade dos presos e um mínimo de segurança no sistema", concluiu
Custódio.
Brasil 247
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