Foto obtida pela pesquisadora mostra o senhor Adolf
Leipzig com a companheira em Livramento no ano de 1982, quando Hitler teria 93
anos de idade (Foto: Simoni Guerreiro Dias / Arquivo Pessoal)
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O ditador Adolf Hitler, marcado na história pela execução de milhões de
judeus no século passado, pode ter escapado da invasão soviética a Berlim em
1945 e forjado o próprio suicídio a fim de fugir para a América do Sul, onde
teria vivido e morrido com cerca de 95 anos na pequena cidade de Nossa Senhora
do Livramento, a 42 km de Cuiabá. Pelo menos é o que defende o livro “Hitler no
Brasil – Sua Vida e Sua Morte”, dissertação de mestrado em jornalismo de Simoni
Renée Guerreiro Dias, que subverte a versão conhecida dos últimos dias do
nazista. A pesquisadora deve realizar um exame de DNA em Israel com um suposto
descendente do nazista.
Ainda em desenvolvimento, a dissertação
segue a linha de outras pesquisas que apontam rastros de nazistas na Argentina
após a Segunda Guerra, mas já recebeu críticas como a do professor de História
Política e Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cândido Moreira
Rodrigues. Ele aponta falta de rigor científico no trabalho e afirma que não
faltam referências na historiografia segundo as quais o ditador se suicidou ao
ver-se encurralado pelos soviéticos em 1945.
Autora do livro defende que Hitler tinha interesses em Mato Grosso (Foto: Renê Dióz/G1) |
A própria mestranda Simoni Dias, judia e residente em Cuiabá,
conta que demorou dois anos para acreditar nos primeiros relatos que ouviu
sobre a suposta passagem do Führer em território mato-grossense. “Eu zombava,
dava risada, dizia que era blefe”, relata. Hoje, porém, ela se diz convicta e
afirma que o austríaco não teria vindo parar em Mato Grosso por acaso.
O
livro
Graduada em Educação Artística, Simoni começou a pesquisar os últimos anos de Hitler após ouvir boatos de que ele, assim como outros nazistas de primeiro escalão, teria perambulado pela América do Sul após a guerra que derrubou o Reich na Europa. Em "Hitler no Brasil", a autora registrou a parte inicial da pesquisa e ligou as versões de passagem pela América do Sul a outra história, a de que o Vaticano teria oferecido ao ditador derrotado o direito de posse e o mapa para localização de um tesouro jesuíta escondido desde o século XVIII em uma caverna em Nobres, cidade turística a 151 km de Cuiabá.
Pesquisa contou com abertura do túmulo em Livramento; o local é indicado apenas por um toco de madeira (Foto: Simoni Guerreiro Dias / Arquivo Pessoal) |
Hitler, portanto, teria escapado da invasão soviética e,
com ajuda de Roma, viajou para a Argentina, para o Paraguai, para o Rio Grande
do Sul e, finalmente, para Mato
Grosso, instalando-se numa cidade que tem hoje com pouco mais de
11 mil habitantes.
Na região, teria buscado sem sucesso o tal
tesouro prometido pela Igreja e morreu na década de 80, tendo sido enterrado
com outro nome.
'Alemão velho'
Hitler na prisão em 1925 (Foto: Heinrich Hoffmann/ Keystone Features/Getty Images) |
No livro, Simoni diz que se intrigou pela existência de um idoso estrangeiro na cidade deNossa Senhora do Livramento, na década de 80, que utilizava como sobrenome a cidade onde o compositor Bach, admirado pelo líder nazista, foi enterrado. Adolf Leipzig, conhecido pela vizinhança por “Alemão Velho”, seria o próprio Führer disfarçado e virou objeto de pesquisa de Simoni, que recolheu objetos, restos mortais e relatos sobre ele.
A pesquisadora obteve uma fotografia de
1982 de Adolf Leipzig com sua companheira "Cutinga" e quase se
convenceu por supostas semelhanças fisionômicas com Hitler. Ela conta que
manipulou a foto, adicionando um bigode no rosto do sujeito, e a imagem
alterada lhe teria convencido por completo. Já a relação com uma mulher fora
dos padrões da chamada "raça ariana" seria mais um elemento de
disfarce, supõe.
Evidências
Pesquisadora obteve roupas e material genético (Foto: Simoni Guerreiro Dias / Arquivo Pessoal) |
Outra suposta evidência considerada pela pesquisadora é o registro de uma internação para cirurgia na Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá no dia 29 de novembro de 1979. O registro, porém, é para um paciente chamado Adolfo Sopping, então com 81 anos de idade e natural do estado do Rio Grande do Sul. Em fevereiro do ano seguinte a Santa Casa registrou a entrada de Adolfo Lepping, de 82 anos e de mesma naturalidade. Simoni defende que trata-se da mesma pessoa.
Para daí afirmar que se tratava de Hitler,
a pesquisadora relata uma outra suposta evidência: segundo uma fonte não
identificada no livro, uma freira polonesa do hospital teria reconhecido a
figura de Hitler.
"Aqui esse homem não entra! Ele é
sanguinário! Matou muita gente! Tire-o daqui, por favor!", teria exclamado
a religiosa. Um padre a teria repreendido afirmando que aquele doente deveria
ser atendido por ordens do próprio Vaticano.
A publicação de Simoni traz ainda
evidências de outras supostas relações de Hitler com grupos de europeus que se
fixaram em Mato Grosso, como suíços, e explora a peculiaridade da arma e de
vestimentas que pertenceriam ao tal Adolf Leipzig, cujos restos mortais foram
retirados do cemitério em Livramento para a pesquisa de Simoni.
Ela pretende submeter parte dos restos
mortais, como cabelo e fragmentos de ossos, a exames genéticos com base em
material colhido de um suposto descendente de Hitler localizado, segundo
Simoni, em Israel. Ela deve viajar para o país ainda este ano para realizar o
exame de DNA e depois seguir para a Alemanha a fim de concluir o projeto de
mestrado.
Professor da UFMT critica critérios da pesquisa (Foto: Cândido Moreira Rodrigues/Arquivo Pessoal) |
Crítica
Apesar de se tratar de um trabalho acadêmico, o professor Moreira Rodrigues, da UFMT, afirma que não há qualquer evidência de que Hitler tenha sobrevivido à invasão soviética aBerlim e deixado o território alemão após a derrota dos nazistas. Ele também apontou falta de rigor científico e não enxergou os devidos critérios de apuração historiográfica na apuração de Simoni.
"Não é novidade o fato de que muitos
que se dizem historiadores venham a levantar hipóteses as mais diversas sobre
as possíveis estadias de Hitler na América do Sul e a sua consequente morte num
dos países desta região do mundo", lembra o historiador, referindo-se a
outras suposições já divulgadas sobre passagens de Hitler no Cone Sul.
Segundo ele, a historiografia é farta de
evidências de que Hitler e sua companheira Eva Braun se suicidaram no bunker
onde tentavam resistir aos ataques soviéticos. Subordinados, os próprios
nazistas podem ter sido responsáveis pela incineração do corpo do líder antes
que os soviéticos o capturassem. Segundo Rodrigues, esta é uma das únicas
lacunas que ainda restam nesta história.
G1/MT
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