A exemplo dos anos anteriores, o governo federal fracassou na reforma agrária e
na solução dos conflitos agrários em 2013, segundo a Comissão Pastoral da Terra
(CPT). Para a entidade ligada à Igreja Católica, o último ano foi um “pesadelo”
para os sem terra, os assentados, os quilombolas, os indígenas e os
ribeirinhos, principais alvos de preocupação da pastoral. “2013 conseguiu ser
ainda pior do que o ano anterior, que já registrava um dos
piores índices da
reforma agrária na história do país”, compara a CPT, em balanço anual sobre a
situação no campo.
Segundo a comissão, as 100 áreas
desapropriadas pelo governo em 2013 beneficiarão
apenas 5 mil famílias. “Essas famílias ainda terão de penar por mais alguns
anos nos acampamentos até que ocorram as emissões de posses, em virtude da
crítica lentidão na efetivação dos assentamentos, para a qual concorrem o
Incra, o Ministério da Fazenda (TDA’s e créditos), e o Poder Judiciário”,
diz a CPT. Nesse ritmo, destaca a entidade, o Brasil precisará de 40 anos para
zerar o atual passivo de 200 mil famílias acampadas que esperam pelo título de
posse de uma terra.
Para a Comissão Pastoral da Terra, o governo Dilma dá continuidade a
medidas “anti-reforma agrária” iniciadas no governo Fernando Henrique Cardoso e
mantidas no governo Lula. “Medidas que defendem a privatização dos
assentamentos, a legalização da grilagem, a descentralização das políticas e o
sepultamento do Incra”, diz o balanço intitulado “Os descaminhos da reforma
agrária”, assinado pela CPT Regional Nordeste II, que reúne as coordenações de
Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Na avaliação da CPT, hoje é o mercado que regula o Estado na questão
agrária, e não o inverso, como prevê a Constituição. “Tais ações consolidam uma
política de Estado de não-reforma agrária e que cria um mercado de terras para
atender à demanda do capital no país e não a dos trabalhadores sem terras e do
modelo sustentável que reivindicam”.
Violência e ameaças
Levantamento parcial feito pela entidade registra 697 casos de violência
no campo em 2013, além de 108 ameaças de morte. A maior parte dos conflitos
ocorreu nas regiões mais pobres do país, o Norte e o Nordeste. As populações
indígenas foram as mais atingidas e representam, segundo a CPT, metade dessas
vítimas.
“Em 2013, os povos originários sofreram todos os tipos de violência,
desde ameaças, assassinatos, perseguições – provocadas pelos grandes
latifundiários e empreendimentos do capital – até a violência praticada pelo
próprio Estado brasileiro, através da força policial, do Poder Judiciário e das
portarias e decretos que limitam as demarcações dos territórios.”
Grandes obras
Para a CPT, os conflitos agrários em 2013 foram provocados, em parte,
por grandes projetos tocados ou apoiados pelo governo, como a construção de
hidrelétricas, portos, mineradoras, obras da Copa, projetos de expansão do
agronegócio, além de outras grandes obras de infraestrutura.
Como exemplo, a entidade cita o conflito envolvendo milhares de famílias
camponesas que resistem ao avanço do Complexo Portuário de Suape, em
Pernambuco, e as disputas com os povos indígenas para a construção das usinas
de Belo Monte e de Itapajó, em Rondônia e no Pará. “Este modelo, para se
viabilizar, precisa cada vez mais de terra, água e de biodiversidade, causando
conflitos com as populações que vivem tradicionalmente nestes territórios”,
afirma a CPT.
Trabalho escravo
O documento também critica a aliança do governo com a multipartidária
bancada ruralista no Congresso Nacional. Para a comissão, a redefinição do
conceito de trabalho escravo, discutida pelos parlamentares, joga por terra
todos os esforços feitos para desengavetar a proposta de emenda constitucional
que desapropria as propriedades urbanas e rurais onde for flagrada a exploração
de mão-de-obra escrava.
“Os ruralistas querem restringir a definição do trabalho escravo às
formas de exploração que remetem às condições de trabalho escravo do século
XVI, como o trabalho acorrentado e chicoteado. A ação intencional visa
desconsiderar as características da escravidão moderna (jornada exaustiva,
condições degradantes, etc)”, considera. “Os ruralistas querem a volta da Casa
Grande e de suas práticas desumanas, para que os escravagistas voltem a reinar,
agora com o nome de agronegócio”, complementa a entidade.
O Congresso em Foco procurou
o Ministério do Desenvolvimento Agrário para que se manifeste a respeito das
críticas feitas pela CPT. A assessoria de imprensa informou que só se
manifestará sobre o assunto após o Incra concluir o balanço anual sobre a
reforma agrária e outras ações do instituto.
Congresso em Foco
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