A constante poluição dos igarapés
que serpenteiam a capital amazonense de norte a sul levou a Prefeitura de
Manaus, Amazonas, a empregar, nos cinco primeiros meses de 2014, cerca de R$ 5 milhões na
retirada de 3.500 toneladas de lixo. De acordo com o secretário Municipal de
Limpeza Pública (Semulsp), Paulo Farias, aproximadamente 700 toneladas de lixo
são retiradas, por mês, dos igarapés da capital.
Neste período da cheia, o
lixo acumulado fica mais visível nos igarapés do São Raimundo, Educandos, do
Franco ( avenida Brasil, Zona Oeste ), Mestre Chico, Manaus 2000, 40, entre
outros. “Na cheia não fica pior a quantidade de lixo, na cheia fica mais
visível, por que o Rio Negro represa os igarapés e o lixo tende a ficar retido
na foz, principalmente no igarapé do São Raimundo e do Educandos”, explicou.
Erroneamente, muitas
pessoas atribuem a poluição dos igarapés e rios somente aos moradores que
residem em palafitas ou em áreas próximas, porém, a maior parte do lixo
recolhido dos igarapés é proveniente das ruas, explicou o secretário. No
período chuvoso, o problema se agrava porque o acúmulo de lixo intensifica o
transbordamento de igarapés, inundando casas, causando prejuízo material, além
de doenças que podem levar à morte.
A aposentada Maria José,
64, morou dez anos numa palafita no igarapé do 40, bairro Cachoeirinha, Zona
Sul, e há quatro anos foi uma das beneficiadas pelo Programa Social e Ambiental
dos Igarapés de Manaus (Prosamim). Ela disse “conhecer bem” os problemas
enfrentados por quem “precisa” morar em áreas poluídas.
“Por dez anos eu, minha
filha e meus netos vivemos num pavor no período de chuvas, pois além de alagar
a casa, apareciam muitos ratos, cobras e lacraias. Era um horror. Hoje eu moro
num apartamento do Prosamim, que é melhor e mais seguro, mas a gente que já
está há muito tempo vivendo no meio da poluição se acostuma com o mau cheiro,
mas já vi muita gente não aguentar e passar mal mesmo”, relatou Maria.
O motorista Charles
Menezes, 46, mora desde que nasceu na rua Mark da Silveira, em frente ao
Igarapé do 40, e reclama da quantidade de mosquitos que se concentram, atraídos
pelo lixo. “Aqui, quando dá 17h30, não tem mais como deixar uma janela ou porta
da casa aberta, senão ninguém aguenta de tanto mosquito. Dengue aqui é comum,
inclusive, faz tempo que eu não vejo ser feita aquela dedetização por
caminhões, e acho que neste período é que deveria mesmo haver um reforço para
evitar doenças”, sugeriu Charles.
A aposentada Rita Vieira,
67, contou que quando chegou ao bairro da Cachoeirinha, lavava as roupas com a
água do igarapé, ainda livre de poluição. “Quando eu conto ninguém acredita, eu
sentava na calçada da frente de casa e lavava as roupas com a água do rio. Meus
filhos aprenderam a nadar nele, e hoje nós não aguentamos nem ficar sentado em
frente de casa, com esse fedor todo”, lamentou Rita.
Alagamentos
provocam doenças
Além dos problemas de
transbordamento de igarapés e alagamento de ruas e casas, o período da cheia
dos rios revela outras consequências da poluição dos igarapés, que são as
doenças transmissíveis pela água. Aqueles bairros que não possuem
saneamento básico são invadidos pela enchente, que traz o esgoto despejado e
provoca doenças, como a leptospirose, a hepatite e ainda parasitas, entre
outros males.
As enchentes e o período de
vazante trazem as doenças de veiculação hídrica, como hepatites A e E, doenças diarréicas,
salmoneloses, febre tifóide e leptospirose, alertam os médicos.
O ideal, de acordo com os
especialistas em Saúde, é que a população evite utilizar águas retidas
(água que não volta para o rio), onde a matéria orgânica se decompõe e os
agentes infecciosos se multiplicam. Geralmente, quem adoece são aquelas pessoas
que utilizam ou entram em contato com essas águas, seja para beber, cozinhar,
lavar utensílios domésticos ou até o chão.
Saiba mais
Doenças: Da água
podem surgir muitas doenças, ainda mais nos dias de hoje, com a poluição dos
cursos d’água, principalmente aqueles que cortam a zona urbana.
Cuidados: Quem
mora em áreas alagadas durante o período de cheia deve tomar cuidados
redobrados para evitar a contaminação por doenças de transmissão direta e
indireta. Entre as medidas está evitar o contato com a água poluída e usar
apenas água tratada para o consumo humano.
Transmissão
direta: Cólera, Febre tifoide, Febre paratifoide, Desinteria bacilar,
Amebíase ou desinteria amebiana, Hepatite infecciosa, Poliomelite.
Transmissão
indireta: Esquistossomose, Fluorose, Malária, Febre amarela, Bócio
(conhecido como papo), Dengue e Leptospirose.
A Crítica
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