Familiares dos 18 jovens presos em
setembro passado em protesto contra Temer tentam provar inocência
A estudante Amanda Breslau, detida em manifestação em setembro de 2016 (Foto: Arquivo pessoal) |
A vida da estudante Amanda Breslau, de 22 anos, está em suspenso
há um ano. Junto com outros 17 jovens, ela foi detida pela polícia no dia 4 de
setembro do ano passado, um domingo de protestos contra o presidente Michel
Temer em São Paulo. Desde então, as denúncias contra Temer se avolumaram, os
protestos arrefeceram, mas o pesadelo de Amanda segue firme, silencioso e
inabalável. No dia 21 de agosto, a Justiça aceitou a denúncia do Ministério
Público e a turma toda corre o risco de ser condenada a até nove anos de
cadeia. Na tentativa de se defender, Amanda e os outros jovens acusados
levantam evidências para contestar as acusações de associação criminosa e corrupção
de menor. “Como eu posso corromper um menor que nunca tinha visto na vida?”,
diz Amanda. Um abaixo-assinado on-line pede a descriminalização
dos manifestantes.
Amanda faz parte do grupo que foi detido em frente ao Centro
Cultural São Paulo, na Região Sul de São Paulo, enquanto se preparava para
participar do protesto. O caso ficou conhecido porque participava do grupo um
homem mais velho que chegou ali ao tomar contato com os jovens por redes
sociais e aplicativos de paquera. Ele se apresentava como Baltazar Nunes.
Descobriu-se depois que ele era, na verdade, o capitão do Exército Wilson Pina
Botelho, que atuava como infiltrado.
Amanda tenta refutar as acusações com evidências de que só conheceu o grupo pessoalmente minutos antes da prisão e que os contatos prévios haviam sido feitos pela internet, sem planejamento de crimes. Ela enviou a ÉPOCA imagens das telas do computador e do celular com trocas de mensagens daquele dia. Dias antes do ato, num evento no Facebook, os jovens combinaram de criar grupos no WhatsApp para marcar um ponto de encontro do protesto. “A gente não queria ir sozinha, até porque somos meninas”, diz Amanda. Numa das mensagens, Amanda pedia o número do telefone de uma das meninas para adicioná-la no WhatsApp. Amanda diz não ter mais evidências porque o aparelho telefônico que usava não foi devolvido pela polícia até hoje.
Amanda tenta refutar as acusações com evidências de que só conheceu o grupo pessoalmente minutos antes da prisão e que os contatos prévios haviam sido feitos pela internet, sem planejamento de crimes. Ela enviou a ÉPOCA imagens das telas do computador e do celular com trocas de mensagens daquele dia. Dias antes do ato, num evento no Facebook, os jovens combinaram de criar grupos no WhatsApp para marcar um ponto de encontro do protesto. “A gente não queria ir sozinha, até porque somos meninas”, diz Amanda. Numa das mensagens, Amanda pedia o número do telefone de uma das meninas para adicioná-la no WhatsApp. Amanda diz não ter mais evidências porque o aparelho telefônico que usava não foi devolvido pela polícia até hoje.
Troca de mensagens entre manifestantes (Foto: Reprodução) |
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Manifestantes detidos no Centro Cultural São Paulo comemoram liberação provisória (Foto: Reprodução) |
A
argumentação do Ministério Público, descrita em apenas
cinco páginas e acatada
pela Justiça, é que os jovens eram adeptos da tática black bloc, que prega a
depredação da propriedade privada em protestos. Em despacho na última semana, a
juíza Cecília Pinheiro da Fonseca afirma que os jovens, “em tese, se
utilizariam de capuzes e das vestes escuras para evitar serem identificados quando
da prática de eventual crime”. Fotografias tiradas na ocasião, entretanto,
mostram os manifestantes com roupas coloridas, não escuras. Na troca de
mensagens no dia do protesto, as meninas participantes descreviam a cor das
roupas que usavam para facilitar o reconhecimento: “jeans e blusa azul-marinho”
e “regata cinza e blusa xadrez vermelha”. Em seu parecer, a juíza recusou as
provas de Amanda e escreveu que as trocas de mensagens no WhatsApp “não guardam
muita relação com o feito”.
Por volta das 14 horas daquele dia, Amanda havia combinado de encontrar os integrantes de seu grupo do WhatsApp, batizado de “Fora, Temer!”, na Estação Luz do metrô. Foi quando uma das meninas sugeriu que se reunissem com membros de outros grupos que haviam marcado na Estação Vergueiro, perto do Centro Cultural São Paulo. Assim que chegou, Amanda ficou intrigada com um helicóptero da polícia que sobrevoava baixo, sempre próximo ao grupo. Também notou um homem que destoava dos manifestantes: mais velho, usava boné e óculos. Ele se apresentava aos jovens em aplicativos de paquera como “Baltazar Nunes” e, segundo os jovens, foi quem articulou os vários grupos do WhatsApp para que se encontrassem no Centro Cultural São Paulo. A conduta do capitão Botelho condiz com o que seus colegas das Forças Armadas faziam durante o período da ditadura militar (1964-1985).
Por volta das 14 horas daquele dia, Amanda havia combinado de encontrar os integrantes de seu grupo do WhatsApp, batizado de “Fora, Temer!”, na Estação Luz do metrô. Foi quando uma das meninas sugeriu que se reunissem com membros de outros grupos que haviam marcado na Estação Vergueiro, perto do Centro Cultural São Paulo. Assim que chegou, Amanda ficou intrigada com um helicóptero da polícia que sobrevoava baixo, sempre próximo ao grupo. Também notou um homem que destoava dos manifestantes: mais velho, usava boné e óculos. Ele se apresentava aos jovens em aplicativos de paquera como “Baltazar Nunes” e, segundo os jovens, foi quem articulou os vários grupos do WhatsApp para que se encontrassem no Centro Cultural São Paulo. A conduta do capitão Botelho condiz com o que seus colegas das Forças Armadas faziam durante o período da ditadura militar (1964-1985).
Troca de mensagens entre os manifestantes (Foto: Reprodução) |
A polícia chegou cinco minutos depois de Amanda – em peso.
Depois de dar uma geral em todos, encaminhou as meninas para o banheiro do
metrô para uma revista íntima. “Quando voltamos, vimos que já tinha umas nove
viaturas. Começaram a tirar foto e filmar a gente. Aí perguntamos o que estava
acontecendo. As respostas eram sempre vazias”, diz Amanda. Os jovens
foram levados ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Durante a prisão, foram encontrados com os jovens máscaras, um skate, itens de
primeiros socorros e vinagre, usado para minimizar os efeitos do gás
lacrimogêneo. Uma barra de ferro, segundo os manifestantes, foi plantada na
frente de um dos jovens. Segundo a defesa dos manifestantes, eles só tiveram
acesso a seus representantes quando o ex-senador Eduardo Suplicy e o deputado
federal Paulo Teixeira, ambos do PT, foram ao Deic à 1h30 da manhã.
Na tarde seguinte, uma audiência de custódia no Fórum da Barra
Funda definiu o destino provisório do grupo. O juiz Paulo Rodrigo Tellini de
Aguirre Camargo considerou a detenção ilegal e mandou liberar os manifestantes:
“O Brasil como estado democrático de direito não pode legitimar a atuação
policial de praticar verdadeira ‘prisão para averiguação’”. Mas o inquérito
policial prosseguiu, os jovens foram indiciados, depois denunciados pelo MP até
se tornarem réus num processo criminal. O capitão Wilson Pina Botelho, o
infiltrado, nem foi citado na denúncia. Sua conduta foi investigada num
inquérito que acabou arquivado pela Justiça Militar no fim do ano passado.
Meses depois, ele foi promovido a major. O processo corre em segredo de Justiça
e uma nova audiência está marcada para o dia 22. “Sinto medo e revolta de saber
que estou privada de expor minhas ideias”, diz Amanda. “E agora com a
possibilidade real de ser presa por me manifestar.”
Época
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