Um blog de reconhecimento nacional escrito pela ativista social Telma
Monteiro, participante de um movimento denominado Energia e Sustentabilidade –
Energia Genuinamente Limpa (Veja Aqui) apresentou
informações preocupantes sobre a situação em que as duas usinas hidrelétricas
construídas em Porto Velho apresentam após o rio Madeira sofrer uma das suas
maiores cheias nos últimos cem anos.
No blog é destacado o excesso de água
nos reservatórios de ambas as usinas, porém em especial a de Jirau, que de acordo
com as informações postadas pela ativista, pode se romper caso não haja
controle do nível do reservatório da usina de Santo Antônio. Confira texto na
íntegra:
Hidrelétrica Jirau, no rio Madeira, o
desastre confirmado*Por Telma Monteiro
Resgatando um pouco da história das
usinas do Madeira
O Ministério Público Federal e o
Ministério Público do Estado de Rondônia ajuizaram uma Ação Civil Pública (ACP)
com pedido liminar contra a mudança de localização da usina de Jirau, no rio
Madeira. Isso aconteceu em 25 de agosto de 2008. A Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Consórcio Energia Sustentável do
Brasil (Enersus), hoje ESBR, são os réus da ação.
Os autores da
petição inicial, o
Procurador MPF de Rondônia, Heitor Alves Soares e a Promotora de Justiça do
Estado de Rondônia, Aidée Maria Moser Torquato Luiz, pediram a anulação do
Leilão n° 005/2008 e do respectivo contrato de concessão firmado entre a União
e o consórcio ESBR. Para o MP o IBAMA não deveria ter concedido a Licença de
Instalação que autorizou a construção do empreendimento na nova localização,
9,2 quilômetros rio abaixo, proposta pelos empreendedores.
Essa alteração em Jirau que aconteceu
depois da emissão da licença ambiental de localização e depois do leilão, se
tornou um precedente em processos de licenciamento de outras hidrelétricas,
como no caso perigoso de Belo Monte. O MPF do Pará ajuizou uma ACP questionando
as alterações no projeto de Belo Monte realizadas pós-leilão.
Os empreendedores de Jirau, na época,
justificaram que as mudanças na localização da usina levariam a uma economia de
R$ 1 bilhão, quase 12% do investimento total. Anunciaram a entrega da energia
se daria antes da data prevista em contrato. Jirau já está no sexto ano de
construção e o consórcio fez funcionar as primeiras turbinas em 2012.
Entre os benefícios prometidos com a
alteração do projeto estavam a redução dos impactos ambientais, a redução do
volume de escavações, redução dos custos e antecipação da geração. Mas parece
que alguma coisa deu muito errado.
A cidade de Porto Velho, a capital do
estado de Rondônia, nunca esteve tão ameaçada pelas cheias do rio Madeira. A
barragem de Jirau poderá se romper se não houver um controle do nível do
reservatório da hidrelétrica de Santo Antônio.
Já no acórdão do TCU, sobre as contas
de Jirau, para acompanhar o leilão e outorga de concessão, ficaram patentes
algumas inconsistências nos números apresentados pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE). As mais gritantes se referiam à necessidade de adequação dos
custos indiretos, dos preços dos equipamentos eletromecânicos, seria preciso
considerar a questão da linha de transmissão não prevista no orçamento, que
terá que levar a energia por 130 quilômetros até a subestação nas proximidades
de Porto Velho, falhas de projeto, revisão da vazão no vertedouro e falta do
detalhamento do custo global da obra.
Apesar de tudo, independente das
recomendações do TCU, Jirau foi licitada. Uma briga entre os desenvolvedores do
projeto, Furnas e Odebrecht (que já haviam arrematado o leilão da usina de
Santo Antônio) e os vencedores do leilão de Jirau, GDF Suez e Camargo Corrêa,
chegou à justiça. Os primeiros com o gosto amargo da derrota pela perda de
Jirau, uma surpresa para o setor. Isso inviabilizou os ganhos de escala,
planejados por Furnas e Odebrecht, com a construção das duas usinas – Santo
Antônio e Jirau.
O investimento total previsto para
Jirau permaneceu próximo aos R$ 9 bilhões, mesmo depois que a ESBR anunciou, em
2008, as alterações no projeto. Não só não houve a tal redução de R$ 1 bilhão
como foi necessário fazer um aditivo de R$ 900 milhões ao contrato, para
complementar os custos com as obras civis. Atualmente o custo de
Jirau ultrapassou em muito os R$ 13 bilhões e o consórcio ESBR se queixou, na
época, do aumento no volume das escavações.
Erro de cálculo ou estratégia para
obter mais dinheiro do BNDES, nunca se saberá, já que não dá para aferir quanto
foi escavado ou qual teria sido a previsão original.
Hoje o desastre não está apenas
anunciado, já está confirmado.
Telma Monteiro
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