A cheia histórica que atinge o Rio Madeira, em Rondônia, obrigou a Hidrelétrica
Santo Antônio a desligar todas as turbinas em operação. Segundo o Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a usina parou de funcionar no início da
semana por uma questão de segurança.
Na semana passada, 11 das 14 máquinas
em operação já haviam sido paralisadas. Mas, como o nível do rio continuou
elevado, decidiu-se por paralisar tudo, afirmou um técnico do ONS. Jirau, que
também fica no Madeira, continua com quatro turbinas em operação.
Segundo o ONS, as duas usinas estão em
final de obra e ainda têm estruturas frágeis, provisórias, em algumas áreas.
Com essa quantidade de água, o risco de ocorrer um acidente poderia aumentar.
A Hidrelétrica de Jirau, por exemplo,
pediu à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e à Agência Nacional da
Água (ANA) que Santo Antônio abrisse suas comportas para evitar acidentes em
sua ensecadeira – estrutura provisória que protege as turbinas enquanto se
executa uma obra no local.
Santo Antônio estaria mantendo o nível
do reservatório acima do estipulado pela ANA. Em determinado momento, a usina
chegou a operar acima da cota de 75 metros.
Segundo o ONS, a paralisação da usina
também tem o objetivo de evitar que as comunidades ribeirinhas sofram ainda
mais com as enchentes, assim como a população de Porto Velho. O Rio Madeira
atingiu seu maior nível desde 1997, chegando na segunda-feira a 18,43 metros. A
cheia trouxe o caos para a capital de Rondônia, com milhares de pessoas
desabrigadas. O Estado do Acre ficou ilhado, com a interdição de rodovias
federais que foram inundadas pelas águas.
Os estragos provocados pela cheia deram
nova munição para ambientalistas e para o Ministério Público Federal, que
sempre foram contrários à construção das hidrelétricas – leiloadas em 2007 e
2008 pelo governo federal. De alguma forma, eles atribuem parte dos estragos
aos dois empreendimentos. Segundo fontes, ao passar pelas turbinas, a água
ganha velocidade e provoca grandes ondas, chamadas de banzeiros.
Causas. Na semana passada, foram
realizadas audiências públicas para discutir as possíveis causas e soluções
para o problema. Entre as medidas discutidas está a proposta de revogação da
lei que assegura benefícios fiscais aos consórcios responsáveis pela construção
das duas hidrelétricas. Também se cogitou a criação de uma CPI para inspecionar
as indenizações e aplicações dos recursos das compensações das usinas.
Segundo o Ministério Público, tanto a
esfera federal como a estadual tentaram de todas as formas impedir o
licenciamento das usinas, mas não tiveram sucesso. Durante todo o processo,
foram cerca de 20 ações civis públicas contra os empreendimentos.
Compensação. A paralisação de Santo
Antônio terá de ser compensada pelas hidrelétricas do Sul e Sudeste, que vivem
período completamente oposto das usinas do Rio Madeira. A estiagem que atingiu
as duas regiões no início deste ano reduziu de forma preocupante o nível dos
reservatórios a ponto de especialistas cogitarem a possibilidade de novo
racionamento no País – o que foi afastado pelo Governo Federal. Jirau e Santo
Antônio estavam injetando cerca de 600 megawatts médios no sistema, sendo que
uma parte desse volume vinha para o Sul.
Rondônia ao Vivo/Painel Político
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