Índios isolados fazem contato no Acre (Foto: Divulgação/Funai) |
A presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai),
Maria Augusta Assirati, afirmou nesta terça-feira (12), haver relatos de que
índios isolados recentemente encontrados no Acre buscaram contato com outros
indígenas por pressão e agressões contra eles por parte de não-índios,
possivelmente do Peru – o país faz fronteira com a região.
No último dia 30 de junho, funcionários da
Funai registraram em vídeo o que teria sido um dos primeiros contatos de três
índios isolados com indígenas ashaninkas, na Aldeia Simpatia, da Terra Indígena
Kampa e Isolados do Alto Rio Envira, próximo ao município de Feijó.Em entrevista concedida à imprensa nesta terça, Assirati disse que já pediu informações ao Peru, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, em busca de informações sobre possíveis pressões sobre os isolados do lado peruano.
"Não temos como confirmar. Estamos
fazendo um processo de investigação e precisamos que conte com o apoio do lado
do governo peruano, justamente para identificar quais são as pressões e de onde
têm vindo", afirmou.
"Não tem indícios e não podemos
afirmar que as pressões estão vindo do lado do Peru. Em identificando as
pressões, que elas venham a ser enfrentadas conjuntamente pelos dois
governos", completou.
Índios isolados são aqueles que não têm contato com o
mundo exterior, normalmente por opção própria. A política atual da Funai para
os isolados é deixá-los viver em isolamento enquanto assim preferirem.
No vídeo gravado por funcionários da
Funai, é registrado saque de machados e outros utensílios dentro da aldeia.
O coordenador-geral de Índios Isolados e
Recém Contatados da Funai, Carlos Lisboa Travassos, acredita ser "pouco
provável" que qualquer ação de pressão do lado brasileiro tenha sido
motivo para o contato. Ele afirmou que há relatos dos índios isolados de que homens
armados em território não brasileiro teriam matado alguns integrantes da etnia.
Travassos disse ainda que não sabe se
outros índios chegarão à base da Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) Xinane,
local onde estão 24 indígenas. "A gente não sabe exatamente se vão chegar
mais ou não. Também a gente não sabe se eles vão permanecer lá ou se vão querer
retornar para a aldeia deles."
Segundo o coordenador-geral, a base do
Xinane, reativada no dia 7 de julho, precisa de melhorias na estrutura
"para garantir um melhor atendimento" aos indígenas. "Falta de
alimentação não existe. A gente tem mantido um deslocamento e a tendência é
melhorar cada vez mais a estrutura."
No vídeo, alguns isolados aparecem com
ferramentas de metal. Segundo a Funai, elas podem ter sido furtadas de pessoas
que circulam pela floresta, como madeireiros ou outros moradores próximos, ou
podem ter sido deixadas por funcionários do órgão, para evitar que eles busquem
contato para tentar obtê-las e acabem se envolvendo em algum incidente.
O primeiro contato
No início de junho, os ashaninkas da aldeia Simpatia entraram em contato com a Funai relatando a presença e movimentação de índios isolados próximo à comunidade. A Frente de Proteção Etnoambiental Envira se deslocou para o local em busca de vestígios de isolados e, ao confirmar a presença, implementou o plano de contingência previsto para situações de contato.
Segundo Travassos, o primeiro contato,
feito de forma indireta, no dia 26 de junho, foi realizado na base da Funai,
quando dois índios isolados foram avistados próximos ao rio, mas apenas no dia
29 foi realizado o primeiro contato direto, já na Aldeia Simpatia. Nos dia
seguinte, houve outro contato, registrado em vídeo, que mostra o instante em
que um índio entrega um cacho de bananas aos isolados.
Os isolados retornaram no dia 5 de julho,
segundo Travassos, e chegaram a contrair gripe, foram tratados e retornaram
para suas malocas, dentro da mata. Segundo a coordenadora da Secretaria
Especial de Saúde, Danielle Cavalcante, os sete índios isolados que pegaram
gripe já estão "em bom estado de saúde". "Não teve nenhuma
alteração nos resultados dos exames. Estão curados e já foram imunizados. Não
houve nenhuma manifestação que nos dissesse que essa gripe tenha passado para
os outros", afirmou.
Atualmente, a equipe da Funai que mantém
contato com os índios isolados conta com três interpretes, quatro servidores da
fundação, dois médicos, enfermeira e técnico de enfermagem da Secretaria
Especial de Saúde Indígena, além de três colaboradores de apoio.
G!/AC
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