Depoimento de Meire Poza à Polícia Federal envolve integrantes do governo do Maranhão. Informações serão encaminhadas ao STJ |
Em reportagem levada ao ar na noite desta segunda-feira (11),
a Rede Globo informa que o Jornal Nacional teve acesso ao conteúdo de um
depoimento de Meire Poza, contadora do doleiro Alberto Youssef, que foi um dos
presos na operação Lava Jato.De acordo com a reportagem, com base em
informações da Polícia Federal, a contadora revelou um esquema de suborno,
envolvendo pagamentos judiciais, o doleiro, uma construtora e integrantes do
governo do Maranhão.
Segundo a contadora, a construtora Constran pediu que Alberto
Youssef subornasse o governo do Maranhão oferecendo R$ 6 milhões. Em troca, a
empresa furaria a fila desses pagamentos judiciais e receberia,
antecipadamente, R$ 120 milhões em precatórios, que são dívidas de governos
reconhecidas pela Justiça.
Por ter negociado o acordo, Youssef receberia R$ 12 milhões.
Depois da suposta combinação, o governo estadual começou a liberar as parcelas
do precatório, no valor de R$ 4,7 milhões cada uma. Até agora, foram pagos R$
33 milhões. A última parcela, de acordo com o portal da transparência do
Maranhão, foi paga no dia seis.
Segundo a contadora, para combinar os detalhes da operação,
houve uma reunião no dia 10 de setembro do ano passado, da qual participaram
João Guilherme Abreu, Secretário Chefe da Casa Civil do Maranhão; um assessor
identificado por ela como Bringel; a presidente do Instituto de Previdência do
Estado, que arcaria com os riscos da operação, Maria da Graça Marques Cutrim; e
uma procuradora do estado chamada Helena Maria Cavalcanti Haickel.
No depoimento, a contadora afirmou que o governo do Maranhão
mantinha Alberto Youssef sob pressão para receber a propina. E que, se o
suborno não fosse pago integralmente, as parcelas do precatório seriam
suspensas. Youssef foi preso, em São Luís, em março deste ano.Segundo Meire,
ele esteve na cidade no dia 17 de março para pagar propina a pessoas da alta
administração do governo estadual.
Fotos do relatório da Polícia Federal, do mesmo dia, mostram
Youssef em um hotel (Luzeiros) com um homem identificado como Marco Antônio de
Campos Ziegert. Youssef chegou com duas malas. Marco Ziegert, com uma. Os dois
se hospedaram em andares diferentes. Às 3h29 da manhã,
Youssef foi ao andar de Marco levando uma mala. E às 3h39,
entrou no elevador sem a mala. Às 10h47 do dia seguinte, Marco deixou o hotel,
segundo a Polícia Federal, com a mala entregue pelo doleiro.
A contadora disse que Youssef estava naquele dia com parte da
propina, R$ 1,4 milhão em dinheiro vivo. E que, segundo a PF, foi entregue a
uma pessoa identificada como Marcão. Segundo o relatório da PF, Marcos Ziegert
deixou uma caixa na recepção do hotel para ser entregue a Milton Braga Durans,
assessor da Casa Civil do governo Roseana Sarney. Ainda segundo a PF, Milton
esteve no hotel dias depois para pegar a caixa.
Além do doleiro, a contadora cita Adarico Negromonte, irmão do
ex-ministro das Cidades Mário Negromonte. Ela diz que Adarico contou que foi ao
governo do Maranhão entregar R$ 300 mil, que seriam parte do acordo. Segundo
Meire, um assessor teria dito a Adarico que o valor era pouco e que teria que
consultar a governadora Roseana Sarney.
A Justiça Federal do Paraná vai encaminhar as informações ao
Superior Tribunal de Justiça, a quem cabe fazer apurações de denúncias
envolvendo governadores.Em relação ao precatório pago à Constran, o governo do
Maranhão afirmou que apenas cumpriu o que foi decidido pela Justiça do estado e
por Tribunais Superiores Federais, de acordo com a lei e sem nenhum
favorecimento.
A governadora Roseana Sarney declarou que jamais teve
conhecimento de pagamento de propina a funcionários do governo. A secretária
adjunta de Gestão e Previdência, na época, Maria da Graça Marques Cutrim, disse
que foi a uma reunião como convidada – e que os participantes fizeram uma
proposta de criação de um fundo de investimentos. Mas, segundo ela, o governo
do Maranhão não poderia participar – porque só faz aplicações no Banco do
Brasil.
Segundo o governo do Maranhão, João Guilherme Abreu não é mais
da Casa Civil. Ele e a procuradora do estado Helena Maria Cavalcanti Haickel
não foram encontrados para falar do assunto. O Jornal Nacional não conseguiu
contato com nenhum representante da empresa Constran. Os demais citados pela
contadora também não foram encontrados.
Jornal Pequeno
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