As famílias dos três homens mortos
pelos índios Tenharim em dezembro de 2013, em Humaitá, Sul do Amazonas,
entraram com uma ação nesta terça-feira (5), pedindo ressarcimento pelos danos
materiais e morais à Fundação Nacional do Índio (Funai), por entenderem que ela
deve responder pelas ações dos indígenas, grupo social sob sua tutela.
Os espólios pedem valores a
partir de R$ 10 mil a título de danos morais e variados a título de danos
materiais, que foram calculados multiplicando-se a renda das vítimas pelo número
de anos que viveriam até atingir a estimativa de vida pacificada nos tribunais
nacionais, 71 anos. No caso de Luciano, a família pede, ao todo, cerca de R$
12,5 milhões.
As famílias também pedem a
inclusão da União na ação como litisconsorte passivo necessário, isto é, um
ente que tem de participar do processo devido à sua relação com a demanda.
Nesse caso, a relação se dá uma vez que a Funai ser uma autarquia pertencente à
União.
As ações, impetradas pelo
advogado Carlos Evaldo Terrinha Almeida de Souza, responsabilizam a Funai de
conivência com a prática dos índios Tenharim de cobrar “pedágios” abusivos na
BR-230, a Transamazônica, que passa pelas terras indígenas.
“[As] empresas que por ali
trafegavam, levando suprimentos para as cidades e comunidades, sem
alternativas, sujeitavam-se às regras dos Tenharim, pagando-lhes os pedágios
ilegais, pois caso contrário, eram proibidos de fazer a passagem, tendo seus
veículos sequestrados e apropriados indevidamente pelos índios, que exigiam dos
proprietários o pagamento de valores exorbitantes para liberação de seus
veículos”, alegam os documentos.
Funai
conivente com o ilícito
Como há indícios que a
prática era comum, a ação de danos morais e materiais é movida contra a Funai
pois, de acordo com ela, os Tenharim “tutelados pela requerida, estavam
acostumados a agir com arbitrariedade, violência, e desumanidade, frisando-se,
por oportuno, que todo o ocorrido era do inteiro conhecimento da Funai, sendo a
mesma conivente e omissa na prática dos ilícitos”.
Conforme atesta a família,
essa prática permitiu que as três vítimas fossem abordadas enquanto passavam
pela estrada, rumo a Apuí, e fossem sequestrados, torturados e mortos em
seguida. Segundo o documento, a ação dos índios partiu de um desejo de vingar a
morte do cacique Ivan Tenharim, que tinha sido vitimado por um acidente
automobilístico dias antes do triplo homicídio.
Varas
competentes
A ação do espólio do
funcionário da Eletrobrás Amazonas Energia Aldeney Ribeiro Salvador tramitará
na 1ª Vara Federal da Seção Judiciária do Amazonas. Já as ações dos espólios do
representante comercial Luciano da Conceição Ferreira Freire e do professor
Stef Pinheiro de Souza tramitarão na 3ª Vara Federal da Seção Judiciária do
Amazonas.
Circunstâncias
da morte
O professor Stef Pinheiro
de Souza, o representante comercial Luciano Ferreira Freire e o funcionário da
Eletrobrás Amazonas Energia Aldeney Ribeiro Salvador faziam uma viagem de
rotina pela rodovia no dia 16 de dezembro de 2013, em um Gol preto, quando desapareceram
no trecho da rodovia que corta a terra indígena Tenharim, onde os índios cobram
pedágio para veículos passarem.
As famílias levaram o caso às autoridades
policiais, que iniciaram uma mega operação de buscas, comandada pela
Polícia Federal, com apoio da Força Nacional, Exército, Polícia Militar e
Polícia Civil dos estados do Amazonas e Rondônia.
As investigações concluíram que as vítimas
foram seqüestradas assassinadas a tiros no dia 16 de dezembro de 2013, ainda
dentro do veículo no qual seguiam em viagem pela Rodovia Transamazônica
(BR-230) com destino ao município de Apuí. O veículo foi incendiado. Os corpos foram
ocultados por parte dos denunciados e só foram encontrados no dia 3 de
fevereiro de 2014.
Segundo a polícia, os três corpos estavam enterrados em uma única vala e
possuíam características de execução por arma de fogo e foram encontrados pelo
cão Horus, do canil da Polícia Militar do Amazonas (PMAM).
Os corpos dos três trabalhadores foram sepultados pelos
familiares no dia 6 de fevereiro, em Manaus, Apuí e Humaitá.
Prisão dos
índios
As prisões dos cinco índios ocorreram
durante a grande operação força-tarefa no dia 30 de janeiro, que contou com
apoio de helicópteros e a presença do superintendente da PF de Rondônia, na
região da aldeia Tracuá, na reserva indígena Tenharim-Marmelos, em Manicoré, no
Amazonas. As prisões foram o resultado de uma série de depoimentos coletados
pela força-tarefa com índios Tenharim e Jiahui para elucidar o crime.
Os suspeitos Gilvan Tenharim, Gilson Tenharim,
Domiceno Tenharim, Valdinar Tenharim e Simeão Tenharim estão presos desde o dia
30 de janeiro no Centro de Ressocialização do Vale do Guaporé, em Porto Velho
(RO).
A Crítica
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