Nas eleições deste ano, 762
municípios, entre eles 15 capitais, usarão urnas biométricas para identificação
dos eleitores. Ao todo, 21,6 milhões de pessoas serão identificadas pelo
método, o que significa 15% do total de eleitores do país.
Como as
impressões digitais de uma pessoa são únicas e a comparação na base de dados é
feita por um programa de computador, a biometria é considerada um dos processos
mais modernos e eficazes de identificação humana na atualidade.
“É o
processo mais seguro que existe”, garante o secretário de Tecnologia da
Informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Giuseppe Janino. Segundo ele,
o propósito de usar a biometria é reduzir a intervenção humana no processo
eleitoral ao máximo e, consequentemente, reduzir também os riscos de erros,
fraudes e lentidão. “Podemos dizer que não existe sistema perfeito, mas
certamente a identificação biométrica é infinitamente mais precisa e segura que
a identificação normal, feita pelo homem”, destaca.
De
acordo com Janino, neste momento, o foco do sistema biométrico não é a
agilidade no processo de apuração e sim a redução de riscos de fraudes. “O
processo de identificação serve para impedir que uma pessoa se passe por outra.
Ele vai tornar mais seguro e preciso, não contamos com agilidade, especialmente
nesse primeiro momento. Talvez, no futuro”, explica.
Crítico do uso da biometria nas
eleições, o professor Pedro Antonio Dourado de Rezende, do Departamento de
Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB), no entanto, alerta que
existe a probabilidade de erros. “Qualquer método de identificação biométrica
será baseado em alguma técnica probabilística, envolvendo reconhecimento
aproximado de padrões – entre um padrão cadastrado e um apresentado –, e, por
isso, será sempre sujeito a erros. Usado em larga escala, como em nosso
processo de votação, esses erros se tornam inevitáveis, e com porcentagem de
ocorrências previsível”, diz o professor.
Segundo
Rezende, nos casos em que o leitor ótico não conseguir identificar a digital
(falso negativo), o mesário terá que fazer a identificação (por meio dos
documentos do eleitor) e usar uma senha própria para liberar a urna para
votação. Na opinião dele, tal procedimento abre brechas na segurança. “Os que
forem desonestos continuam podendo usá-la [a senha] para liberar a urna para
alguém votar por eleitores que se abstiveram, no fim do dia, por exemplo”,
alega.
Para o
professor Luís Kalb Roses, do curso de mestrado em Gestão de Tecnologia da
Informação da Universidade Católica de Brasília, a solução para as suspeitas
está em promover auditorias no processo e buscar a certificação do sistema
utilizado. “A biometria é uma solução tecnológica para a autenticidade. Agora,
uma coisa é o equipamento que você coloca o polegar. A outra é o processo que
faz o confronto dessa digital com a que está no banco de dados. Então o
processo de verificação dessa digital tem que estar funcionando a contento. Por
isso, é importante ter sempre auditorias”, diz.
O
professor Kalb concorda, no entanto, que a biometria é uma “excelente opção
tecnológica para identificar o usuário”. “A solução de biometria faz parte de
uma solução de segurança, mas só ela não garante toda a segurança do processo”,
diz.
Atualmente,
a identificação por meio da digital é utilizada, entre outros setores, pelo
sistema bancário para autorização de transações como saques e retirada de
extratos em caixas eletrônicos.
O
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou à Agência Brasil que a identificação biométrica passa
por mais de 20 tipos de testes de funcionalidade. “Desde a primeira experiência
com a identificação biométrica, nas eleições de 2008, avaliam-se os indicadores
de não reconhecimento (falsos negativos), como forma de verificação da
qualidade dos softwares que analisam as minúcias das digitais,
bem como a qualidade dos dados colhidos no processo de cadastramento. Pela
análise realizada nas últimas eleições, o índice de não reconhecimento gira em
torno de 4%”, disse o tribunal, por e-mail, à reportagem.
Em caso
de o eleitor não ser reconhecido por meio das digitais, ele deverá apresentar
um documento com foto para que o mesário faça a conferência na folha de
votação. Nos processos internos de auditoria do cadastro, quando há dúvida
sobre a digital entre dois indivíduos, é utilizada análise matemática das
características da face por programa de computador.
No dia
da votação, o eleitor deverá comparecer à sessão portando documento oficial com
foto, além do título de eleitor. O número de inscrição será digitado no
microterminal da urna e o cidadão colocará o dedo no leitor óptico. O programa
fará a conferência da digital e, caso dê positivo, a urna será destravada para
que ele vote. Os eleitores que passaram pelo recadastramento biométrico devem
ficar atentos a possíveis mudanças de zonas eleitorais.
Agência Brasil
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