Franciene tinha 27 anos e estava há três na Polícia Militar Foto: Reprodução/Facebook |
Aos 27 anos, Franciene Soares de Souza passava por uma das
melhores fases da vida. O trabalho na Polícia Militar, a faculdade de Nutrição,
a diabetes tipo 1 controlada com cuidados médicos e hábitos saudáveis, a ótima
relação com a mãe e a filha de 6 anos, as saídas ocasionais para sambas e
pagodes na Zona Oeste — tudo contribuía para a felicidade de Fran, como era
conhecida. Amigos mais próximos acreditam que foi numa dessas noitadas que a
morena conheceu o contraventor Haylton Carlos Gomes Escafura, de 37 anos, filho
do bicheiro José Caruzzo Escafura, o Piruinha. No último dia 14, Haylton foi
executado com mais de 20 tiros. Franciene, que o acompanhava em um quarto do
hotel Transamérica, na Barra da Tijuca, também foi assassinada.
—
Ela estava no lugar errado e na hora errada — repetiram três pessoas ouvidas
pelo EXTRA na apuração dessa reportagem.
"Ela tinha muito orgulho de ser policial", contam os amigos' Foto: Reprodução/Facebook |
Nem os
amigos mais chegados, nem a família de Franciene, porém, sabiam da existência
de Haylton. Até o fim de janeiro, a jovem estava noiva de um bombeiro, com quem
se relacionou por cerca de dois anos. Desde então, não assumiu nenhum
relacionamento sério. O palpite mais comum é que Fran, passista da Beija-Flor
de Nilópolis e da Unidos de Padre Miguel, soubesse de quem Haylton era filho,
mas não a dimensão do envolvimento dele próprio com a contravenção. O bicheiro,
por sua vez, havia deixado a prisão em fevereiro, após obter liberdade
condicional. A intensidade da relação entre os dois ou o momento em que ela
teve início são uma incógnita.
—
A gente conversava muito, inclusive sobre questões afetivas. Estivemos juntas
no fim de semana anterior (à morte) e perguntei sobre isso, mas ela disse que
não tinha ninguém. Nem a mãe sabia desse rapaz — afirmou uma amiga de mais de
uma década.
A menina em um passeio com duas crianças: a filha dela e a do ex-noivo Foto: Reprodução/Facebook |
A menina em outro passeio com as duas meninas Foto: Reprodução/Facebook |
A filha da policial só soube da morte da mãe uma semana após
o crime, sem maiores detalhes. Abalada, a criança está na casa da avó, com quem
as duas já moravam há alguns anos em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.
Franciene era extremamente ligada à filha de 6 anos Foto: Reprodução/Facebook |
Ex-marido está desaparecido e
era suspeito de envolvimento com milícia
A
menina é filha da relação entre Franciene e o também policial militar Guilherme
Assis Lima. O casal oficializou a união em 2007, quando Fran tinha apenas 18
anos. Em abril de 2012, Guilherme desapareceu quando foi visitar o pai em
Sepetiba, também na Zona Oeste. O cabo do Batalhão de Choque era apontado à
época pela Polícia Civil como integrante de uma quadrilha de milicianos, sendo
responsável por controlar a comunidade João XXIII, em Santa Cruz.
A menina só soube uma semana depois da morte da mãe Foto: Reprodução/Facebook |
Pouco antes, Franciene havia passado em seu primeiro concurso
público e se tornara guarda municipal. Depois de tentar, sem sucesso, uma vaga
como agente penitenciária, ela ingressou na PM em 2014. De acordo com a
corporação, “a pesquisa social não constatou nada que desabonasse” a conduta da
recruta. Já Guilherme foi excluído em junho de 2012 por deserção, sem jamais
ter sido alvo de “qualquer procedimento interno” até então.
Franciene frequentava a academia regularmente Foto: Reprodução/Facebook |
Diabética, Fran passou a cultivar o hábito de cuidar do corpo e decidiu cursar nutrição Foto: Reprodução/Facebook |
O sumiço do marido colocou a vida da jovem de pernas pro ar.
As prestações do apartamento em Campo Grande, onde a família morava, eram
descontadas no contracheque de Guilherme. Quando ele foi considerado desertor e
excluído da PM, os pagamentos cessaram, e a Caixa Econômica Federal retomou o
imóvel. Foi nesse momento que Fran e a filha precisaram buscar refúgio na casa
da mãe da jovem.
Homenagem feita pela jovem à mãe nas redes sociais Foto: Reprodução/Facebook |
Só em
abril deste ano, após um longo e demorado trâmite judicial, Franciene conseguiu
a “declaração de ausência” do ex-marido. A medida abre a possibilidade, por
exemplo, de que a filha do casal venha a receber pensão devido à situação do
pai.
—
A menina era a grande paixão dela. Não importa o que tinha de trabalho, de
faculdade, de estudo para concurso... A Fran sempre arrumava um tempo para a
filha, era algo muito lindo — lembra, emocionada, uma amiga.
Franciene foi assassinada na companhia do bicheiro Haylton Escafura Foto: Reprodução/Facebook |
‘A Fran não era uma
aproveitadora’
Depoimento de uma amiga da PM,
que preferiu não se identificar
“Não
tinha como não ficar amiga da Fran. Acho que nunca a vi triste ou chateada. Era
uma pessoa radiante, que gostava demais de viver. As pessoas estão falando
muita coisa, só que não a conheceram. Ela não era uma aproveitadora, tudo o que
tinha batalhou demais para conseguir, correu atrás. Essa história pegou todo
mundo de surpresa não só pela morte em si, mas também porque não era do feitio
dela estar no meio de uma situação como essa. Acho que ela não imaginava o
quanto ele era envolvido nem sabia do risco que poderia correr.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário