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sábado, 29 de abril de 2017

Após tráfico ordenar o fechamento do comércio na Tijuca, moradores lamentam ‘a volta aos velhos tempos’

Apesar da retomada à rotina, clima no bairro ainda é de medo

Quiteria Noronha critica falta de segurança na Tijuca Foto: Fabio Guimaraes / Agência O Globo
Quiteria Noronha critica falta de segurança na Tijuca -
Fabio Guimaraes / Agência O Globo
RIO - A aposentada Quitéria Noronha, de 67 anos, saiu com dois cachorros para passear pelas ruas da Tijuca e, quando chegou à portaria de seu prédio, foi avisada que todo o comércio do Largo da Segunda-Feira estava fechado, em plena manhã de quinta-feira. Retornou para casa, onde permaneceu o dia inteiro trancada, apavorada. Uma outra moradora, Kátia Lemos, de 52 anos, também ficou “exilada” dentro de seu apartamento — e pior, sem nada para beber, já que a loja onde costuma pedir garrafões de água mineral arriou a porta. Já a produtora Karolina Ávila, de 40 anos, ia a um salão de beleza quando sua manicure lhe informou, por uma mensagem de celular, que o estabelecimento encerrou o expediente mais cedo por ordem de traficantes. Ela ainda arriscou uma caminhada da Rua Haddock Lobo em direção à Praça Saens Peña, mas ficou com medo ao se sentir “num deserto”.

ROTINA RETOMADA, MAS SEM PAZ

As lojas reabriram nesta quinta-feira, após 24 horas de luto imposto por bandidos do Morro do Turano. Motociclistas haviam saído em grupos da comunidade para ordenar o fechamento do comércio em homenagem ao traficante Gilson Baixinho, morto durante uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope). A rotina foi retomada; mas a tranquilidade, não. Enquanto comerciantes reclamavam do prejuízo de um dia sem vendas, moradores manifestavam a saudade dos “bons tempos”, numa referência ao período em que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) da região contribuíam para uma redução nos índices de criminalidade.

— A quinta-feira foi horrível. A sensação era de humilhação. Voltamos aos anos 1990, quando bandidos mandavam fechar tudo e pronto. Hoje não adianta procurar a PM: quando há um policial dentro da cabine, ele diz que não pode sair — reclamou Quitéria Noronha, apontando para a estrutura blindada vazia que está instalada na esquina das ruas São Francisco Xavier e Conde de Bonfim.
Apesar de todas as lojas estarem abertas, as palavras “insegurança”, “medo” e “absurdo” eram ditas e ouvidas em profusão nas rodinhas de conversa que se formavam nas calçadas. Um comerciante, que pediu para não ser identificado, recordou os recentes momentos de tensão:

— Eu e meu irmão ouvimos o aviso dos motociclistas do Turano pela manhã. Relutamos em fechar nossa loja, mas chegou uma hora em que até o supermercado Mundial (do Largo da Segunda-Feira) parou de funcionar. Aí, não teve jeito. Trancamos a porta e fomos embora. As ruas estavam mesmo um deserto.

Uma dona de casa, que também pediu anonimato, reclamou do policiamento no dia seguinte ao luto forçado:

— A impressão de que estamos abandonados é forte. Mas sejamos sinceros: isso é na cidade inteira. Estamos largados à própria sorte.

Uma equipe do GLOBO circulou pelas ruas Conde de Bonfim e Haddock Lobo por volta das 11h30m e, no percurso, não viu PMs a pé ou em veículos.

MAIOR NÚMERO DE ASSALTOS

Os últimos dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que, numa comparação do mês passado com março de 2016, houve um aumento de 37% nos registros de roubos a pedestres na área que abrange a Cidade Nova, a Praça da Bandeira e a Tijuca. Já os assaltos a estabelecimentos comerciais subiram 30%. Apesar disso, a Polícia Militar afirmou, em uma nota, que a região conta com patrulhamento feito com rondas em viaturas e com equipes distribuídas de acordo com a mancha criminal. Ainda segundo a PM, o policiamento foi ostensivo, ontem, na Tijuca e nos bairros vizinhos.

O presidente da Associação Comercial e Industrial da Tijuca, Jaime Miranda, destacou que todos os estabelecimentos situados entre o Largo da Segunda-Feira e a Avenida Paulo de Frontin ficaram fechados ao longo da quinta-feira. Para ele, a crise financeira do estado vem afetando muito a segurança da região:

— A Tijuca, anos atrás, tinha um estigma de bairro violento. Infelizmente, estamos retornando àquele tempo. Os moradores voltaram a ter medo de sair à noite, a quantidade de assaltos vem crescendo. A polícia faz o que pode, mas o cobertor é curto.





O Globo

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