Um estudo desenvolvido na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), pela médica e pesquisadora Camila Helena Menezes, juntamente com a orientadora do projeto, a médica infectologista e doutora em Medicina Tropical, Flor Martinez Espinosa, está analisando as consequências da Malária em gestantes e nos bebês, antes e após o nascimento.
A pesquisa é desenvolvida com o apoio
do Governo do Amazonas por meio do Programa de Apoio a Excelência Acadêmica
(Pró-Excelência), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(Fapeam). O estudo iniciou pelo Pró-Excelência em 2016, mas as pesquisas nessa
área vêm sendo realizadas desde 1995, na FMT-HVD.
De acordo com a pesquisadora
Espinosa, a região amazônica é uma das áreas mais endêmicas de malária em todo
o Brasil. A maior quantidade de casos está concentrada em Manaus, e o Amazonas
está entre os Estados que tem mais casos de malária no país.
Ela explica ainda
que a malária é transmitida por um vetor, o Anopheles Darlingi,
produzida por um parasita chamado Plasmodium, do qual existem quatro espécies
que causam malária no homem. O objeto do estudo é o Plasmodium Vivax. A medica
explica também que para haver transmissão é necessário que uma pessoa
esteja portando os gametócitos, a forma infectante para o mosquito, que pica o
portador do parasita e fica contaminado. Caso o mosquito pique alguém suscetível,
ou seja, alguém que não esteja infectado, a malária pode ser transmitida.
“No caso da gestante, ela é uma
hospedeira mais passível de adquirir a malária porque ela, morando em uma área
de transmissão, tem mais chances de ser infectada do que qualquer outra pessoa.
A gestante também está mais vulnerável a desenvolver a doença na forma mais
grave, pela alteração fisiológica é passível de contrair determinadas
infecções”, disse Espinosa.
Ainda segundo a doutora, a gestante
tem uma alteração no sistema imunológico e passa por um período de
imunoadaptação, que é necessário para ela conseguir manter a gestação sem
reconhecer o filho como um organismo estranho, mesmo que ele seja um organismo
alheio a ela, evitando que desencadeie alguma reação do organismo contra o
bebê.
A pesquisadora Flor Martinez Espinosa
informou que a região amazônica é uma das áreas mais endêmicas de malária em
todo o Brasil
O efeito da malária
na gestante:
De acordo com a Espinosa, a gestante
infectada fica mais suscetível a ter anemia, por exemplo. Segundo ela, a mulher
grávida já tem uma potencialidade de ser anêmica, devido aos nutrientes que ela
tem de transferir para o bebê. A malária, por ser um parasita, destrói as
hemácias e compromete a formação de novas células sanguíneas.
Outra consequência é a insuficiência
renal ou uma insuficiência respiratória aguda, que pode vir ou não acompanhada
de edema pulmonar. “A gestante tem tendência a reter líquido, então, a
insuficiência respiratória aguda pode ocorrer porque o líquido ocupa o lugar
onde normalmente estaria o ar, impossibilitando a ocorrência de trocas gasosas
e dificultando, assim, a respiração”, afirmou a doutora.
A malária na gestante pode afetar também
o cérebro, ocasionando uma perda ou alteração no estado de consciência da
paciente. Outra forma de malária grave é a que se chama de “choque”, em que há
uma incapacidade de circulação sanguínea e uma queda na pressão arterial. Há
ainda o risco de ocorrer uma coagulação intravascular disseminada, que é a
incapacidade de coagular o sangue o que pode levar a uma hemorragia.
Para a pesquisadora, todas essas
formas são muito graves e precisam de uma atenção imediata. “Quando nós
começamos os estudos de malária em gestantes aqui na instituição, observamos
que muitos casos vieram a óbito. Esse quadro só mudou com os programas
governamentais de controle e pela introdução de novas terapêuticas, como uso de
medicamentos”, ressaltou a coordenadora.
O efeito da gestação
sobre o quadro clínico de malária:
Segundo as pesquisas realizadas
durante o projeto, foi observado que as mulheres que estão na primeira
gestação, são as que mais desenvolvem formas graves de malária,
geralmente porque elas são mais jovens. Flor explica que nos lugares altamente
endêmicos, quem consegue sobreviver aos primeiros cinco anos passando por
vários episódios da doença, acaba se tornando imune a ela.
Por exemplo, uma menina que tem
vários episódios de malária, vai adquirindo imunidade com o passar do tempo e,
quando chega à adolescência, pode até ser ou estar infectada, mas não vai
desenvolver a malária porque a imunidade dificulta o desenvolvimento da doença.
“Na medicina nós chamamos isso de “premunição”, em que as pessoas se tornam resistentes
à doença, não à infecção”, disse Espinosa.
Ela explica que, quando uma mulher
com menos de 18 anos, tem a primeira gestação, volta a ter uma queda na
resistência que havia adquirido. Essa queda ocorre porque, durante a gravidez,
há uma produção de hormônios e ocorre uma perda na capacidade de imunização.
A médica Camila Menezes explica que os bebês que tiveram suas mães
infectadas com malária durante a gestação podem nascer com o peso abaixo do
normal
Pesquisadora revela
efeito da malária sobre o curso ou evolução da gestação:
A gestante com malária, pode
apresentar alguns sintomas como, sangramento vaginal e contrações uterinas,
que, se evoluírem, podem desencadear o trabalho de parto e, em consequência,
apresentar: ameaça de aborto, ameaça de parto prematuro, aborto ou parto
prematuro, dependendo da idade gestacional.
A médica explica que a presença do
sangramento uterino e/ou das contrações uterinas, sem expulsão do conteúdo
uterino, é chamado de ameaça de aborto ou de ameaça de parto prematuro. Uma
gestação dura, em média, 40 semanas. Caso haja uma expulsão do conteúdo uterino
antes de 20 semanas, é chamado de aborto, se for depois disso e antes de 37
semanas é chamado de parto prematuro. “Na FMT isso ocorre em um a cada quatro
gestantes com malária”, revela.
A malária
placentária:
A infecção placentária ocorre quando
a gestante está infectada com o Plasmodium, pois o parasita circula pelos vasos
sanguíneos do corpo e pode se alojar na placenta. Caso isso ocorra, alguns
sinais podem ser observados, tais como: descoberta de pigmentos na placenta,
que é chamada de infecção antiga; descoberta de hemácias com parasitas, que é
chamada de infecção recente ou aguda, assim como pode ser observada a
inflamação no tecido placentário.
Caso haja uma infecção na placenta,
isso também será um fator que poderá desencadear um aborto ou um parto
prematuro, visto que a placenta deixa de ser um lugar ideal para manter o bebê
e passa a ser um risco iminente para que ocorra o término da gestação, ou seja,
a gestação será interrompida.
O efeito da malária
sobre o feto e o recém-nascido:
Uma gestante transfere nutrientes
para o bebê através da placenta e do cordão umbilical. Caso ela esteja com
malária, isso trará consequências para o bebê, pois a quantidade de nutrientes
que a mãe passará para o bebê não será o suficiente, o que fará com que se
diminua o fluxo sanguíneo e o bebê deixe de ganhar peso.
O peso ideal de um recém-nascido deve
ser acima de três mil gramas, mas os bebês que tiveram suas mães infectadas com
malária durante a gestação podem nascer com o peso abaixo do normal. As
consequências disso, segundo a doutora Flor, já começam logo após o nascimento
do bebê, pois ele precisará ficar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Na UTI se aumenta muito o risco de
morte, de infecções, além do mais, ele será um bebê que terá uma saúde frágil
durante o primeiro ano de vida. Esse bebê pode apresentar, ainda, problemas
nutricionais e não crescerá normalmente, ou seja, poderá ter o desenvolvimento
neurológico afetado e será uma criança que, por exemplo, não será capaz de se
virar quando estiver deitado, de se sentar, de engatinhar ou de caminhar na mesma
idade de uma criança sem estes antecedentes. Então, as consequências ocorrerão
por um período de tempo e não somente durante a gravidez da mãe”, afirmou
Martinez.
O projeto de pesquisa já rendeu
vários artigos científicos e agora é o tema de doutorado da pesquisadora Camila
Menezes, da qual a doutora Flor é orientadora. Para Camila, a Fapeam foi
essencial para cada processo de desenvolvimento desse estudo.
A pesquisadora Camila Helena Menezes
revelou que esse trabalho sobre malária em gestantes tem um peso relevante para
combater a doença
“Eu comecei na Fapeam como bolsista
de iniciação científica e desde lá ela vem me incentivando a seguir nesse ramo
e realizar mais pesquisas que trarão um retorno significativo para o Amazonas e
para o nosso país. Este trabalho sobre malária em gestantes, é um dos que estão
tendo um peso relevante para o combate a esta doença, por isso estamos
trabalhando para que cada vez mais se diminua os casos nessa região”, disse a
pesquisadora Camila Menezes.
Portal do Amazonas
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