Amigo de Bruno Borges conta que o jovem fez jejum
durante 12 dias enquanto trabalhava nos escritos que deixou. Estudante de
psicologia está desaparecido desde o dia 27 de março.
Bruno está desaparecido desde a tarde de segunda (27), em Rio
Branco. Jovem teria desejo de viver isolado em caverna, segundo amigo (Foto:
Arquivo da Família)
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O estudante de psicologia Bruno Borges, de 24 anos, desaparecido desde 27 de março no Acre, teria
relatado ao amigo Márcio Gaiote o desejo de ficar isolado e viver em uma
caverna. O amigo afirma que Borges disse ter uma missão - que precisava passar
adiante o conhecimento que adquiriu, mantendo os ensinamentos na Terra.
"Ele era
muito simples, humilde e isso me chamou atenção. Até brincava com ele,
perguntava como ele iria viver em uma caverna se não sabia nem fritar um ovo.
Falei que ele teria que caçar, fazer fogo, esse tipo de coisa e que era melhor
ele comprar um apartamento e ficar lendo os livros dele. Mas ele falou que
tinha vontade de ser assim, que queria que a vida dele fosse assim no futuro,
se não pudesse ser agora, mas um dia seria assim", conta.
No quarto, Bruno deixou escritos feitos de forma impecável,
com precisão e simetria (Foto: Reprodução / Rede Amazônica Acre )
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Gaiote foi um dos amigos que
ajudaram o acreano durante o projeto misterioso de Bruno. Antes de desaparecer,
o estudante deixou 14 livros escritos à mão e criptografados, além de ter
reproduzido os escritos em seu quarto. Segundo o amigo, durante esse período
Borges comia apenas frutas, mas chegou a fazer até 12 dias de jejum enquanto
trabalhava nos escritos, afirmando que dessa maneira conseguia trabalhar melhor.
O amigo afirma
que o estudante relatava que quando estava em jejum e fazia meditação conseguia
acessar o mundo das ideias e gostava de pegar coisas desse mundo e trazer para
a realidade.
"Ele só
bebia água, dizia que era melhor para ele trabalhar assim. Eu ficava até
preocupado com ele, sempre chamava a atenção e dizia para ele comer. O Bruno
emagreceu muito nos últimos dias para concluir o projeto. Mas, ele não me deu
nenhuma outra informação para que eu possa dizer o que era o projeto", afirma.
Gaiote, amigo de Bruno Borges, diz que jovem fez jejum
durante dias em que trabalhava em quarto e bebia apenas água (Foto:
Reprodução/Rede Amazônica Acre)
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Apesar de ter ajudado a carregar e
colocar a estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600) no quarto de Borges,
Gaiote afirma que não sabe maiores informações sobre o projeto do estudante de
psicologia. Bruno teria confidenciado a ele que queria publicar alguns livros,
mas antes precisava montar uma teoria e ler para formular melhor a sua ideia.
"Ele disse
que era uma coisa bem secreta, não me deu muitas informações. Perguntei porque
ele queria colocar uma estátua no quarto e ele disse apenas que fazia parte do
projeto. Quando ajudei, ele tinha começado a escrever alguma coisa no chão do
armário, mas a parede ainda estava intacta", lembra.
O estudante
teria dito a Gaiote que "pessoas ignorantes" poderiam acabar com o
projeto dele e achariam que ele estava louco. Para Gaiote, Borges talvez tenha
feito algo similar ao Mito da Caverna, de Platão.
"Ele teve
um conhecimento que precisou passar para as pessoas, acreditando ele, e já
sabendo que as pessoas não aceitariam de primeira resolveu talvez se evadir, ou
meditar, não sei. Isso talvez seja para que as pessoas analisem melhor aquilo e
deem mais atenção. Acho que pode ter sido por isso que ele fugiu",
acredita.
Bruno quer patentear livros que escreveu, segundo a mãe.
Livros foram deixados criptografados por jovem (Foto: Reprodução/Rede Amazônica
Acre)
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Desaparecimento
A última vez
que os parentes viram Bruno foi durante o almoço de família em Rio Branco. O
jovem voltou para casa e todos - mãe, pai e os outros dois irmãos - seguiram o
dia normal de trabalho. Mais tarde, o pai de Bruno, o empresário Athos Borges,
retornou à residência da família e percebeu que o filho não estava.
No quarto do
estudante, que ficou trancado por 24 dias enquanto os pais viajavam, foi
encontrada uma estátua do filósofo Giordano Bruno (1548-1600) orçada em R$ 7 mil,
e 14 livros extremamente organizados, escritos à
mão. Alguns deles copiados nas paredes, teto e chão. Todas as obras –
identificadas por números romanos – criptografadas.
Estátua do filósofo e teólogo Giordano Bruno está no quarto
de Bruno (Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre)
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Junto com os 14 livros
criptografados deixados no quarto o estudante também deixou
as "chaves" que
servem como guia para a decodificação. De acordo com a família, os escritos
foram feitos com a utilização de pelo menos quatro códigos diferentes.
A investigação
do caso é feita pela Polícia Civil do Acre de maneira sigilosa. Ao G1, o delegado Fabrizzio Sobreira, afirmou que
todas as possibilidades estão sendo consideradas para apurar o paradeiro do
acreano e diz não
descartar que o jovem tenha saído do estado.
Além dos livros, Bruno Borges também deixou as chaves para
guiarem a decodificação (Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre)
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O artista plástico Jorge Rivasplata,
de 83 anos, autor da estátua do filósofo
Giordano Bruno, disse ao G1 que
acredita que Bruno seja a reencarnação do filósofo - queimado durante a
inquisição - e tenha completado a obra dele. A escultura de mais de dois metros
foi entregue ao jovem no dia 16 de março e finalizada
pelo próprio artista dentro do quarto de Bruno.
"Tudo foi
premeditado para esse projeto, tudo o que está acontecendo já estava escrito.
Acredito muito nele. Desde que começamos a conversar sempre acreditei",
disse Rivasplata.
Artista plástico fixou estátua no quarto dias antes do jovem
desaparecer (Foto: Arquivo pessoal)
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O desaparecimento do jovem acabou inspirando a criação de jogos para smartphone. Os aplicativos foram
disponibilizados na Play Store, do Google, com os nomes "Menino do
Acre", "Encontre o Menino do Acre" e "Alquimistas do
Acre".
Um dos
aplicativos explica que os jogadores devem desvendar o mistério por trás do
desaparecimento coletando os livros - deixados criptografados pelo jovem - ao
longo do jogo. Outro game pede que o jogador toque a tela para procurar o
"menino do Acre".
G1/AC
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