Maior obra
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com custo estimado em R$ 29
bilhões e capacidade para gerar energia barata (R$ 78 o megawatt) para 60
milhões de pessoas, a usina de Belo Monte, no Pará, está sendo construída em
meio a uma guerra de ações e liminares na Justiça na tentativa de interromper
as obras. Belo Monte será a terceira maior hidrelétrica do mundo, depois de
Três Gargantas (China) e a binacional Itaipu.
O presidente da Norte Energia, consórcio que comanda a
usina, Duilio Diniz Figueiredo, garante que as condicionantes socioambientais
estão sendo implementadas e, muitas delas, a exemplo da qualidade da água, são
“perenes, tem que ser monitoradas a vida inteira”. O próximo relatório do Ibama
sai no fim de janeiro.
'A licença de instalação está pautando nossas ações',
diz.
O procurador Felício Pontes Júnior, do Ministério
Público Federal no Pará aponta várias condicionantes da licença prévia (LP)
ambiental emitida pelo Ibama que estão sendo descumpridas. Na lista, aparecem
problemas envolvendo moradias e o atraso nas obras de saneamento e saúde, por
exemplo. Segundo ele, o maior impacto ainda não aconteceu: trata-se do desvio
da Volta Grande do Xingu (desvio do Rio Xingu, que reduzirá a vazão), que vai
atingir povos indígenas e a população ribeirinha.
Sem embargo à obra
Já o procurador geral federal substituto da Advogacia
Geral da União, Renato Vieira, destacou que atualmente não há qualquer decisão
da Justiça contrária à construção de Belo Monte. Ele explicou que algumas
condicionantes socioambientais só podem ser executadas depois que a usina
estiver funcionando. Citou como exemplo o “hidrograma de consenso”, que depois
de seis anos vai medir a quantidade de vazão da água e a navegabilidade do rio.
Vieira lembra que foram ajuizadas 27 ações contra Belo
Monte: nove já foram julgadas no mérito a favor do governo.
'A Justiça sempre concordou com os argumentos do
governo federal', disse Vieira.
Os atrasos nos projetos socioambientais não devem ser
encarados como um problema, já que o mais importante é que essas obras estão
previstas em contrato, que terão de ser cumpridos pelo consórcio. Esta é a
opinião do professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do
Setor Elétrico (Gesel, do Instituto de Economia da UFRJ:
'Ter obras atrasadas não é um problema, porque implica
previamente no comprometimento do consórcio em fazer tudo o que foi
comprometido. Do ponto de vista legal, eles (a empresa) vão ter que fazer tudo
o que foi acordado.'
Para o coordenador do Gesel, quanto mais os movimentos
sociais puserem empecilhos nas obras, com liminares, mais prejudicados ficarão
os projetos socioambientais. Segundo Nivalde de Castro, é claro que uma obra do
porte de Belo Monte tem impacto na cidade. Mas ele ressalta que, a partir de
agora, o número de pessoas nos canteiros vai começar a diminuir. Para ele, o
importante serão as obras de infraestrutura, saneamento e saúde que vão ficar
para a cidade:
'É preciso ter uma visão mais pragmática e não
ideológica. Há uma posição ideológica contra a usina. Então, tudo é motivo para
suspender a obra. Saneamento, escolas e hospitais não desaparecem quando a obra
termina.'
Por outro lado, organizações ambientais como o
Instituto Socioambiental (ISA) e o Movimento Xingu Vivo fazem duras críticas ao
projeto. O secretário executivo do ISA, André Villas-Bôas, disse que o maior
problema é que o projeto - no qual a Eletrobras é dona de 50% e conta com
financiamento do BNDES - é fiscalizado pelo próprio governo:
'Nada foi feito em questões como das terras indígenas,
de saúde e saneamento. As obras da usina estão a todo vapor com 60% executadas,
enquanto as obras socioambientais estão aos trancos e barrancos, com apenas 20%
de sua execução.'
Ibama avalia condições
Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo
para Sempre, lembra que as obras de saneamento básico deveriam ter começado em
2011, mas, diz, começaram há quatro meses.
'Já encaminhamos denúncia ao Ministério Público, pois
as obras estão sendo feitas com material de baixa qualidade. Em janeiro, um
técnico do Ministério Público fará uma fiscalização. A falta de saneamento será
agravada, pois estamos entrando no período de chuvas. Altamira tem 140 mil
pessoas.
Em nota, o Ibama disse que 'avalia se o empreendedor está cumprindo as condicionantes exigidas através de um parecer técnico que avalia os relatórios semestrais consolidados'.
Em nota, o Ibama disse que 'avalia se o empreendedor está cumprindo as condicionantes exigidas através de um parecer técnico que avalia os relatórios semestrais consolidados'.
O presidente da Norte Energia classifica como
'incompreensão, falta de conhecimento e até maldade' as críticas de que não são
cumpridas exigências ambientais. Ele diz que a relação com os índios melhorou
muito, sobretudo nos últimos sete a oito meses, porque a empresa mudou o local
de trabalho.
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