A Justiça Federal acatou pedido do Ministério Público Federal no
Amazonas (MPF/AM) e determinou à União e à Fundação Nacional do Índio (Funai)
que adotem medidas de segurança, no prazo de 24 horas, para proteger a terra
indígena Tenharim Marmelos, no município de Humaitá, sul do Amazonas, diante da
ameaça de novas invasões por manifestantes não indígenas. Os órgãos também
devem promover o retorno dos indígenas que estão refugiados no 54º Batalhão de
Infantaria de Selva do Exército para suas comunidades.
De acordo com a decisão liminar, concedida na noite de sábado
(28) durante o plantão da Justiça Federal, os órgãos devem elaborar um plano
com a participação dos indígenas e o apoio das forças de segurança e instalar
postos de fiscalização nos extremos da reserva. O trânsito de não indígenas no
trecho da rodovia Transamazônica (BR-230) que corta a terra indígena também
deverá ser monitorado.
Após analisar os argumentos e documentos apresentados pelo
MPF/AM na ação, como fotos e notícias que relatam os atos de vandalismo e
manifestos discriminatórios que tiveram os indígenas como alvo, a decisão
assinada pela juíza federal Marília Gurgel afirma que a população indígena
Tenharim está “acuada” e “relegada à própria sorte” diante dos ataques que tem
sofrido por parte da população local, motivados pela suspeita de que os
Tenharim tenham envolvimento no suposto desaparecimento de três pessoas na área
da reserva.
“Não paira dúvidas de que a população indígena em Humaitá vem
sofrendo toda ordem de violência e desrespeito a seus direitos primários,
enquanto seres humanos e minoria indígena, seja a partir da destruição e
vandalismo de unidades dedicadas a seu amparo (Casai, Dsei, Funai, embarcação),
seja pela depredação de suas aldeias e limitação de trânsito”, destaca um trecho
da decisão liminar. A multa fixada por dia de descumprimento é de R$ 10 mil. A
União e a Funai podem recorrer da decisão.
Na ação, o MPF/AM argumentou que a presença de forte efetivo de
segurança apenas para fazer a busca de desaparecidos na terra indígena e depois
retirar-se torna ainda maior o risco de novas ações violentas sobre o povo
Tenharim, que já tiveram casas e bens queimados por um grupo de manifestantes,
no último dia 27. A decisão determina que as forças de segurança que participam
das buscas – Exército, Polícia Militar, Polícia Federal e Força de Segurança
Nacional – também prestem apoio ao plano de proteção à reserva e ao povo
indígena Tenharim.
Violação aos direitos humanos –
Diante dos indícios de omissão por parte da União e da Funai em garantir a
proteção dos direitos dos povos indígenas durante o conflito em Humaitá, a
Justiça Federal também determinou o envio de cópia do processo, após a
apresentação das defesas, à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para
que o órgão internacional tome ciência dos fatos envolvendo possíveis violações
aos direitos humanos e analise se a postura do Estado brasileiro no caso
descumpre as obrigações assumidas em tratados e compromissos internacionais
junto à Organização das Nações Unidas e Organização dos Estados Americanos, dos
quais o Brasil é signatário.
Portal do Holanda/MPF
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