Em clima de festa, será
promulgada nesta quinta-feira (5), a Emenda Constitucional 81/2014, que prevê a
expropriação de imóveis onde seja identificada a exploração de trabalho
escravo. Um grupo de artistas tem presença confirmada na cerimônia, entre
eles Margareth Menezes, Alcione, Camila Pitanga e Letícia Sabatella. O objetivo
é comemorar a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 57A/1999,
que teve a unanimidade dos senadores na semana passada, após tramitar durante
15 anos no Congresso Nacional.
A área
jurídica também deve comparecer ao evento, marcado para as 12h, como
representantes do Tribunal Superior do Trabalho, da Associação dos Magistrados
Brasileiros e do Ministério Público do Trabalho. Foram convidados também
movimentos sociais que participaram da criação da emenda, entre eles a Comissão
Pastoral da Terra e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
A emenda constitucional já está
sendo comemorada por outros países na 103ª Conferência Internacional do
Trabalho, que ocorre até a próxima semana em Genebra. “É algo avançado em
termos de legislação, que nos coloca na conferência em uma situação bastante
diferenciada em termos mundiais. O Brasil é um dos primeiros países a ter na
Constituição a questão da expropriação da propriedade, do bem, quando
caracterizado e comprovado o trabalho escravo”, diz a ministra Ideli Salvatti,
da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Ela
considera a proximidade da conferência uma das principais motivações para a
aprovação do texto. A demora na tramitação da PEC fez com que a Fundação Walk
Free recomendasse ao Brasil a aprovação da proposta, sugerindo medidas
preventivas e de proteção acerca da exploração de mão de obra.
Com a emenda, as terras urbanas e rurais em que sejam verificadas condições de
trabalho escravo serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a
programas de habitação popular, sem que o proprietário tenha direito a
indenização. A mudança, no entanto, não terá resultados práticos antes de ser
regulamentada, processo que deve causar disputa quanto ao conceito de trabalho
escravo, aos critérios para a expropriação e aos recursos legais.
Em entrevista à Agência Brasil, Ideli
Salvatti considerou que o que já está previsto na legislação brasileira deve
servir de base para a regulamentação. Refere-se, dessa forma, ao Artigo 149 do
Código Penal, que prevê pena de dois a oito anos de prisão a quem reduzir
qualquer pessoa à condição análoga à de escravo ou sujeitá-la a condições
degradantes de trabalho e a jornada exaustiva. Segundo ela, o “lógico” é que,
ao aprovar a regulamentação, não haja retrocessos.
É em
cima dessa legislação, entre várias outras propostas, que representantes de 185
países-membros da Organização Internacional do Trabalho (OIT) trabalham, no
âmbito da conferência em Genebra, para aprovar um protocolo complementar à
Convenção 29 da OIT, que trata do trabalho forçado. Ideli Salvatti deve
representar o Brasil na votação final do texto, no próximo dia 11.
De
acordo com os dados da OIT, há em todo o mundo cerca de 20 milhões de pessoas
vivendo em condições análogas à escravidão, movimentando anualmente US$ 150
bilhões. Esse dado, segundo a ministra, é o ponto-chave a ser combatido com a
nova emenda, já que ao expropriar as terras, o proprietário terá impactos
econômicos, o que contribui para a eficiência da política.
No
Brasil, 46.478 trabalhadores foram resgatados de condições de trabalho escravo
desde 1995, por meio de equipes móveis que levam auditores do trabalho, agentes
da Polícia Federal e procuradores do Ministério Público do Trabalho para
fiscalizar e flagrar esse tipo de situação. Nos últimos cinco anos, cerca de
2.700 trabalhadores foram resgatados após a inspeção anual de mais de 310
estabelecimentos, em média.
Ideli
Salvatti também cita outra política que vem sendo desenvolvida de modo
eficiente no combate à prática: a “lista suja”, que detalha as empresas que
comprovadamente utilizam trabalho escravo, e as proíbe de receber financiamento público. A
relação é atualizada duas vezes ao ano e atualmente tem 568 empregadores.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário