Procuradores pedem indenização de R$ 300 mil por dano moral coletivo
O deputado Jair Bolsonaro discursou no clube Hebraica Rio - Reprodução |
RIO —
Ministério Público Federal entrou nesta segunda-feira com ação civil pública
contra o deputado federal Jair Bolsonaro por danos morais coletivos às
comunidades quilombolas e à população negra em geral. Em palestra no Clube
Hebraica, em Laranjeiras, no Rio, no início do mês, o deputado disse: "Fui
num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem
nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por
ano é gastado com eles".
A ação pede indenização de R$ 300 mil pelos danos morais coletivos
causados ao povo quilombola e à população negra em geral, a ser revertida em
projetos de valorização da cultura e história dos quilombos, a serem indicados
pela Fundação Cultural Palmares.
Os procuradores Ana Padilha e Renato
Machado sustentam que o deputado “utilizou informações distorcidas, expressões
injuriosas, preconceituosas e discriminatórias com o claro propósito de
ofender, ridicularizar, maltratar e desumanizar as comunidades quilombolas e a
população negra”.
Para os procuradores, a fala de
Bolsonaro desumaniza as pessoas negras, retirando-lhes a honra e a dignidade ao
associá-las à condição de animal.
“Com base nas humilhantes ofensas, é
evidente que não podemos entender que o réu está acobertado pela liberdade de
expressão, quando claramente ultrapassa qualquer limite constitucional,
ofendendo a honra, a imagem e a dignidade das pessoas citadas, com base em
atitudes inquestionavelmente preconceituosas e discriminatórias, consubstanciadas
nas afirmações proferidas pelo réu na ocasião em comento”, concluem os
procuradores na ação.
Bolsonaro é alvo de processos na Câmara
por incitação ao estupro e apologia à ditadura militar. Durante seu discurso na
Hebraica, o deputado disse também que, se for eleito presidente em 2018, todo
cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Além disso, Bolsonaro afirmou
que não vai ter "um centímetro demarcado" para reservas indígenas,
caso seja eleito.
Em uma outra parte do discurso, ele
afirma que ter tido uma filha mulher, depois de ter quatro homens, foi fruto de
uma "fraquejada".
O convite para Bolsonaro palestrar veio do presidente do clube no Rio, Luiz Mairovitch, após o deputado ter sido vetado em evento similar no clube de São Paulo, após polêmica entre integrantes da comunidade.
MANIFESTANTES PROTESTARAM DO LADO DE FORA
Durante a palestra do deputado na
segunda-feira, um grupo de
cerca de 150 pessoas da comunidade judaica protestou em frente à Hebraica, em
Laranjeiras, gritando palavras de ordem como: "Judeu e sionista
não apoia facista" e "quem permite torturar se esquece da shoá".
Em um dos momentos mais fortes do
protesto, articulado por movimentos juvenis da comunidade judaica, uma pessoa
gritou nomes de judeus mortos na ditadura, como o jornalista Vladimir Herzog e
a psicóloga Iara Iavelberg, e os manifestantes respondiam: presente.
O Globo
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